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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Quais os impactos da tecnologia nas eleições brasileiras?


Especialista da FGV explica como a inteligência artificial pode mapear e influenciar o comportamento dos eleitores e até direcionar os resultados do processo eleitoral 

Os algoritmos e a inteligência artificial estão presentes em praticamente todo nosso dia, em ações que tomamos, em boa parte do que assistimos e consumimos. É um mundo de informações que influenciam nossa tomada de decisão, sem que, muitas vezes, tenhamos conhecimento. E que podem ter impactos diretos em nossa vida e em toda a sociedade.

Uma questão que começa a ser discutida são os impactos da tecnologia nas eleições brasileiras, principalmente no contexto de fake news e propaganda eleitoral e o mais importante, os riscos de manipulação eleitoral e as consequências da utilização desses sistemas de dados privados. 

Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV - DAPP) mostra que contas automatizadas motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter. O levantamento mostra como robôs ou bots (perfis falsos presentes em mídias sociais) são capazes de distribuir, em escala industrial, mensagens pré-programadas, impondo riscos à democracia e ao processo eleitoral de 2018. 

Utilizando inteligência artificial para monitorar as mídias sociais e analisar o que as pessoas estão falando e pensando sobre o cenário político, esses recursos conseguem fazer uma gestão da imagem dos candidatos e construir discursos seja para conquistar votos ou anular votos em opositores.

"O grande risco disso é a manipulação do próprio processo eleitoral. Sabendo quem é a pessoa e como ela pensa, identifica-se quais são os argumentos mais eficientes no convencimento desse indivíduo. Cria-se assim um filtro bolha, que leva a uma opinião empobrecida e limitada, sem acesso a outros pontos de vista a partir das diferenças, em um ambiente de indução e controle totalmente sem transparência, verdadeiras ameaças à democracia", aponta Andre Miceli, coordenador de digital business da FGV e especialista em sociedade digital. 

Durante as recentes eleições americanas foram contratadas empresas para tratar dados pessoais coletados por meio de inteligência artificial para definir perfis, comportamentos e padrões e, assim, construir mensagens políticas. Esses dados coletados e tratados conseguem identificar quase que individualmente a tendência de voto das pessoas. 

Baseado no direito à transparência no tratamento de dados pessoais, entrará em vigor na Europa em maio a nova GDPR (Regulação Europeia de Proteção de Dados, que determina que um indivíduo tem o direito a obter informações suficientes sobre um algoritmo, como o seu funcionamento e possíveis consequências, que o permitam tomar uma decisão racional autorizando ou se opondo ao uso dos seus dados pessoais. O Brasil ainda não tem nenhuma lei nesse sentido.

"Nesse momento o governo brasileiro não pode fazer muita coisa, além de chamar alguns executivos dessas redes sociais para tentar entender como estão esses processos de publicação de conteúdo, coleta, uso, acesso e venda de dados. É importante deixa claro que é muito mais uma questão ética do que legal, a menos que alguma lei seja efetivamente regulamentada no Brasil", analisa Andre Miceli. 

No fim, o questionamento é: Quais os efeitos colaterais de todo esse processo tecnológico que podemos esperar? Até que ponto a o uso da tecnologia poderá impactar no direcionamento e na escolha dos candidatos por parte dos eleitores e nos resultados das eleições no Brasil? Isso nós iremos acompanhar nos próximos meses. 





Andre Miceli - Mestre em Administração pelo Ibmec RJ, com MBA em Gestão de Negócios e Marketing pela mesma instituição. Coordenador do MBA em Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas (FGV). Já ganhou mais de vinte prêmios de internet e tecnologia, incluindo o melhor aplicativo móvel desenvolvido no Brasil. Certificado no programa Advanced Executive Certificate in Management, Innovation & Technology do Massachusetts Institute of Technology (MIT).   
Autor dos livros “Planejamento de Marketing Digital”, “Estratégia Digital: vantagens competitivas na internet” e “UML Aplicada: da teoria à implementação”. É ainda fundador e Diretor Executivo da Infobase, uma das 50 maiores integradoras de TI do Brasil, e da agência digital IInterativa, atuando com clientes de diversos segmentos

Com advento da AI, a sociedade vai precisar criar novas formas de agir e pensar


As mudanças provocadas pela chegada da inteligência artificial (AI, na sigla em Inglês) vão impactar de diferentes maneiras todos os setores da sociedade, levando a necessidade de se encontrar novas formas de agir e pensar. Essa foi uma das conclusões do seminário "AI View - Inteligência Artificial: para onde vamos?", promovido pela Cantarino Brasileiro, em parceria com o inovaBra habitat, no último dia 27 de março, em São Paulo, que reuniu 21 palestrantes para um público formado por profissionais do setor financeiro, startups, empresas de tecnologia e bancos.  

No evento, acadêmicos, investidores, cientistas, executivos e futuristas demonstraram preocupação com a falta de iniciativas do Brasil para se enquadrar no cenário econômico que será desenhado pela nova revolução em poucos anos. Um dos pontos mais preocupantes é o modelo educacional. "O modelo de educação do Brasil está preparando uma geração inteira de desempregados", destacou Cezar Taurion, sócio e head de digital transformation da Kick Ventures.

