Exame de Papanicolau muitas vezes é visto como questionável Créditos: divulgação |
Método molecular
já é utilizado em países mais desenvolvidos e dispensa repetição anual
Uma pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC) mostrou que, apesar de saberem os riscos que doenças
ginecológicas podem acarretar à saúde, 52% das mulheres brasileiras não
realizam exames preventivos, capazes de detectar doenças como o câncer de colo
de útero. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse tipo de
câncer é o terceiro que mais atinge a população feminina no Brasil e quarta
maior causa de morte por câncer.
Enquanto alguns subtipos de HPV predispõem ao
desenvolvimento de tumores malignos, sendo o contato sexual sem proteção a
principal fonte de infecção, outros estão relacionados à ocorrência de verrugas
em diferentes partes do corpo. O exame mais comum para identificar a presença
do HPV é o exame de Papanicolau, que conforme recomendações do Ministério da
Saúde, deve ter seu início aos 25 anos. Após dois exames anuais consecutivos
com resultados negativos, a periodicidade muda para três anos, até os 64 anos
completos. Mas, sozinho, o exame apresenta eficácia suficiente?
Apesar de, até o momento, não se observar diferença
na mortalidade, este rastreamento poderia ser melhorado: o fato de consistir em
um esfregaço, ou seja, coletar apenas uma parte de material do colo uterino, o
exame de Papanicolau muitas vezes é visto como questionável. Segundo o
ginecologista e obstetra Jan Pawel Andrade Pachnicki, professor do curso de
Medicina da Universidade Positivo, podem haver lesões cancerosas presentes em
regiões que não são coletadas durante o exame: “células do canal do colo
uterino, por exemplo, podem ter seu diagnóstico retardado”. Para melhor
detecção e precisão, especialistas desenvolveram um teste molecular que é capaz
de identificar o DNA de diferentes tipos de HPV. Homens e mulheres podem
desenvolver doenças relacionadas ao vírus, que já somam mais de 200 tipos,
sendo que aproximadamente 40 podem desencadear infecções no epitélio do trato
anogenital masculino e feminino. “O HPV é mais comum do que se pensa. De 75 a
80% das mulheres entram em contato com o vírus em algum momento da vida. Como
ele pode ficar latente por mais de 15 anos, a detecção precoce pode evitar
complicações e o acompanhamento ginecológico e exames são necessários”, alerta
o médico.
O Papanicolau detecta alterações citopatológicas a
partir do raspado celular, não identificando o vírus em si (o que poderia ser
feito pelo exame molecular), mas as alterações morfológicas celulares a ele
relacionadas. Além de apresentar resultados mais completos, mais sensíveis e
reduzir o erro humano, uma vez que o diagnóstico é automatizado, Pachnicki diz
que com um resultado negativo no teste molecular, a mulher pode ficar de três a
cinco anos isenta de repetir o procedimento. “A coleta é semelhante à do exame
de Papanicolau, feita com uma escovinha inserida pela vagina da paciente. A
diferença é que no exame molecular a análise é feita por um equipamento,
enquanto no Papanicolau a amostra é analisada diretamente na lâmina”, explica o
ginecologista.
Uma grande vantagem do exame molecular é a
possibilidade de identificar o causador da doença antes de se observar danos
nas células. Mesmo na ausência de qualquer sinais e sintomas, o indivíduo é um
potencial transmissor do vírus, e, sabendo que a paciente é portadora de
determinado subtipo viral, é possível seguir com um acompanhamento mais
frequente e alertá-la sobre essa capacidade de transmissão.
Apesar de estar cada vez mais conhecido do meio
médico e integrar o rol de procedimentos obrigatórios da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS), o exame molecular ainda não é aplicado como
rastreamento de rotina no Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, somente
portadores de planos de saúde podem usufruir do exame sem ter que investir a
mais. “Acredito que a utilização do método poderia reduzir custos com exames
anuais e apresentaria resultados precisos, permitindo que os médicos pudessem
iniciar o tratamento adequado de forma correta”, conclui o médico.
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