Há muitos modos de se içar
alguém de um poço negro e profundo. Nesse momento, a força pode ter seu lugar,
porém o predominante é a inteligência coletiva dos salvadores, que se unem em
torno do nobre objetivo comum. Os salvadores do Brasil são seu povo, pura e
simplesmente.
Quando os brasileiros foram
beneficiados pelo primeiro plano monetário honesto e produto de uma das mais
sábias engenharias financeiras de que o mundo teve conhecimento, o plano real,
ele somente teria uma estrutura de muito longo prazo e seria irreversível
se mudanças profundas na política e na economia do Brasil fossem operadas
de imediato, como corolário de seus pressupostos, antes de seu desgaste.
Contudo, quando se fala em
reformas, os beneficiados pela situação petrificada e injusta apontam
para supostas crises que elas ocasionariam, para que não sejam
feitas. Tocar em parafernália normativa pode
levar os cofres públicos à vaziedade, dizem, como se já não estivessem
vazios, posto que, se temos alguma coisa, é tomada de empréstimo. A barafunda
de leis poderia ser simplificada ao extremo, poderíamos ter uma forma de manter
o Estado higiênico, límpido, compreensível, por todos os seres viventes que
ocupam esta Terra, desde o grande empresário ou banqueiro até o pequeno
dono do estabelecimento ao qual alguns crônicos amantes do
etílico comparecem, todos os dias, lá pelas seis horas, ao
entardecer, aguentando umas pingas e suportando alguns pedaços de linguiça
adormecida, impregnadas das bactérias de frigoríficos ricos, mantidos por
corrompedores do BNDES e outras instituições.
Do mesmo modo, a política,
como verdadeiro tratamento da "polis", poderia ser compreendida e
resgatar consensos até mesmo nos botecos, desde que moralmente íntegra,
fundada numa clareza ética, numa representação autêntica, como devem ser
todas as representações humanas. A educação, saúde, cultura etc vêm
naturalmente. Assim comporíamos nosso futuro, a partir do primeiro ato, que é
de superação dessa guerra burra entre extremos de esquerda e direita, que,
inopinadamente, dividiu amigos, parceiros, namorados, casais, amantes,
famílias, antes um só.
Ocorre que muita gente ganha
com essa dissidência; na política, ganha a "classe política",
que não tem classe nem
dignidade política. Para saltar sobre essas
idiossincrasias tenho toda pressa, como aquela de um romancista que se
encontra no último capítulo e tem intuição de haver construído uma obra
prima paralisada em suas últimas intuições conclusivas.
Na vida social, dar uma
mínima tranquilidade de vida a quem não a tem, seria a "magnum opus"
de cidadãos conscientes. Nada era impossível para os velhos alquimistas, segundo
seus testemunhos históricos: "Numa alusão à obra divina da criação e ao
projeto de redenção nele contido, o processo alquímico foi designado por
"Grande Obra". Nesse processo, uma matéria inicial, misteriosa e caótica,
chamada matéria prima, em que os opostos se encontram ainda inconciliáveis, num
conflito violento, deve ser transformada progressivamente num estado de
libertação e de harmonia perfeita, a "Pedra Filosofal"
redentora, ou o "lapis philosophorum". "Primeiro, combinamos, em
seguida decompomos, dissolvemos o decomposto, depuramos o dividido, juntamos o
purificado e o solidificamo-lo. Deste modo, o homem e a mulher transformam-se
num só".
Hoje, os brasileiros se
encontram naquele estado de matéria prima convulsionada, e somente partir do
zero para uma nova evolução, pela dissolução do grupamento político e
formulação de uma nova Constituição e de outros transmissores da vontade geral,
poderíamos encontrar a mágica poção alquímica de nossa libertação e de nosso
futuro.
Se nos encontramos cindidos,
cada vez mais fortemente, em nosso corpo espiritual, em duas
maniqueístas ou mais correntes, e, com sinceridade,
queremos legar a nossos filhos, netos e bisnetos, uma grande e
promissora plantação, não podemos continuar no caminho errático das indicações
exteriores de responsabilidades pelo que nos ocorreu. Procuremos, em primeira
plana, implodir nossas posições rígidas e estéreis. Em segundo lugar, criar um
consenso mínimo, não sobre ideologias e projetos já exauridos pela história,
mas em torno de ideias que, pragmaticamente, devem orientar nossos atos comuns,
privados e públicos, e suas respectivas propostas, um projeto de governo
brotado da beleza de nossas árvores e de seus perfumes, não remendos daquelas
provenientes de políticos que tomaram conta de nossa casa por todos esses anos
- e a destruíram. Da nossa interioridade e, sobretudo, da dos homens honestos
que formam nossa "intelligentsia", é que soprará uma rajada de vento
benfazeja, capaz de abrir as portas da construção original de nosso ainda jovem
Brasil.
Os excrementos deverão ficar
apartados, por contas de juízes, promotores e advogados, e não mais toldar
nossos momentos de descanso quando retornamos ao lar, pelos jornais vespertinos
que já nos embruteceram o suficiente.
Amadeu
Roberto Garrido de Paula - Advogado
e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados, com uma ampla visão
sobre política, economia, cenário sindical e assuntos internacionais.
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