Especialistas
explicam os riscos e apontam estratégias para driblar a seletividade alimentar
Desde 2007, o dia 2 de abril é conhecido como o Dia Mundial de
Conscientização do Autismo, e o mês é voltado para a causa, sendo conhecido
como “Abril Azul”, para divulgar informações e reduzir a
discriminação e o preconceito contra os autistas.
Um dos pontos importantes da saúde desse grupo é que muitos
indivíduos com autismo têm aversões e sensibilidades alimentares. Muitos também
têm problemas comportamentais que tornam a hora das refeições particularmente
desafiadora.
Pesquisadores descobriram que crianças com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) são cinco vezes mais propensas a ter desafios na hora das
refeições, como acessos de raiva, extrema seletividade alimentar e
comportamentos alimentares ritualísticos. A nutrição inadequada também é mais
comum entre crianças com autismo. Em particular, uma baixa ingestão geral de
cálcio e proteína. O cálcio é crucial para a construção de ossos fortes.
Proteína adequada é importante para o crescimento, desenvolvimento mental e
saúde. Algumas considerações dietéticas comuns associadas ao autismo são:
·
A sensibilidade a
cheiros, imagens e sons na hora das refeições pode afetar a alimentação;
·
Desconforto intestinal,
incluindo constipação, diarreia e estômago inchado;
·
Hipersensibilidade
alimentar (quando o corpo reage mal a certos alimentos);
·
Comer uma dieta limitada
- um pequeno número de alimentos semelhantes em cor e sabor;
·
Ter uma forte
preferência por certas texturas (como alimentos crocantes ou macios), alimentos
cortados de uma certa maneira (por exemplo, torradas cortadas em quadrados, mas
não em triângulos);
·
Não querer que
diferentes alimentos toquem em um prato, pois tendem a preferir coisas
previsíveis, pois isso pode ajudar a reduzir a ansiedade.
Há evidências crescentes de que as
intervenções de nutrição e estilo de vida podem ser muito favoráveis para
indivíduos com autismo. Dicas que podem
ser seguidas para melhorar o hábito alimentar. Os especialistas tiram dúvidas e
fazem indicações, confira:
·
Problemas gastrointestinais no TEA
podem dificultar a relação com alimentos?
Os problemas gastrointestinais causam dor e
desconforto ao se alimentar, levando a estresse e causando alterações
comportamentais importantes no autista. Ao se sentir desconfortável ao comer, o
indivíduo com TEA passa a apresentar um padrão alimentar seletivo, restritivo e
deficiente.
Para Thomáz Baêsso, médico cirurgião atuante em
nutrologia do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), com
atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual, alguns
dos problemas gastrointestinais, como intolerâncias alimentares a glúten,
lactose, caseína, dificultam a relação de qualquer indivíduo com a alimentação,
porém ao se tratar de portadores de TEA, que já tem uma relação alimentar
complexa, as intolerâncias podem dificultar ainda mais a boa nutrição dessa
população.
Sofia
Pereira, médica atuante em endocrinologia do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais),
diz que sabe-se que os distúrbios gastrointestinais estão entre as condições
médicas mais comuns associadas ao autismo. De acordo com ela, é comum que
apareçam constipações (prisões de ventre), diarréias e refluxos
gastrointestinais, entre outras condições. Alguns estudos mostram que a
microbiota intestinal de um autista é diferente, pois há uma alteração do
equilíbrio caracterizada pela perda de massa bacteriana benéfica.
Outros problemas podem ser causados pelo
déficit alimentar, Thomáz comenta que os autistas
costumam desenvolver transtornos alimentares como a neofobia alimentar, que
nada mais é do que a recusa alimentar por alimentos não familiares, o que pode
levar a problemas nutricionais com o passar dos anos.
Sofia, aponta
que uma alimentação adequada na infância, desde o nascimento e durante os
primeiros anos de vida é fundamental para garantir o crescimento e o
desenvolvimento normal da criança. “Quando se menciona crescimento da criança,
geralmente se associa ao crescimento ósseo que se reflete na estatura, mas cada
um dos sistemas orgânicos também está em desenvolvimento, incluindo o sistema
nervoso central”, diz ela. Por isso, é muito importante que os pais busquem
ajuda profissional, pois alguns autistas não verbais podem ter dificuldade para
demonstrar o que estão sentindo e isso pode dificultar o diagnóstico. É
importante ficar atento se a criança sente dor abdominal ou mudou de
comportamento.
