Para Marcelo
Ribeiro, especialista no assunto, é preciso ter coragem, resiliência, vontade
de aprender e se abrir para as mudanças
Falar sobre Diversidade e Inclusão ainda é algo
relativamente novo na sociedade e nas empresas. As discussões mais profundas
sobre o tema começaram a ganhar corpo nos últimos anos, o que pode ser
traduzido em alguns avanços sutis nessa linha.
De acordo com o Diversity Matters: Latin American,
feito pela McKinsey, em 2020, um dos indicadores apontou que empresas com maior
equidade de gênero têm 93% mais chances de um resultado financeiro superior às
empresas “não diversas”. O estudo destacou que companhias que trabalham a
diversidade étnico-cultural são 24% mais propensas a terem um melhor resultado.
E em relação ao tópico orientação sexual, o potencial é de 15%.
Esses dados apontam os benefícios da adoção da
diversidade e inclusão no mundo empresarial, principalmente em um momento no
qual, mais do que nunca, a convivência com pessoas diversas se tornou ainda
mais intensa, seja em gênero, raça/etnia, orientação sexual, entre tantos
outros parâmetros.
Para Marcelo Ribeiro, sócio da EXEC - empresa
focada na busca, seleção e desenvolvimento de organizações, conselhos e
executivos - e responsável pela área de Diversidade e Inclusão da consultoria,
os brasileiros nasceram em uma sociedade historicamente machista, racista,
“LGBTfóbica” e capacitista. “Eu entrei de cabeça nesse mundo para entender como
é possível ajudar as pessoas a conviver com as diferenças. Vivi alguns desses
preconceitos na pele por conta da minha orientação sexual. Ser gay era visto
como errado e esquisito”, conta.
O papel da liderança
Trazendo esse contexto para dentro das empresas,
Ribeiro ressalta a importância do papel da liderança. “Na verdade, a gente
transforma a cultura de uma empresa trabalhando junto com as lideranças – e não
para elas. As pessoas tendem a aceitar a mudança quando sentem que pertencem a
algum lugar ou a um grupo e são convidadas a mudar junto”.
Ao longo de sua vivência em processos de mentoria e
coaching, o executivo fez uma identificação importante: a mudança começa no
respeito. “A partir do momento que percebo que o estilo do fulano é diferente
do meu, mas tem algo que eu posso aprender com ele e somar, isso é o que eu
chamo de respeito. Eu vejo e legitimo a outra pessoa”, analisa.
Por onde começar?
De acordo com o especialista da EXEC, para iniciar
a jornada de Diversidade e Inclusão dentro de uma companhia, além de atura
junto com a liderança, é preciso seguir alguns passos.
- Tenha
coragem para começar - O caminho não será fácil e terá muitos
desafios. “A primeira ação é entender em qual momento a empresa se
encontra atualmente. Está mais reativa a mudanças? Está aberta à inovação
e lida bem com a experimentação”, questiona Ribeiro.
Para ele, é importante ter essa radiografia para identificar qual é a intensidade do movimento que a empresa dá conta de fazer naquele momento.
- Defina
objetivos macro e aprofunde o mapeamento - “É preciso escutar as vozes
da organização: senso geral, entrevistas com o Comitê Executivo e grupos
focais com diferentes níveis da organização para a criação de um plano
rumo a esse ambiente mais inclusivo”, ressalta Ribeiro.
- Tenha
humildade para ser aprendiz - O sócio da EXEC alerta para a importância de
abrir a mente para escutar e dialogar. “O diálogo é um pilar importante
nesse caminho: eu falo o que eu penso, eu escuto o que você pensa e a
gente vai trocando e aprendendo junto”.
Segundo a filósofa e escritora negra Djamila Ribeiro, é preciso respeitar o
lugar de fala, pois sem isso não haverá troca.
- Seja
resiliente - A resiliência também é uma característica mais do que necessária
nessa trajetória, na visão de Ribeiro. “É preciso ter resiliência para
acolher perspectivas diferentes, para dialogar, pedir ajuda e se
comprometer com o autodesenvolvimento. Flexibilidade ajuda a melhorar a
abertura para aceitar a Diversidade. E a cada final de ciclo, é importante
fazer uma reavaliação e novas rodadas de melhorias”, recomenda.
- Invista
em mentorias - Segundo o especialista, as empresas que estão avançando mais rápido
têm times executivos recebendo mentoria para esclarecer dúvidas e
patrocinar o movimento de mudança. “Elas escutam mais as pessoas através
de pesquisas e em grupos focais para direcionar esforços com mais impacto,
incluem vozes diversas em palestras e diálogos e investem em programas
robustos de desenvolvimento em suas lideranças numa jornada rumo a um
ambiente inclusivo, que vai além do cumprimento de quotas e indicadores”.
Longa estrada
Para Ribeiro, o trabalho de inserir os princípios
de Diversidade e Inclusão nas empresas está apenas começando. “É bacana quando
a empresa se torna, de fato, diversa – os resultados e o clima melhoram, mas o
caminho é árduo”.
Toda transformação legítima começa dentro de cada
um, conforme reflete o sócio da EXEC. “Com autenticidade e coragem para me
posicionar, convido as pessoas a se abrirem para uma transformação coletiva,
apoiando na construção de ambientes mais inclusivos. Esse trabalho só está
começando, é uma jornada.
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