Na nossa juventude, nunca paramos para
pensar sobre as dificuldades dos nossos pais e no seu envelhecer. Como foi a
chegada aos 50, quando começam alguns probleminhas de saúde aqui e acolá? Como
foi a sensação da mãe ao entrar na menopausa? Como foi o sentimento do pai ao
se aproximar do tempo da aposentadoria? Como eles passaram a se enxergar no
espelho com rugas de expressão e não podendo mais fazer o que faziam quando
eram muito jovens?
Pois é, quando somos somente filhos, e
jovens, não pensamos sobre nada disso. Aliás, nem teria como. Esse mundo
descrito acima ainda não nos pertence. No “Fantástico Mundo de Bob” todas essas
questões, se sequer mencionadas, nos parecem totalmente fora do nosso alcance.
No entanto, a idade chega para nós também e então, ao passarmos por essas
mesmas questões, finalmente olhamos para os nossos pais, e eles agora estão bem
mais velhos. E agora, fora do mundo de Bob, podemos avaliar que vamos chegar no
mesmo patamar onde eles estão, mais rápido do que imaginávamos. Mas, antes e
por isso, precisamos cuidar deles. É a nossa vez. E aí começam os problemas.
Quem vai cuidar? Irmãos geralmente tem
uma tendência a tratar o assunto da seguinte maneira: um(s) cuida mais e o
outro (s), infelizmente, menos ou nada. As desculpas são um rosário: não tenho
tempo, trabalho demais, a minha irmã sabe cuidar melhor que eu, minha esposa(o)
não fica feliz quando faço isso, papai sempre gostou mais dele do que de mim,
não tenho espaço na minha casa, meu pai tem alergia a cachorros e eu tenho um,
minha mãe não sobe escada e moro num prédio sem elevador, e o rosário se desfia
em contas sem fim.
Bem, alguém tem que cuidar. É mais que
nosso dever moral cuidar de quem cuidou de nós. E se um só da família cuida e
sente-se sobrecarregado, há mil e uma possiblidades de os outros ajudarem,
desde que estabeleçam entre si um diálogo aberto e tenham boa vontade. Contudo,
esse diálogo, na maioria das vezes, vem truncado de agressividade, e está
fadado ao fracasso se as pessoas não tiverem uma personalidade muito
equilibrada para lidar com o assunto.
Nessa situação encontramos, hoje, uma
seara fértil para o trabalho de um mediador. Exatamente no tema da alienação
parental, ou seja, do abandono dos pais, por parte dos filhos, ou de um ou
algum deles, existe uma gama enorme de possibilidades que podem ser trabalhadas
para que todos possam, à sua maneira, colaborar para que a velhice dos pais
seja mais confortável, e que eles, como filhos, também se sintam mais
confortáveis. Porque deixar de ajudar traz culpa e culpa traz tristeza. Então
melhor resolver. Vale a pena mediar esse tipo de questão.
Melhor acolher isso no coração como uma
questão, na qual você como filho vai fazer seu melhor para dividir as tarefas
que cabem a todos. Melhor que tudo seja resolvido, porque haverá mais paz e
união para a família. Assim, no dia que os pais partirem, a alma estará leve, e
o filho poderá sentir-se seguro que cumpriu seu dever, e que seu filho fará o
mesmo por ele, porque pelo exemplo se ensinou. E é pelo amor que se conduz a
vida, cada um fazendo o seu melhor, e fazendo o seu melhor tudo acaba bem.
Lia
Marchiori - mediadora do Instituto Alleanza, capacitada pela Harvard Law School
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