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quarta-feira, 24 de junho de 2020

A economia solidária pós-Covid-19



O calendário gregoriano, de origem europeia, mas utilizado oficialmente pela maioria dos países na atualidade, foi promulgado pelo Papa Gregório XIII em 24 de fevereiro de 1582 e divide a história da humanidade em Antes de Cristo e Depois de Cristo (A.C. e D.C.). Podemos profetizar que o comportamento humano também poderá ser dividido pelas mesmas siglas A.C. e D.C., que significarão “antes da Covid-19” e “depois da Covid-19”.

Com efeito, muitos hábitos – de consumo, de tratamento, de relacionamentos interpessoais, de viagens, de trabalho, de educação, de entretenimento e tantos outros de origem comportamental – sofrerão mudanças drásticas e irretrocessíveis após a Covid-19 e suas possíveis primas imundas (Covid-20, 21, 22...) que, certamente, ainda perturbarão a nossa existência e nossa fugaz passagem por essa aventura terrena.

As liberdades, garantias e direitos individuais serão relativizados, notadamente, no que se refere à geolocalização das pessoas em tempo real. O “Big Brother” de Houxley será definitivamente implantado.

“Nada mais será como antes no quartel de Abrantes”. As pessoas e as empresas terão de se reinventar para sobreviver, viver e conviver no novo normal que se instalará em nosso mundo.

Praticamente todos os setores da economia serão afetados. Talvez o de turismo, sobretudo no que concerne à lazer, hotelaria e gastronomia, venha a ser o mais prejudicado, fechando milhões de postos de trabalho e sepultando dezenas de milhares de CNPJs.

As empresas, especialmente as de transformação, abandonarão os modelos ‘just in time’ para o modelo ‘just in case’. As fortes dependências de mercados internacionais serão repensadas. Os Estados Unidos voltarão a ter chão de fábrica para depender menos da China e de outros tigres orientais. Há uma forte tendência para uma ‘ocidentalização’ de nossas parcerias e adoção de um pensamento político nacionalista e protecionista.

O mercado segurador deverá passar por uma drástica transformação. Os esforços hercúleos e corporativos para ‘preservar a longevidade sustentável dos modelos tradicionais e conservadores’ não serão suficientes ante a força transformadora do mercado que exigirá novas práticas e novos conceitos. Nada provoca mais transformações nos mercados e nas pessoas do que uma guerra ou uma pandemia. Após tais eventos desastrosos e catastróficos, as pessoas tendem a uma economia solidária e reconstrutiva. Nessa senda de mudanças, os seguros do tipo ‘peer to peer’, ‘pay per use’, ‘clubes de P&I’ e mutualistas deverão se sobrepor às matrizes e matizes atuais do mercado segurador como um todo.

Os modelos solidários e participativos, como o cooperativismo, o associativismo e o mutualismo deverão se robustecer e se consolidar no mercado brasileiro.
Bem-vindos, novos humanos, ao novo mundo que se desenha.




Raul Canal - presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), é advogado, especialista em Direito Médico, Securitário e da Saúde, escritor e apresentador de TV. É ainda presidente do Supremo Conselho Internacional Acadêmico da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas, membro da Associación Latinoamericana de Derecho Médico (San José de Costa Rica) e membro da World Association of Medical Law (Los Angeles, Califórnia, EUA).

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