O calendário gregoriano, de origem europeia, mas
utilizado oficialmente pela maioria dos países na atualidade, foi promulgado
pelo Papa Gregório XIII em 24 de fevereiro de 1582 e divide a história da
humanidade em Antes de Cristo e Depois de Cristo (A.C. e D.C.). Podemos
profetizar que o comportamento humano também poderá ser dividido pelas mesmas
siglas A.C. e D.C., que significarão “antes da Covid-19” e “depois da
Covid-19”.
Com efeito, muitos hábitos – de consumo, de
tratamento, de relacionamentos interpessoais, de viagens, de trabalho, de
educação, de entretenimento e tantos outros de origem comportamental – sofrerão
mudanças drásticas e irretrocessíveis após a Covid-19 e suas possíveis primas
imundas (Covid-20, 21, 22...) que, certamente, ainda perturbarão a nossa
existência e nossa fugaz passagem por essa aventura terrena.
As liberdades, garantias e direitos individuais
serão relativizados, notadamente, no que se refere à geolocalização das pessoas
em tempo real. O “Big Brother” de Houxley será definitivamente implantado.
“Nada mais será como antes no quartel de Abrantes”.
As pessoas e as empresas terão de se reinventar para sobreviver, viver e
conviver no novo normal que se instalará em nosso mundo.
Praticamente todos os setores da economia serão
afetados. Talvez o de turismo, sobretudo no que concerne à lazer, hotelaria e
gastronomia, venha a ser o mais prejudicado, fechando milhões de postos de
trabalho e sepultando dezenas de milhares de CNPJs.
As empresas, especialmente as de transformação,
abandonarão os modelos ‘just in time’ para o modelo ‘just in
case’. As fortes dependências de mercados internacionais serão
repensadas. Os Estados Unidos voltarão a ter chão de fábrica para depender
menos da China e de outros tigres orientais. Há uma forte tendência para uma
‘ocidentalização’ de nossas parcerias e adoção de um pensamento político
nacionalista e protecionista.
O mercado segurador deverá passar por uma drástica
transformação. Os esforços hercúleos e corporativos para ‘preservar a
longevidade sustentável dos modelos tradicionais e conservadores’ não serão
suficientes ante a força transformadora do mercado que exigirá novas práticas e
novos conceitos. Nada provoca mais transformações nos mercados e nas pessoas do
que uma guerra ou uma pandemia. Após tais eventos desastrosos e catastróficos,
as pessoas tendem a uma economia solidária e reconstrutiva. Nessa senda de
mudanças, os seguros do tipo ‘peer to peer’, ‘pay per use’,
‘clubes de P&I’ e mutualistas deverão se sobrepor às matrizes e matizes
atuais do mercado segurador como um todo.
Os modelos solidários e participativos, como o
cooperativismo, o associativismo e o mutualismo deverão se robustecer e se
consolidar no mercado brasileiro.
Bem-vindos, novos humanos, ao novo mundo que se
desenha.
Raul Canal - presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico
e Bioética (Anadem), é advogado, especialista em Direito Médico, Securitário e
da Saúde, escritor e apresentador de TV. É ainda presidente do Supremo Conselho
Internacional Acadêmico da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas,
membro da Associación Latinoamericana de Derecho Médico (San José de Costa
Rica) e membro da World Association of Medical Law (Los Angeles, Califórnia,
EUA).
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