·
Com o que se relacionam os problemas
alimentares comuns em pessoas com autismo? As meninas são mais suscetíveis? Por
quê?
Alexandre
Lucidi (@alucidi) -
médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia,
diz que pesquisas clínicas com amostras populacionais maiores, incluindo um
número suficiente de indivíduos do sexo feminino, com TEA, podem favorecer o
estudo de padrões emocionais de alimentação observados entre os autistas, em
especial, as meninas.
Em indivíduos do sexo feminino com TEA,
autores associam questões alimentares que chamam de “Emotional Overeating and
Emotional Undereating”.
“Emotional Overeating” é definido como comer
mais ou menos quando emocionalmente estimulado (por exemplo, estar feliz,
irritado, preocupado, com raiva). Embora comer demais emocionalmente seja um
tipo incomum de comportamento alimentar na infância, uma publicação de 2020 a
associou ao TEA, especialmente em meninas.
As descobertas sugerem que os problemas
alimentares relacionados ao autismo podem ser comportamentais/cognitivos (por
exemplo, não comer alimentos verdes, quantidade específica) ou sensoriais (por
exemplo, alimentos não pegajosos, sem cheiros específicos), mas também
problemas alimentares de base emocional, finaliza Lucidi.
·
Como é feito um plano alimentar para
indivíduos com TEA?
A nutricionista Tamires Oliveira (@tamiresoliveira.nutrir) -
especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e TDHA,
explica que o primeiro passo para elaborar o plano alimentar é entender como os
pacientes se comportam com relação aos alimentos. Quais são as suas
dificuldades alimentares e aversões, o que toleram, quais são as preferências
alimentares (textura, cor, sabor) - a partir dessa informação, criam-se
estratégias culinárias para tornar esse plano alimentar saudável, com variedade
e amplo para esse paciente comer com conforto. Através da terapia alimentar, se
inserem novos alimentos de forma lúdica e aumenta o repertório alimentar desse
paciente.
Tatiane
Schallitz, nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais),
aponta que embora o TEA possa ser classicamente considerado principalmente
neurológico em sua patologia, há evidências crescentes para demonstrar um papel
para o sistema gastrointestinal e sua microbiota em aspectos da sintomatologia
do transtorno, alterações significativas na composição da microbiota e na
produção de metabólitos microbianos em crianças com TEA.
Ela comenta que o autismo afeta o consumo de
alimentos, que altera o intestino, e o intestino interfere no cérebro, o que
causa piora nos sintomas apresentados. Assim, corrigir a disbiose intestinal é
importante nestes pacientes. Assim, a saúde intestinal é um aspecto crucial
para o bem-estar geral e está diretamente relacionada à nutrição. Entre os
sintomas estão os problemas gastrointestinais, como constipação, diarreia e
síndrome do intestino irritável. Algumas estratégias nutricionais para melhorar
a saúde intestinal em pessoas com autismo de acordo com ela incluem o consumo
de:
Fibras: Incluir
fontes adequadas de fibras na dieta, como frutas, vegetais, legumes, grãos
integrais e sementes, pode ajudar a melhorar a função intestinal e prevenir a
constipação.
Probióticos
e prebióticos: A suplementação ou a ingestão de alimentos ricos em probióticos e
prebióticos, como iogurtes, kefir, chucrute e bananas, pode melhorar o
equilíbrio da microbiota intestinal e promover a saúde digestiva.
Hidratação:
Manter-se adequadamente hidratado é essencial para o bom funcionamento do
intestino e a prevenção de problemas gastrointestinais.
Alimentação
equilibrada: Uma dieta variada e rica em nutrientes, com atenção especial às
necessidades de cada indivíduo, é fundamental para a saúde intestinal e o
bem-estar geral.
Além do cuidado intestinal, a suplementação
de EPA, DHA, probióticos, ômega 3, vitaminas do complexo B, vitamina D,
carnitina, ácido fólico, carnosina e coenzima Q10, é eficaz na diminuição dos
sintomas e evolução dos indivíduos com TEA. De um modo geral, vários estudos
evidenciaram a evolução e a melhora no tratamento em relação aos sintomas e
fatores do comportamento, convívio social, comunicação, diminuição dos sintomas
gastrintestinais e da hiperatividade.
“É importante citar que a seletividade
alimentar pode afetar a autoestima, a ansiedade e a socialização das pessoas
com autismo, por isso a importância de uma abordagem holística no tratamento
desses casos”, completa Tatiane.
