Como psicóloga e escritora, ao longo desses mais de
vinte anos de carreira, tive e tenho tido a grande oportunidade de conversar e
conhecer milhares de pessoas. Penso até que isso aconteceria mesmo que eu fosse
veterinária, por exemplo, ou economista. Porque eu simplesmente amo sentar com
alguém, formal ou informalmente, e desvendar esse ser humano na minha frente,
pensar no mundo de possibilidades que a pessoa possui e imaginar todas as
aventuras e desventuras vividas por essa rica alma que compartilha sua jornada
comigo. Sou muito grata, inclusive, por esta oportunidade de me conectar com
tantos que se dispõem a ter uma boa conversa comigo.
Tendo esse perfil falador e me dispondo a emprestar
meus ouvidos numa escuta ativa, não é nada raro que alguém comece a falar,
falar e falar comigo e quando menos percebemos as perguntas sobre ser humano e
o funcionamento da mente começam a surgir. Percebo claramente a necessidade que
a nossa espécie tem de se conhecer e desvendar quem realmente somos e qual é,
afinal, o propósito de nossa existência.
Bem, embora eu tenha certeza que todo arcabouço
filosófico existente ainda parece pouco para elaborar uma resposta
potencialmente suficiente para a questão, eu diria que a minha carreira e minha
vida me apresentou dois tipos de pessoas. Mas, por favor, não entendam essa
divisão binária que coloco aqui como o resumo de tudo que define o ser humano.
Minha intenção está longe disto. Eu compreendo e aceito as palavras de Edgar
Morin quando afirma que o ser humano é complexo. Tentar reduzi-lo ou
simplificá-lo, da forma que for, é um grande erro. Apenas, percebi a presença
de dois comportamentos, antagônicos entre si, na maioria das pessoas que
acompanhei ou simplesmente conversei.
Assim, para mim parecem existir “dois tipos” (para
efeito apenas didático) de pessoas, por assim dizer: aquelas que são donas de
suas vidas e existências tendo consciência de si, construindo seus caminhos e
forjando um caráter amadurecido diante das adversidades, vivendo e fazendo a
vida valer à pena de acordo com seus propósitos específicos; e aquelas que
vivem desnorteadas, sem entender bem a existência, perambulando pela vida
buscando, buscando, buscando, mas nada - absolutamente - encontrando! São
aqueles que têm um foco para o que está fora deles mesmos, para os outros, para
o que não têm. São aqueles que esperam que a vida chegue no ponto ótimo, no
momento do “agora vai”, mas que não estão a par da construção necessária para o
dia ótimo acontecer.
Os primeiros são pessoas felizes com aquilo que
possuem e com quem são. Porque são e têm exatamente aquilo que buscaram para
si. Eles construíram suas histórias e seus caminhos. Estes, são donos de suas
existências. Acordam todos os dias e planejam suas ações. Se querem fazer uma
poupança pensam no que precisam para isso acontecer, e depois determinam o dia
em que vão tornar esses pensamentos, uma realidade. Não são super-heróis, não.
São, apenas, pessoas normais, com vidas normais, que experimentam frustrações e
têm problemas normais para resolver. Porém, essas são pessoas congruentes e
ativas que parecem conhecer o conceito de construção pessoal e viver de acordo
com este. São aqueles e aquelas que arquitetam seu futuro, com fé, fazendo o
que lhes é devido para que tudo aconteça conforme planejam. Eles se se constroem
e reconstroem com mais facilidade que outros.
Diferentemente destes primeiros, as demais pessoas,
os perambulos como gosto de dizer, são aqueles que vivem uma vida meio
desnorteada, realmente perambulando de um lado para o outro, de um projeto para
o outro, de uma vida para outra. São aqueles que se tornam reféns de
terceiros com facilidade, que se submetem a qualquer coisa, que tantas vezes
abre mão de si (não por amor, ou pela boa convivência o que deve acontecer)
sempre para que o outro o admire, goste dele ou apenas esteja com ele. Às vezes
não possuem valores e princípios sólidos (muitos nem receberam dos seus pais/
cuidadores), não têm noção de suas potencialidades e, por vezes, de suas
responsabilidades. Parecem pessoas, em maior ou menor grau, alienadas da
existência, vivendo como eternas crianças dependentes emocionais, imaturas e
sem o mínimo de resiliência necessária para enfrentar as adversidades.
Geralmente, são pessoas que brincam com os anos. Não se dão conta de que a vida
é uma construção e o que se constrói hoje será o que se terá para viver amanhã.
Os perambulos não acreditam em si mesmo, são vulneráveis e não têm
confiança e amor por si. Ao contrário, precisam ser validados e quando isso não
acontece, eles sucumbem. São, definitivamente, aquelas pessoas deslocadas no
mundo, vulneráveis emocionais, exercendo, por vezes, uma vida funcional, mas
ainda assim, perdidos em suas emoções e crenças.
Posso dizer que sou parte do grupo dos que
constroem suas jornadas. E não apenas por experiencia própria (pois é
maravilhoso poder pensar que que sou alguém importante, um instrumento de
transformação de vidas, entre tantas outras coisas), mas por ver inúmeros casos
de sofrimento diante da perambulação na vida, eu acredito que é mais saudável (e
veja, não estou dizendo que seja mais fácil) ser parte do primeiro grupo de
pessoas.
Eu gosto, e acredito, muito de uma frase de Platão
que diz: “a primeira e maior vitória (do ser humano) é a conquista de si
mesmo”! Quão preciosas e fortes são essas palavras. Uma poesia para meus
ouvidos. Conquistar a si mesmo está relacionado ao processo de construção de
si. É uma arquitetura pessoal! Simbolicamente falando, acredito que nada
poderia completar mais as palavras de Platão que a obra escultural de Bobby
Carlyle, chamada “Self made man” (expressão usada para traduzir um
empreendedor, mas que literalmente significa o homem que se faz, que se
constrói). Eu acredito que se apropriar da existência é possível e é
demasiadamente importante. Passar pela vida, é deixar um legado, algo
construído. Mas, o que deixar quando nem mesmo a própria existência fez
sentido?
O apanhado que faço disso tudo, é que nós devemos
lutar pela nossa existência. Devemos colocar o foco dentro de nós, no
autoconhecimento, para podermos ter atitudes condizentes com uma vida
proposital, uma vida que faz diferença no mundo, não importando o tamanho desse
legado.
Mas, para se arquitetar, é preciso ter fé pelo
caminho. Fé em si mesmo, fé na vida e principalmente fé em Deus. Tem um verso
bíblico que diz: “porque se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este
monte, passa daqui para lá, e há de passar; e nada vos será impossível” (Mateus
17:20).
O homem que se lapida parece resoluto, cheio de
determinação em sua construção, não? Parece fazer parte do primeiro grupo de
pessoas, as que enfrentam as lapidadas da vida (por vezes dadas por nós mesmos
como a escultura sugere), não acha? E você? A qual grupo pertence? Você tem
construído sua vida ou sido refém do tempo e da estagnação?
Tudo que espero e desejo é que este texto te leve a
uma reflexão que culmine na descoberta de seus potenciais, qualidades, arestas
a lapidar... e que você lapide com vontade! De modo que tenha a grande vitória
de conquistar a si mesmo!
Silvia Queiroz - Psicóloga Clínica, Especialista em
Gestão Estratégica de Pessoas, Mestre em Teologia, Coach e Analista DISC pela
SLAC, Escritora, Palestrante e Membro Toastmasters Internacional. www.silviaqueiroz.com.br
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