Transplante custa menos do que
tratamento com medicação
O transplante com células-tronco da medula óssea do próprio
paciente para combater a esclerose múltipla é mais eficaz do que a medicação
disponível no mercado. Esta é a conclusão de pesquisa feita por pesquisadores
do Brasil, Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.
O estudo foi apresentado, em março, no encontro anual da
European Society for Blood and Marrow Transplantation e submetido a uma revista
científica de alto impacto. “Os resultados comprovam que os transplantes
apresentam melhores resultados do que as medicações utilizadas para o
tratamento da esclerose múltipla”, afirma a professora Maria Carolina de
Oliveira, pesquisadora do Centro de Terapia Celular da USP e da Divisão de
Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
De acordo com ela, “parte da pesquisa ainda continua e os
pacientes serão acompanhados por mais tempo e novos resultados devem ser
apresentados em dois ou três anos. O objetivo é ver como a resposta ao
transplante se sustenta em acompanhamento mais prolongado”, explica.
Ao todo, nos quatro países, participaram 110 voluntários,
dos quais 55 foram transplantados e 55 receberam tratamento convencional. “Dos
transplantados, apenas três (6%) reativaram a doença após o transplante. No
outro grupo, tratado com a medicação disponível no país, 33 (60%)”, afirma
Maria Carolina.
No entanto, o transplante deve ser aplicado apenas aos
pacientes que estejam na fase de surto remissiva da doença. “É a fase em que
paciente tem surtos de perda neurológica súbita. Passa a ter dificuldade para
andar e de mexer os membros. Esses surtos acumulam incapacidades neurológicas e
o transplante tem que ser realizado antes que chegue à fase progressiva”,
explica.
Para identificar a possibilidade de transplante, os médicos
utilizam a escala neurológica EDSS para medir o grau de comprometimento que a
doença já provocou no paciente. Se estiver entre 2,5 e 5,5, o paciente pode ser
transplantado. Fora desse parâmetro, não. O paciente não pode estar em cadeira
de roda ou acamado, situações que acontecem nas fases mais avançadas da doença.
Experiência – O Hospital das
Clínicas da FMRP-USP tem experiência de 16 anos em transplante de medula óssea
para pacientes com esclerose múltipla. Começou, em 2002, com o professor Júlio
Voltarelli. Estes procedimentos não são pagos pelo Sistema Único de Saúde
(SUS). A verba utilizada é de projetos de pesquisas. “Pretendemos, com esses
resultados, convencer as autoridades em incluir este tipo de transplante na
lista do SUS”, afirma a doutora Maria Carolina.
Entre os 90 transplantes realizados no HC-FMRP-USP “2/3
melhoraram. Sendo que deste total, metade manteve a doença controlada e na
outra metade houve progressão ao longo do tempo. Isso porque, a maioria desses
pacientes foi transplantada na fase tardia, já degenerativa, da doença. O transplante
funciona melhor nas fases mais precoces, inflamatórias da doença”, explica.
Custo – O estudo não levantou custos comparativos entre
transplante e a medicação, mas a reportagem apurou que o transplante tem custo
estimado de R$ 22 mil considerando o uso de instrumental e a medicação usada
durante o procedimento (não faz parte deste valor, os custos de salários da
equipe e internação). Já a medicação tem preço aproximado de R$ 12 mil ao mês.
Um estudo de pesquisadores poloneses, apresentado também no
encontro European Society for Blood and Marrow Transplantation, comparou os
gastos médios de 102 pacientes com esclerose múltipla no ano anterior ao
transplante àqueles de um ano após o procedimento. A média de gastos anuais
caiu de 4.520 euros para 810 euros.
Fonte:
Marcos de Assis - Assessoria de Imprensa do Hemocentro de Ribeirão Preto.