Estereotipias ajudam o autista a se organizar, mas
devem ser tratadas quando colocam a vida em risco ou trazem prejuízos.
Esclarecimento ajuda a combater o preconceito.
A campanha #Esefosseseufilho corre nas
redes sociais com relatos de pais de autistas que sofrem preconceito,
especialmente nos dias em que o filho não está tão bem e se manifesta com
gritos e movimentos agitados. A campanha inclui a interpretação por parte de
atrizes de alguns desses relatos, como a da mãe que estava no elevador quando o
filho começou a balançar o corpo e mexer as mãos. Outra criança que estava no
local perguntou o que ele tinha, ao que sua mãe respondeu: “Não sei, filha, ele
deve ter algum problema. Não chega perto, não.” A mãe até desceu no andar
errado, de tão chateada, e pergunta: “E se fosse seu filho, como você se
sentiria?”
Além de sofrer preconceito, a pessoa que
apresenta movimentos repetitivos muitas vezes é contida, reprimida. Mas esses
hábitos podem ser benéficos para momentos de ansiedade, ajudando o paciente a
liberar tensão, organizar informações do ambiente e sentir-se mais calmo.
As estereotipias, como são chamados esses
movimentos, se apresentam normalmente nos Transtornos do Espectro Autista (TEA)
e síndromes como a de Tourette, manifestando balanço do corpo, da mão,
movimentos da boca, entre outros.
“O movimento repetitivo chama muito a
atenção, mas também são classificados como estereotipias falas e tipos de
linguagem muito excêntricos para a idade e contexto ou até mesmo rotinas muito
rígidas”, exemplifica a psicóloga Giulianna Kume, do Centro de Excelência em
Recuperação Neurológica (CERNE).
As estereotipias voltadas à linguagem são
denominadas ecolalias, e se referem às palavras ou frases repetidas e,
muitas vezes, desconectadas da situação. Essas repetições podem ser imediatas,
logo após o paciente ter ouvido aquela informação, ou tardia, quando se refere
a situações ouvidas anteriormente. “O autista geralmente fala ou canta coisas
que ouviu, mas fora do contexto”, explica a psicóloga.
Em muitos casos, esses são movimentos
autorregulatórios, ou seja, uma forma pela qual a pessoa se organiza. E é
preciso ter cuidado ao avaliar a necessidade de conter esse hábito. “Muitas
vezes não é legal interromper, pois a pessoa irá sentir isso como uma punição.
Por exemplo, segurar a mão que ela está balançando”, alerta Giulianna.
E quando esses movimentos repetitivos
precisam ser tratados? Quando eles atrapalham a vida da pessoa, trazendo
prejuízo ou quando sua vida está sendo colocada em risco.
Muitas vezes, basta dar um direcionamento
a esse hábito, já que costuma ocorrer quando a pessoa está ociosa ou ansiosa, e
desaparecer num momento de engajamento em atividades. É preciso identificar a
função desse movimento, em que contexto ele mais acontece e tentar interferir
em sua motivação, ou mesmo redirecionar o ato para algo mais funcional”,
explica Giulianna.
Esses comportamentos, além de
repetitivos, tendem a ser rígidos e invariáveis, ocorrendo em situações
inapropriadas. “A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) atua ampliando os
repertórios de comportamento e intervindo em variáveis que o tornam mais
provável de ocorrer”, complementa a psicóloga.
Por exemplo, gritos altos podem ser
trocados por falas mais aceitáveis socialmente. Em alguns casos, a criança com
movimentos dessa natureza perde oportunidades de aprendizado. Nesses casos, é
possível buscar a redução da ocorrência. Vale destacar que é a partir dos dois
anos que surgem essas manifestações.
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