Nossa triste situação é outra: aqui o
peixe (a riqueza nacional) é roubado por uma casta de ladrões vorazes que
canalizam a quase totalidade da fortuna do país para seus bolsos (com o detalhe
de que grande parte dela é arrebanhada de forma bandida, corrupta e ilícita).
O Brasil é dominado (ladrões
invisíveis) e governado (ladrões visíveis) por uma corja de larápios vorazes e
egoístas, que só pensa na riqueza e felicidade deles. Foi dessa forma que nossa
plutocracia (governo de alguns endinheirados) se transformou numa das maiores cleptocracias
do mundo (cleptos = ladrão; cracia = governo).
E quantos são os grandes ladrões (da
riqueza e da felicidade) no país? Umas 20 famílias que vivem de monopólios,
oligopólios, carteis, evasão de divisas e privilégios tributários, 450 empresas
que mais fizeram doações eleitorais de 1994 a 2014 (ver Bruno Carazza, Dinheiro, Eleições e Poder), recebendo
em troca uma fortuna incalculável por meio de benesses contratuais ou “legais”,
uns 300 políticos picaretas influentes e uns 20 partidos que mais receberam
financiamento eleitoral empresarial no mesmo período.
No total, trata-se de uma casta
medieval (composta de senhores feudais e vassalos) de menos de 800 rapinadores
de grande porte, que sempre impediram o progresso sustentável e equilibrado da
nação.
Não é difícil perceber que essa lógica
da concentração das riquezas nas mãos das oligarquias que se apoderam do Estado
é totalmente incompatível com a democracia liberal, que nunca encontrou espaço
na realidade brasileira.
Como sublinha Sérgio Buarque de Holanda
(Raízes do Brasil), todo o pensamento
liberal-democrático pode resumir-se na frase célebre de Bentham: “A maior
felicidade para o maior número”. É muito fácil notar que essa ideia (que esse
ideal de vida, de sociedade) conflita abertamente com a nata corrupta da nossa
estrutura de poder, posto que regida pelos “valores cordiais” (descritos por S.
B. de Holanda), que busca a maior felicidade para o menor número possível de
pessoas.
No clube dos donos corruptos e vorazes
do poder (os que mandam e governam efetivamente a riqueza nacional) “a primazia
[absoluta] é das conveniências particulares sobre os interesses de ordem
coletiva; ela revela nitidamente o predomínio do elemento emotivo [lações de
família, de amizade, de compadrio] sobre o racional”.
“Por mais que se julgue achar o
contrário, a verdadeira solidariedade só se pode sustentar realmente nos círculos
restritos [como é o caso do clube dos grandes ladrões do país] e a nossa
predileção, confessada ou não, pelas pessoas e interesses concretos não
encontra alimento muito substancial nos ideais teóricos [da democracia liberal]
ou mesmo nos interesses econômicos [da população em geral] em que se há de
apoiar um grande partido” (S. B. de Holanda, Raízes do Brasil).
Nas democracias liberais de sucesso
(Escandinávia, por exemplo) soube-se combinar as variáveis só aparentemente
antagônicas do “dar o peixe a quem precisa, por um período” (alimentação
básica, abrigo mínimo) e, ao mesmo tempo, “ensinar a pescar” (boa educação para
que cada um se emancipe e cuide do seu futuro com o próprio esforço). Essas
culturas simbióticas se preocupam verdadeiramente com a convivência humana
civilizada.
Elas, no entanto, não têm nada a ver
com as estruturas de poder parasitárias em que um grupo seleto de rapinadores
canaliza a fortuna do país para eles de forma impiedosa e cruel, desintegrando
os ambientes familiares, além de romper os laços da convivência social pacífica.
Catorze grandes empresas acabam de
entrar com ação na Justiça pedindo indenização a vários bancos que se
cartelizaram, por muitos anos, combinando altas taxas de juros (Folha). Temos
que atacar com firmeza as castas corruptas e vorazes que estão destruindo a
indústria, o comércio, os empregos, os trabalhadores, o próprio Estado, a
educação e o futuro do país.
Todos os que produzem estão sendo
engolidos pelos ladrões, corruptos e aproveitadores da nação. Não podemos dar nenhuma
trégua para os quase 800 grandes ladrões do País, até que eles admitam que
estão violando a Lei, a Ética e a Justiça, que são os valores com os quais
vamos reconstruir o Brasil.
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista e criador
do movimento Quero Um Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial