Doença que pode
motivar cegueira reversível é a maior causa de transplantes de córnea no Brasil
Em tempos de pandemia, muito se fala em não colocar
as mãos no rosto. Mas quando um cisco cai nos olhos ou surge uma sensação de
coceira, a reação mais comum é a de esfregar a região para diminuir o incômodo.
Pois esse hábito que parece ser inofensivo pode não somente tornar os olhos
porta de entrada para o novo coronavírus (Covid-19), como também ser
responsável pelo surgimento de problemas oculares, como o ceratocone, doença
que é o tema da campanha Junho Violeta promovida por profissionais da saúde e
cujas estatísticas da literatura especializada mostram, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Oftalmologia, a incidência de um caso para cada duas
mil pessoas.
O ceratocone é uma enfermidade não inflamatória que
afeta a estrutura da córnea, camada fina e transparente que recobre toda a
frente do globo ocular. É uma patologia que deforma a córnea, fazendo com que
ela afine e fique com formato de um cone. Essa alteração na curvatura impede a
projeção de imagens nítidas na retina e pode promover o desenvolvimento de grau
elevado de astigmatismo irregular ou mesmo miopia.
Entre os sintomas do ceratocone estão visão
embaçada, imagens "fantasmas", visão dupla, dor de cabeça e coceira.
Começa com a dificuldade para enxergar de perto e a sensibilidade à luz. Embora
os sinais sejam muito semelhantes aos de outros problemas que acometem os
olhos, o oftalmologista André Ruppert, do HCLOE, empresa do Grupo Opty explica
que a piora na visão tende a ser mais rápida, fazendo com que o paciente troque
de óculos e lentes com mais frequência. “É muito importante que, nesse momento
que vivemos, os pacientes diagnosticados não deixem de seguir o tratamento e
continuem com o acompanhamento médico. E pessoas que sintam incômodos e a
redução da visão consultem um oftalmologista para identificar a causa”, afirma
o médico.
Causas e diagnóstico – O
ceratocone surge entre os 10 e 25 anos de idade, mas pode progredir até os 40
anos ou estabilizar-se com o tempo. Além de uma tendência genética, alguns
hábitos também podem potencializar o aparecimento da enfermidade. “O estímulo
mais importante é a associação com alergia ocular. Coçar os olhos é o fator de
risco mais significativo para o desenvolvimento do ceratocone”, comenta o
oftalmologista do Grupo Opty.
Ainda de acordo com o Dr. Ruppert, especialista em
transplante de córnea, o diagnóstico pode ser feito pelo exame clínico nas
fases mais tardias ou por meio de exames como topografia computadorizada de
córnea (estudo da curvatura do órgão) e da paquimetria (análise de
sua espessura), que permitem identificar a doença nas fases mais precoces.
Tem cura? – O controle deve ser feito
com realização de exames específicos para avaliação de provável progressão a
cada quatro ou seis meses, dependendo da idade do paciente e do estágio
evolutivo do caso. De acordo com o Dr. Ruppert, o ceratocone pode levar à
cegueira reversível, ou seja, o paciente pode ter uma perda significativa da
visão, mas pode recuperá-la com os tratamentos atualmente disponíveis.
Dependendo do avanço da patologia, as principais
formas de reabilitação são a prescrição de óculos e adaptação de lentes de
contato rígidas corneanas ou esclerais, em casos mais leves. Já o crosslinking
é um método cirúrgico minimamente invasivo que vem se mostrando bastante
promissor, podendo até evitar a evolução da doença. “O procedimento consiste no
fortalecimento das fibras de colágeno, que representam as pontes de sustentação
da córnea, com o uso de radiação ultravioleta, associada a uma substância
chamada riboflavina, que aumenta a rigidez biomecânica da córnea”, explica o
médico.
Outras opções são o implante do Anel de Ferrara ou,
em último caso, a realização de transplante de córnea. “Os tratamentos estão
cada vez mais eficientes. Há novos tipos de anéis de Ferrara que trazem melhor
resultado pós-operatório e novidades nas técnicas de transplante de córnea,
como o DALK (transplante lamelar anterior profundo), que diminuem
consideravelmente as possíveis complicações cirúrgicas, principalmente a
rejeição ao transplante”, finaliza o oftalmologista do Grupo Opty. Em 2019,
conforme registra a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, foram
realizados 14.943 transplantes de córnea no País, sendo o ceratocone a maior
causa desse tipo de procedimento, de acordo com o Ministério da Saúde.
Opty
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