Pode ser uma mãe que abusa da autoridade com seus filhos.
Pode ser uma amiga mandona que controla sua turma. Pode ser um marido
possessivo que impede sua mulher de trabalhar fora. O relacionamento abusivo
pode ser considerado uma espécie de bullying. Uma pessoa exerce poder sobre
outra, tolhendo sua liberdade, humilhando, denegrindo, impondo sua forma de
pensar e ser, de modo que a pessoa “abusada” perde parte de sua identidade e de
sua possibilidade de escolha.
Frequentemente, o domínio é exercido por alguma vantagem
que uma das partes tem sobre a outra, como condição financeira, por exemplo.
Uma pessoa pode se sentir superior às outras por ter mais dinheiro. Com os
amigos, ela acha que pode determinar os programas que vão fazer. Com a mulher,
ou com o marido, a pessoa se sente no direito de fazer tudo do seu jeito,
inclusive em relação à educação dos filhos, já que ela “banca a família”.
Este tipo de relação resulta também na humilhação em
público. Exemplo disso é a postura de reprovação da pessoa “abusadora”, quando
a “abusada” expressa suas ideias durante um encontro entre amigos ou
familiares. Ao notar que o(a) outro(a) não gostou, a pessoa se sente
intimidada, envergonhada e, com medo da “abusadora”, acaba se calando e ficando
apática.
A pessoa que sofre o relacionamento abusivo pode ter vários
comportamentos: mesmo tendo ciência do que se passa, pode acreditar que “as
coisas vão mudar”. Ou então tem medo de tomar uma atitude, e não saber qual
será a reação da pessoa “abusadora”.
Quem passa por esses abusos, muitas vezes, “finge” já ter
se acostumado, e prefere continuar do jeito que está do que enfrentar os
desafios que virão pela frente. Esta “acomodação” está relacionada à própria
personalidade da pessoa “abusada”, alguém que frequentemente se sente frágil e,
mesmo sendo abusada, se sente protegida pela outra pessoa. Daí, cria-se uma
relação simbiótica, na qual um depende emocionalmente do outro. Pode soar
estranho e contraditório, mas é fato.
Em alguns casos, a situação pode chegar a extremos de
agressão verbal e/ou física, o que passa, então, a demandar uma ação junto a
autoridades judiciais. A abordagem dessa relação abusiva requer que ambos
(abusador e abusado) se disponham a buscar tratamento psicoterápico individual
e, no caso de casais, de terapia de casal, visando a ruptura da relação
simbiótica e a busca de uma relação de equidade e equilíbrio.
Prof.
Dr. Mario Louzã - médico psiquiatra e psicanalista. Doutor em Medicina pela
Universidade de Würzburg, Alemanha. (CRMSP 34330)
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