·
Quais os déficits nutricionais mais
comuns?
Para Tamires, as crianças autistas são
muito seletivas e resistentes ao novo, fazendo bloqueio a novas experiências
alimentares. Portanto, deve-se ter o cuidado de não deixá-las ingerir alimentos
que não sejam saudáveis. O comportamento repetitivo e um paladar restrito pelos
alimentos podem levar a deficiências nutricionais.
A frequente não aceitação dos alimentos
saudáveis pode levar a um quadro de desnutrição calórico-proteica. A má
alimentação e a falta de equilíbrio energético são motivos de preocupação,
pois, a ingestão de micronutriente está estreitamente relacionada com a
ingestão de energia. É provável que as crianças cujo consumo de energia é
menor, falta de apetite, dermatites, depressão e preferências por doces e
fast-food, também sofram de deficiência de ferro, zinco, vitaminas do complexo
B, vitamina C e vitamina D. Já as crianças autistas que
são mais hiperativas, agitadas durante o dia e noite com sono desregulado e
tenham TDHA sofram de deficiência de zinco, ferro, magnésio e vitamina D.
Tamires
aposta na variedade: Muitos pais têm dificuldades em fazer seus
filhos comerem alimentos bem variados. Em geral, as crianças preferem comer o
que acham mais saboroso. Por causa do indivíduo autista ter a tendência de
hábitos alimentares restritos, é fundamental que quando criança, os pais tenham
paciência e estimulem uma maior variedade, especialmente com foco em alimentos
mais nutritivos e fiquem atentos aos possíveis problemas, como as deficiências
nutricionais, por isso é válido uma consulta
com um nutricionista para adequar o cardápio e fazer se necessário uma
suplementação.
Segundo Tatiane, a
suplementação pode ser uma estratégia útil para complementar a dieta e garantir
que todas as necessidades nutricionais sejam atendidas. Algumas suplementações
para pessoas com autismo, contam com:
Vitaminas
e minerais: Devido à seletividade alimentar, pode ser necessário suplementar
com vitaminas e minerais essenciais, como vitamina D, cálcio, ferro, zinco e
vitaminas do complexo B.
Ácidos
graxos ômega-3: Os ácidos graxos ômega-3 são importantes para a saúde cerebral e
a função cognitiva. Eles podem ser obtidos por meio da alimentação, mas em
alguns casos, a suplementação pode ser necessária para garantir níveis
adequados.
Aminoácidos: A suplementação
de aminoácidos pode ser útil para melhorar a saúde cerebral, o funcionamento do
sistema imunológico e a síntese proteica.
Lembre-se de que a suplementação deve ser
feita sob orientação de um nutricionista ou médico nutrólogo, que avaliará as
necessidades específicas de cada pessoa com autismo.
·
Quais são os alimentos que devem ser
evitados para quem tem TEA e por quê?
Tamires
aponta que a alimentação para o autista deve ser isenta de
corantes alimentícios artificiais, alimentos processados e embutidos (balas,
iogurte com sabor, salgadinhos, sucos em pó, gelatina, salsicha, salame,
presunto, bolinhos prontos, miojo, nuggets, refrigerante e entre outros
alimentos industrializados.), farinha branca em excesso e açúcar branco, pois
esses produtos alimentícios são grandes vilões para a dieta de quem tem autismo
já que estimulam a hiperatividade, falta de concentração, obesidade, doenças
como colesterol alto, diabetes, entre outras adquiridas pela má alimentação.
Evitar essas opções é uma forma de desestimular e prevenir outros impactos na
saúde das crianças autistas.
Tatiane
acrescenta que não há uma lista definitiva de alimentos que são proibidos para
quem tem TEA, mas alguns alimentos podem ser evitados com base nas preferências
alimentares individuais e nas necessidades específicas de cada pessoa. Alguns
autistas podem ter intolerâncias alimentares ou alergias que podem afetar sua
dieta. Alguns alimentos comuns que podem desencadear alergias incluem nozes,
laticínios, trigo, soja, peixe e mariscos. Por isso, é importante que esses
alimentos sejam evitados se houver reações alérgicas.
·
Quais os alimentos mais indicados e
por quê?
A alimentação saudável e variada deve fazer
parte da rotina de toda criança e família incluindo alimentos naturais como
frutas e vegetais frescos, cereais integrais, leguminosas, laticínios,
proteínas e gorduras saudáveis, pois é importante para o desenvolvimento e o
crescimento da criança com o transtorno do espectro autista (TEA), além de
ajudar a prevenir situações como prisão de ventre, deficiência de nutrientes,
obesidade ou doenças cardiovasculares argumenta Tamires.
