Hoje em dia, uma das palavras mais recorrentes no
mundo corporativo é “empatia”. Definida popularmente como “a capacidade de se
colocar no lugar do outro”, as empresas, os jornais, os livros “modinhas” e os
coaches têm se apropriado dessa palavra para promover uma dinâmica de trabalho
colaborativa nas empresas, que supostamente geraria certa felicidade,
motivação, bem-estar no ambiente de trabalho, entre outras coisas.
Parece que a palavra “empatia” foi evocada no mundo
corporativo junto com a demanda da inclusão social e da igualdade, essas, por
sua vez, de extrema importância e urgência em nossa sociedade. Entretanto, a
forma com que o mundo corporativo tem pensado e agido na implantação tanto da
empatia quanto da inclusão social parece responder a uma lógica cartesiana,
pautada pelas normas, leis, etc., e que não percebe o bullying, o assédio e a
discriminação que acontece dentro da empresa entre colegas, pois isso não é
revelado nos números e gráficos sobre responsabilidade social das corporações.
A empatia não é um instrumento. Em seu livro “A Era
da Empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil”, Frans de Waal
mostra que a empatia é uma condição humana. Hoje se tem falado da empatia como
se nós, seres humanos, não fôssemos empáticos. Uma das características que nos
manteve vivos e resilientes desde os tempos mais primevos foi o gregarismo (a
vida em grupo), cujo um dos cimentos é a própria empatia.
Talvez nós repetimos tanto a frase “empatia é se
colocar no lugar do outro” que esquecemos o que realmente ela é. Mas, acredito
que essa frase esteja errada, pois a empatia não é lógica. Uma pessoa não
precisa pensar, refletir e filosofar sobre estar no lugar do outro. Basta
conviver (no sentido de viver juntos e não suportar). A empatia não passa pelo
crivo da racionalidade. É mais do que se sentir no lugar do outro, pois isso
seria somente julgar ou entender o outro a partir da nossa lógica e das nossas
experiências. Empatia é estar na pele do outro, e assim sentir o mundo a partir
do outro, de seu lugar, de suas experiências, de suas verdades.
A empatia nos faz perceber a complexa rede que liga
cada ser humano e entender que, na verdade, somos um só, colaborando:
“co-laborando”, ou seja, trabalhando juntos para um fim que beneficie a todos.
Pergunto se, neste mundo Hobbesiano em que “o homem é o lobo do homem”, ou seja,
é extremamente competitivo, e as empresa visam o lucro e nada mais, se existe
uma honesta empatia, inclusão e igualdade. Talvez tenhamos que pensar em uma
nova lógica econômica. Uma lógica pautada pela frase de Boaventura de Sousa
Santos: “temos o direito a ser iguais quando a
nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes
quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de
uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença
que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
Por fim, essa digressão pode indicar que estamos
pensando em empatia da forma errada. Afinal, empatia gera alteridade: o aceitar
e entender o outro, mesmo que suas ideias, ideais e opiniões sejam totalmente
diferentes. Basta entrar nas redes sociais, um dos pontos centrais de
sociabilização atual, para perceber que a alteridade já não está mais lá. A
diferença é vista como o bode expiatório, pronto para o derramamento de sangue.
A pergunta final é: “a quem serve o Graal?”. No
caso: “para que a empresa quer implantar a empatia, a inclusão e a igualdade?”.
Seria perfeito se realmente as empresas estivessem buscando e investindo cada
vez mais em seus funcionários, em prol deles
próprios. Mas ela também poderia estar seguindo essa lógica para tentar se
enquadrar em uma demanda social, usando a imagem da inclusão e da empatia para
si e, de fato, ser somente mais uma
propaganda.
Leonardo
Torres - doutorando, com bolsa Prosup Capes, e mestre em comunicação e cultura
midiática pela Universidade Paulista, professor e palestrante.
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