Lei aprovada no Senado este ano
entra em vigor no final de Outubro. Entenda como deve funcionar o prognóstico
do autismo e veja os benefícios do tratamento precoce em crianças
Segundo dados do CDC (Center of Diseases Control and Prevention -
Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão ligado ao governo dos Estados
Unidos, existe hoje um
caso de autismo a cada 68 crianças. Estima-se, que no Brasil,
cerca de dois milhões de famílias convivem com o transtorno.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento. Ele é caracterizado por
dificuldades de comunicação e interação social, podendo apresentar padrões
de comportamentos restritos e repetitivos, como também
déficits intelectuais.
A detecção precoce e um adequado tratamento de conduta podem
melhorar significativamente a vida das crianças com autismo. Alguns indicadores
antes dos 18 meses de idade podem alertar sobre a aparição do transtorno. E é a
partir dessa premissa que a nova Lei, que deve entrar em vigor em Outubro, tem
papel fundamental.
O que diz a Nova Lei
A Lei 13.438/2017, sancionada este ano no Diário
Oficial da União diz que pediatras vão ser obrigados a adotar o protocolo com
padrões para a avaliação de riscos ao desenvolvimento psíquico de crianças de
até 18 meses de idade. A Lei vai evitar que o diagnóstico tardio
comprometa o desenvolvimento das crianças.
O novo protocolo poderá detectar,
precocemente, o transtorno do espectro autista, o que permitirá um melhor
acompanhamento no desenvolvimento futuro da criança,
assim como atesta o psiquiatra da infância e adolescência, Dr. César de Moraes:
“Esse passo é essencial para que se possa identificar grupos de
risco e diagnósticos precoces de autismo. A obrigatoriedade é dada no SUS
(Sistema Único de Saúde), mas é claro que é de bom tom pediatras aplicarem em
situação de consultório, assim, a criança tem chances de evolução e
desenvolvimento infinitamente maiores. Uma Lei muito importante no que diz
respeito ao cuidado com as crianças.”
O protocolo consiste em cerca de 20 perguntas, que avaliam os riscos
ao desenvolvimento psíquico de crianças no período em que o sistema nervoso
está em formação.
Como a Lei deve funcionar na prática?
São perguntas simples, mas fundamentais para detectar o
prognóstico.
“As questões vão desde: seu filho olha para você no olho por mais
de um segundo ou dois, seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao seu
sorriso, seu filho imita você?”, comenta o psiquiatra da infância e
adolescência, Dr. César de Moraes.
Tudo isso pode e deve ser observado desde que a criança é só um
bebê.
A lei é decorrente do Projeto de Lei do Senado (PLS) 451/2011, aprovado na Casa em abril de 2013 e na
Câmara dos Deputados este ano. A
norma deve ser aplicada a partir de Outubro deste ano.
O caso Lorenzo: a importância do diagnóstico precoce
Quando diagnosticado precocemente, a criança com TEA tem chances
de ter redução dramática dos sintomas, e até se tornarem crianças
independentes.
Lorenzo, de 2 anos, filho da advogada Tatiane Ap. Neves Boscardi,
foi diagnosticado precocemente. A mãe conta como todo o processo se iniciou até
encontrar um caminho para o tratamento de Lorenzo.
“Eu comecei a desconfiar que tinha algo diferente com o Lorenzo
por volta de um ano e meio. Isso porque, até então, ele não falava nada. E
percebi também alterações sensoriais, quase nenhum contato visual com a gente,
chamava pelo nome e ele não atendia, e a questão de socializar e brincar com as
outras crianças era mais difícil. Comentei com a pediatra que já encaminhou o
Lorenzo para o neurologista, que realizou o pré-diagnóstico de autismo”.
Mesmo apresentando apenas os primeiros sinais, ainda que não seja
o diagnóstico conclusivo, Tatiane comenta da importância de ter buscado
atendimento e tratamento precoce para o filho:
“Quando
recebi a notícia sobre o prognóstico de autismo foi muito difícil, fiquei sem
chão. Mas se eu tivesse deixado pra depois, ele poderia estar bem pior. O
médico logo indicou a Terapia ABA para o Lorenzo. Já no começo da Terapia ABA
ele evoluiu muito bem, em todos os sentidos. Agora estamos todos mais tranquilos
porque ele já teve um progresso muito grande. É outra criança hoje.”
Tratamento para autismo indicado pela OMS
O tratamento ideal para um indivíduo com autismo envolve
equipe especializada, assim como no caso de Lorenzo. Além do
acompanhamento do médico, psiquiatra ou neurologista, segundo a OMS (Organização Mundial
da Saúde), a Terapia em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é
a mais indicada para o tratamento do autismo, pois tem
comprovação científica em sua eficácia. Outros profissionais,
como fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais podem ajudar, de acordo com
as necessidades de cada criança.
Durante os primeiros anos de vida, o cérebro é ainda um órgão de
enorme plasticidade. Tem a capacidade de se adaptar a novos mecanismos de
funcionamento mediante os estímulos recebidos. Portanto, as terapias têm
potencial de melhorar a comunicação, estimular o relacionamento afetivo e
reduzir os comportamentos repetitivos.
“O tratamento fica
comprometido conforme a idade da criança avança. Inserir a criança em terapias
cientificamente comprovadas, com o número de horas indicada e com profissionais
capacitados, antes dos 18 meses, irá contribuir para sua socialização e
desenvolvimento mental e emocional. O autismo não tem cura, mas o diagnóstico
precoce é fundamental para estimular o desenvolvimento do potencial de cada
Indivíduo. Atendemos casos de intervenção precoce nos quais a criança
adquiriu habilidades (comportamentos) muito próximos ou iguais a crianças
consideradas típicas”, comenta Renata Michel, especialista em neuropsicologia e Analista
do Comportamento Aplicada ao Autismo do Grupo Conduzir.
Tratamento em ABA – direito de todos
Toda criança com TEA tem direito ao acesso do tratamento em ABA.
Para pleitear o direito gratuito os pais devem fazer um pedido via
administrativa ou através de uma Notificação Extrajudicial requerendo ao Estado
ou ao Plano de Saúde o custeio do tratamento de acordo com legislação
brasileira vigente. Diante da negativa no atendimento pela via administrativa, a
família deve procurar um advogado, e caso não tenha condições financeiras de
arcar com os honorários, deverá procurar a Defensoria Pública, e ali será
nomeado um defensor para cuidar de seus interesses.
ABA é direito de todos. Antes de escolher o profissional para o
tratamento do espectro autista, tenha a certeza da qualificação, e fique atento para os critérios da
especialização e supervisão de um especialista em ABA. Dessa
maneira, a evolução no tratamento da criança com TEA pode ser realmente vista
de maneira eficaz nos resultados apresentados.
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