Prefira consumir esses alimentos:
Consumo
de frutas, verduras e legumes diariamente: é
fundamental consumir de 2 a 3 porções de frutas por dia, como maçã, pêra,
banana, uva, laranja, mamão, melancia, que podem ser incluídas no café da
manhã, lanches da manhã/tarde e na lancheira escolar. Legumes e verduras que
não podem faltar no prato das crianças no almoço e jantar como abóbora,
beterraba, brócolis, cenoura, couve-flor, alface, couve, espinafre.
Esses alimentos são ricos em vitaminas e
minerais, nutrientes que são essenciais para a formação dos dentes e ossos,
evita anemia, promove o crescimento adequado, fortalece o sistema imunológico e
equilibra a flora intestinal.
Consumir
proteínas (rico em vitamina D, ferro e aminoácidos essenciais): as
proteínas, como peixes e frutos do mar, ovo, frango, carne bovina, carne suína
, devem ser consumidas diariamente no almoço e jantar. Isso porque as proteínas
atuam no crescimento e desenvolvimento físico e mental, fortalece o sistema
imunológico e regulam as funções do sistema nervoso.
Vitaminas
e suas fontes alimentares: cálcio (leites e derivados, para
as crianças APLV pode substituir por leite de amêndoas e castanha), vitamina A
(frutas e legumes amarelos-alaranjados e vegetais verde-escuros são ricos em
carotenóides: manga, mamão, cajá, caju maduro, goiaba vermelha, abóbora,
cenoura, acelga, espinafre, chicória, couve, salsa), vitamina E (semente de
girassol, amêndoas, azeite, castanha de caju, amendoim, abacate), ferro
(carnes, ovos, peixes/frutos do mar, couve, feijão, grão-de-bico), vitamina C
(laranja, morango, goiaba, tangerina, caju, kiwi), riboflavina (couve,
brócolis, espinafre, repolho, agrião, entre outros), ovos, carne, semente de
girassol, ervilha, e em maior quantidade, na soja, no leite e em frutos do mar)
zinco (semente de linhaça, ostras, camarão, gema de ovo, leite integral,
amendoim, castanha de caju), vitamina B6 (avelã, amendoim, atum, salmão, carne
de galinha, fígado de vaca e porco) e fibras alimentares (alimentos integrais
como pão integral, aveia, granola, macarrão integral, arroz integral).
Tatiane cita
alguns alimentos ricos em triptofano, como banana, aveia, lentilha e feijão
branco.
De acordo com a nutricionista, também é
importante incluir no planejamento alimentar, alimentos com atividade
antifúngica, antiparasitária e antibacteriana devido a baixa imunidade e
aumento na frequência de infecções e parasitoses, tais como: consumo regular
sementes de abóbora ou de frutas cítricas, óleo de coco, alho, cebola, orégano,
cúrcuma, tomilho e ervas; colocar mais variedades de alimentos; combinar
alimentos como cereais e leguminosas também é importante, pois essa combinação
apresenta todos os aminoácidos essenciais (exemplo, arroz e feijão) e consumir
leguminosas que são fontes de cálcio e ferro.
·
Dicas para introduzir novos alimentos
para crianças:
A nutricionista Tamires Oliveira, especialista em
introdução alimentar, diz que é importante que a criança
participe do preparo dos alimentos. Antes de ver os alimentos no prato, é
interessante que os pais levem a criança ao hortifruti e ajude a escolher as
diversas variedades de frutas, legumes e verduras. É nesse ambiente que ela vai
conhecer esses alimentos, tocar, cheirar (dessa forma a criança vai criando uma
familiaridade, ganhando confiança, perdendo o medo de tolerar).
“Eu vejo muitos pais focados em querer que o
filho só coma a todo custo (mas para a criança chegar na fase do comer ela
precisa tolerar, interagir, tocar, lamber, provar e por último o comer), cada
degrau importa por isso é preciso ter paciência. Leve a criança para a cozinha,
mude a forma de preparo (não gostou do brócolis cozido, façam muffin de
brócolis, omelete de brócolis), não gostou da banana ou só come ela de um jeito
(façam panqueca de banana, sorvete de banana com morango)”, relata.
