Bebidas alcoólicas afetam taxa de filtração glomerular mais no sexo feminino do que no masculino
O consumo moderado de álcool é demonstrado em estudos como um fator de associação inversa à mortalidade quando comparado ao consumo nulo ou excessivo. Mas, quando o assunto é função renal, as pesquisas ainda apresentam resultados inconsistentes sobre a influência das bebidas alcóolicas tanto nos indivíduos em geral, quanto em diferentes gêneros.
Compreendendo a necessidade de explorar o papel do álcool na função renal, como medida de prevenção ao desenvolvimento de doença nesse órgão e comorbidades associadas como doenças cardiovasculares, um estudo reuniu as informações obtidas em check-ups anuais de saúde de 42.833 pessoas que frequentavam um hospital no Japão.
Consumo de álcool e taxa de filtração
glomerular
Desse grande grupo, após as exclusões por informações incompletas, restaram 26.788 participantes com idade acima de 20 anos (19.702 homens e 7.086 mulheres) e com função renal normal (sem proteinúria e taxa estimada de filtração glomerular ≥ 60 mL/min/1,73 m²).
Dessas pessoas foram obtidos dados sobre idade, sexo, índice de massa corporal (IMC), pressão arterial sistólica e diastólica, níveis de colesterol total, triglicérides, hemoglobina glicada, eTFG (taxa estimada de filtração glomerular), nível de proteína urinária, estilo de vida (consumo de álcool e tabagismo fumante passado e fumante atual) e tratamento atual para comorbidades na linha de base (hipertensão, hiperlipidemia, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares) entre janeiro de 2010 e março de 2015.
Para saber sobre o consumo de álcool, os participantes respondiam a 2
perguntas: “Quantas vezes você bebe bebidas alcoólicas: todos os dias, 5-6
dias/semana, 3-4 dias/semana, 1-2 dias/semana, algumas vezes/mês, ou
raramente/não pode” e “Quantas bebidas alcoólicas você bebe nos dias que você
bebe: sem consumo, < 1 dose por dia; 1 dose por dia; 2-3 doses por dia; ou ≥
3 doses por dia?”. A dose no Japão é definida como 180 mL de saquê japonês ou
23 g de etanol.
E a partir das possíveis respostas para a primeira pergunta, utilizando
um estudo anterior, os pesquisadores atribuíram uma pontuação: 7 para todos os
dias, 5,5 para 5-6 dias/semana, 3,5 para 3-4 dias/semana, 1,5 para 1-2
dias/semana, 0,5 para algumas vezes/mês, e 0 para raramente/não pode. O período
observacional para análise dos efeitos se deu entre esse primeiro check-up até
o primeiro desenvolvimento dos níveis de eTFG de < 60 mL/min/1,73 m² e uma
redução de 25% em relação ao eTFG de linha de base ou à última medição do eTFG
antes do final de dezembro de 2018, o que ocorresse primeiro.
Resultados
Tanto entre os participantes do sexo masculino quanto feminino, os não
bebedores representavam a maioria da população, n = 7352 (37,3%) e n = 4017
(56,7%), respectivamente. Seguidos por aqueles com níveis de consumo < 23
g/dia [ Homens n = 6337 (32,2%) e Mulheres n = 1952 (27,5%)]. Maior consumo de
álcool tende a ser mais frequente em pessoas mais velhas, fumantes,
dislipidêmicas, recebendo tratamento para hipertensão e diabéticas.
A quantidade diária de consumo de álcool foi maior no sexo masculino do
que no sexo feminino (7 (0-28) g e 0 (0-8) g em homens e mulheres,
respectivamente)z. E durante o período observacional de 3-6 anos, 1993 homens
(10,1%) desenvolveram proteinúria (≥
1 +), enquanto entre as mulheres, durante um período observacional de 2-5 anos,
462 participantes (6,5%) desenvolveram proteinúria (≥ 1 +).
No entanto, a incidência de baixa eTFG foi maior nas mulheres, 264
participantes (3,6%) apresentaram queda nessa funcionalidade durante o período
de observação, enquanto apenas 3,4% dos homens demonstraram redução da eTFG. O
consumo de álcool de ≥ 46 g/dia esteve significativamente associado à
incidência de proteinúria nas mulheres, mas, entre os homens não foi possível
encontrar essa associação com igual relevância.
Conclusão
Segundo essa pesquisa, mulheres que consomem grandes quantidades de bebida alcoólica apresentam maior suscetibilidade para desenvolver doenças renais. Por isso, é importante que esse consumo seja avaliado e incentive-se à redução e moderação para evitar possíveis desfechos negativos em relação à função renal.
Fonte: https://nutritotal.com.br/pro/alcool-e-funcao-renal/?utm_campaign=nutrimail_16-06-22&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
Referência
Tanaka, A., Yamaguchi, M., Ishimoto, T. et al. Association of alcohol consumption with the incidence of proteinuria and
chronic kidney disease: a retrospective cohort study in Japan. Nutr
J 21, 31 (2022). https://doi.org/10.1186/s12937-022-00785-x
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