“Resgate os alimentos que ele comia quando
era bebê por exemplo e ofereça de novo (crianças seletivas não são muito
receptivas aos novos alimentos, por isso a orientação de oferecer sempre, mesmo
que não coma coloque no prato)”, completa Tamires.
·
Dicas para introduzir novos alimentos
para adolescentes e adultos:
Tatiane cita que
a introdução de novos alimentos para indivíduos adultos com TEA pode ser um
desafio, uma vez que algumas podem ser mais seletivas ou restritivas em relação
aos alimentos que consomem. No entanto, existem algumas dicas que podem ajudar
na introdução de novos alimentos:
Introduza
novos alimentos gradualmente: introduzir novos alimentos
lentamente, um de cada vez, para que a pessoa possa se acostumar com o novo
sabor, textura ou cheiro. Comece com porções pequenas e aumente gradualmente.
Torne
a comida mais atraente: tente tornar os alimentos mais
atraentes para o indivíduo com TEA, utilizando pratos coloridos ou
oferecendo alimentos com formatos divertidos ou que sejam visualmente
atraentes.
Permita
que o adolescente/adulto participe do processo: deixe
o indivíduo participar da escolha dos alimentos e permita que ela ajude a
preparar a comida. Isso pode aumentar a sua disposição para experimentar novos
alimentos.
Ofereça
escolhas limitadas: ofereça opções limitadas para a pessoa
escolher, para que ela não se sinta sobrecarregada ou desencorajada.
Utilize
alimentos conhecidos como base: experimente adicionar novos
ingredientes a alimentos que a pessoa já conhece e gosta. Por exemplo,
adicionar vegetais em um macarrão ou legumes em uma sopa.
Seja
consistente: Ofereça os novos alimentos com frequência e de forma consistente
para que a pessoa possa se acostumar com eles.
Celebre
o sucesso: Quando a pessoa experimentar um novo alimento, elogie o seu
esforço e celebre o sucesso. Isso pode aumentar a motivação para experimentar
novos alimentos no futuro.
É importante lembrar que cada pessoa com TEA
é única e pode ter necessidades alimentares diferentes. Por isso, é fundamental
consultar um profissional de saúde ou nutricionista para obter orientações
personalizadas sobre a introdução de novos alimentos para pessoas com TEA.
Desafios
com a textura dos alimentos
Tatiane
diz que os indivíduos autistas podem ter aversões específicas a
algumas texturas de alimentos, como alimentos pastosos, crocantes,
escorregadios ou pegajosos. Isso pode ser devido à sensibilidade tátil oral,
que é a percepção exacerbada de estímulos táteis na boca. Além disso, algumas pessoas
com autismo podem ter dificuldades motoras orais, o que dificulta a mastigação
e a deglutição de certos alimentos.
Algumas estratégias ao lidar com a
seletividade alimentar relacionada à textura incluem a:
Exposição
gradual;
Variação
na preparação;
Experimentação
com utensílios;
Terapia
de integração sensorial;
Abordagem
multidisciplinar.
Entender a importância da diferença dos
alimentos e implementar estratégias específicas para lidar com a seletividade
alimentar relacionada à textura pode ser um passo crucial para melhorar a
qualidade de vida e a saúde nutricional de pessoas com autismo.
Dicas de receitas para o dia a dia, segundo Tatiane:
Purês
e cremes: transforme frutas e legumes em purês e cremes para oferecer uma
textura lisa e homogênea. Isso pode facilitar a aceitação para quem prefere
texturas suaves. Você pode experimentar diferentes combinações, como purê de
batatas, creme de espinafre, purê de maçã ou creme de abóbora.
Cozimento
e preparação diferenciados: Ofereça o mesmo alimento em
diferentes texturas através de métodos de cozimento variados. Por exemplo,
cenouras podem ser servidas cozidas e amolecidas, cortadas em palitos e
servidas cruas para uma textura crocante, ou raladas e misturadas em saladas
para uma textura mais leve.
Smoothies
e sopas: Smoothies de frutas e legumes ou sopas cremosas são opções para
combinar diferentes texturas e sabores de maneira harmoniosa, facilitando a
aceitação. Experimente misturar frutas congeladas, iogurte e leite para criar
um smoothie, ou cozinhar legumes e processá-los em uma sopa cremosa.
Finger
foods: Ofereça alimentos que possam ser consumidos com as mãos, como
palitos de legumes, frutas cortadas em cubos, tiras de frango grelhado ou
queijo cortado em pedaços. Isso permite que a pessoa com autismo interaja com
os alimentos de forma mais direta e explore as texturas de maneira menos
ameaçadora.
Combinações
de texturas: Experimente combinar diferentes texturas em um único prato, como
adicionar crocantes de granola a um iogurte cremoso, misturar frutas secas em
um mingau de aveia ou servir macarrão com um molho suave e vegetais cozidos.
Isso pode ajudar a pessoa com autismo a se acostumar com a variedade de
texturas.
Atividades
lúdicas: Incentive a exploração das texturas dos alimentos de forma
lúdica, como criar esculturas de frutas, usar cortadores de biscoitos para
criar formas com legumes cozidos ou organizar os alimentos no prato de maneira
divertida. Isso pode tornar a experiência de experimentar novas texturas mais
positiva e envolvente.
·
Dicas para hora da refeição de
crianças autistas:
A
nutricionista especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e
TDHA, Tamires Oliveira, indica que desde
a introdução alimentar, criar o hábito de sentar na mesa e comer junto com a
criança é importante, assim eles irão crescer tendo essa disciplina de comer
sentado sem telas/TV, mas o ambiente precisa ser favorável (se na hora da
refeição for estressante para a criança, ela vai perder o interesse em comer).
Ela cita maneiras de controlar o ambiente no momento da alimentação,
confira:
Passo
a passo para uma refeição tranquila:
·
Estruture a rotina, em
especial no que diz respeito à alimentação;
·
Crie um ritual para
familiarizar a criança com a hora de comer. Por exemplo: colocar a mesa/lavar
as mãos/sentar/comer;
·
Evite lanches fora da
rotina, evitando perda de apetite;
·
Realize refeições em
família. Dessa forma, a criança pode ser incentivada a experimentar o que os
pais estão comendo;
·
Ofereça alimentos
variados, mas não force a comer, não façam chantagem Incentive a comer sozinho
e ter autonomia;
·
Brinque de “fazer
comidinha” e outros horários com utensílios de cozinha de brinquedo Permita que
a criança escolha os utensílios a serem postos na mesa. Questione com qual
talher, prato ou copo ela prefere comer;
·
Ao cozinhar, convide
para ajudar, seja no lavar um legume ou até mesmo misturar um bolo. Cultive
alimentos em horta com a ajuda da criança. Desse modo, ela se familiariza com o
que vai ou não comer;
·
Celebre cada alimento
novo que a criança comer.
REFERÊNCIAS:
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FONTES:
Thomáz Baêsso - médico cirurgião atuante em nutrologia do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), com atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual. CRM: 235249.
Sofia Pereira - médica atuante em endocrinologia do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais).
Graduada pela escola de medicina Souza Marques, Pós graduada em endocrinologia e metabologia pela faculdade IPEMED de Ciências Médicas. Pós graduada em neurologia - IBCMED. Em sua prática clínica, atende homens e mulheres que buscam saúde, performance física, longevidade e bem-estar, além de cuidados com a saúde mental e neurotransmissores. CRM 52-996181
Alexandre Lucidi (@alucidi) - médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia. Com atuação em Neurogenética e Neuroimunologia, graduado em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), tem Residência Médica em Genética Médica pelo Instituto Nacional da Saúde da Criança, da Mulher e do Adolescente Fernandes Figueira, Fiocruz (IFF/Fiocruz) e Especialização em Neurologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Mestrando do Programa de Pós Graduação em Neurologia da UNIRIO/HUGG e participa de estudos fase 3 na mesma instituição. Integrante da equipe de Neurologistas do Hospital Copa D’Or/ Rede D’Or São Luiz e voluntário em ações de conscientização sobre a esclerose múltipla na Associação de Pacientes do Estado do Rio de Janeiro.
Tamires Oliveira (@tamiresoliveira.nutrir) - nutricionista especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e TDHA. Nutricionista, ortomolecular e fitoterapeuta infantil em Itaguaí/Barra/on-line, atua na área de pediatria há 6 anos, sou especialista em introdução alimentar, obesidade infantil e doenças relacionadas, seletividade alimentar, nutrição esportiva infantil. Tem pós-graduação em nutrição funcional e terapia alimentar no autismo e TDHA, pós-graduação em nutrição clínica e nutrição materno-infantil.
Tatiane Schallitz - nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais). Graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), além disso, está pós-graduando em Fitoterapia pela UNIFATEC. Antropometrista ISAK I. Experiência em Nutrição Esportiva, Comportamental e Vegetarianismo.