"Vimos inúmeras aplicações, porém, ficou claro que AI envolve muito mais do que tecnologia. Sua utilização nos faz refletir sobre diversos aspectos humanos e sociais como ética, privacidade, trabalho, educação e muito mais", afirma Regina Crespo, curadora do seminário. Em sua avaliação foi possível perceber que inteligência artificial já está mudando muitos padrões e status quo em diversos mercados.


Perspectiva de transformação radical - Os participantes do evento destacaram como ponto positivo, a diversidade de assuntos e de visões, que o seminário proporcionou.  Paulo Cheberle, gerente do departamento de inovação do Bradesco, avaliou que "O evento trouxe várias perspectivas sobre o impacto da IA em todos os negócios. A perspectiva é de uma transformação radical. A IA fará parte de nossas vidas de forma acelerada e inexorável".

"Além de falarmos com um público diferenciado, trocamos experiências e recebemos informações de outras áreas, o que agregou positivamente ao nosso negócio",  afirmou Fabíola Paes, especialista em varejo e co-fundadora da Neomode.

Para Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges e Cia, consultoria em varejo financeiro, o AI View combinou referências conceituais e práticas, com visões sob vários ângulos, mostrando que com a inteligência artificial, o futuro está cheio de possibilidades e incertezas. "Depende de como vamos evoluir das possibilidades para a realidade e de como nos transformaremos ao longo do processo."

A gerente executiva da Caixa, Luisa Capurro Botelho de Deus, destacou que o evento AI View convergiu o meio acadêmico, players de mercado,  investidores, startups e pesquisadores em torno do compartilhamento de conhecimento sobre Inteligência Artificial na teoria e na prática proporcionando a troca de experiências e networking em alto nível.

O seminário  "AI View - Inteligência Artificial: para onde vamos?" contou com o apoio da Associação Brasileira de Lawtechs e Legal Techs - AB2L; Associação Brasileira de Inteligência Artificial - Abria; Brasscom; Centria Advisory Investments, FintechLab, IdeiaD e I2A2.



A crise não pode enfraquecer a Receita Federal e o combate à corrupção e à sonegação


Nos últimos anos, o Brasil entrou em um ciclo negativo provocado pelas crises política, econômica e fiscal. Inclusive, o quadro geral do País tornou-se ainda mais nebuloso, recentemente, ao arrastar para o centro da crise os mais importantes poderes institucionais. Mais do que lamentar, momentos como o que vivenciamos hoje exige que sejam mantidas a capacidade de análise e de crítica. Até porque, sem essa condição, seguramente, nenhuma sociedade supera suas dificuldades e avança na busca por desenvolvimento e justiça.

Ao analisar o quadro de grave crise institucional, é possível perceber, mesmo em meio à desordem, um ponto essencial para a busca da normalidade. Precisamos, urgentemente, resgatar o controle da agenda das políticas públicas e a rotina dos ministérios, órgãos e autarquias do Estado brasileiro. É preciso que se restabeleça a normalidade e a rotina do serviço público, responsável pelo atendimento das demandas e necessidades dos cidadãos. 

Como servidor público do cargo de Analista-Tributário da Receita Federal, que pertence à Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil, assisto com extrema preocupação a contaminação das atividades desempenhadas pelo órgão que são essenciais para o Estado Brasil pela grave crise que atingiu nosso país. A agenda da crise se sobrepôs a todas as demais, inclusive, travando o cumprimento de dispositivos de Leis, como no caso da Lei nº 13.464/2017, que instituiu um instrumento de gestão e de melhoria da eficiência da Administração Tributária e Aduaneira e reestruturou a remuneração dos servidores da Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil. 

A Lei nº 13.464 foi publicada há quase um ano no Diário Oficial da União e foi fruto de amplo debate com o governo e após tramitar por todas as comissões e nos plenários da Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Mesmo antes desse processo democrático e transparente de discussão, as propostas foram exaustivamente analisadas e discutidas pela administração da Receita Federal e a representação dos servidores da Casa. Até a promulgação da Lei foram quase cinco anos de debates que possibilitaram a construção de um acordo remuneratório que atendeu a demandas dos servidores, mas, acima de tudo, permitiram a instituição de um instrumento de gestão e de melhoria da eficiência da Administração Tributária e Aduaneira, o Bônus de Eficiência.

Inexplicavelmente, a publicação do decreto que regulamenta o Bônus de Eficiência foi travada pelo governo. Foram cinco anos de debates e discussões intensas visando a consolidação de um instrumento de gestão que busca fortalecer a eficiência da Receita Federal e assegurar um caráter institucional ainda mais sólido para o órgão responsável pela Administração Tributária e Aduaneira na esfera federal. 

Ao não regulamentar dispositivos da Lei nº 13.464/2017, o governo forçou os servidores da Receita Federal a iniciarem uma greve em defesa da instituição e de seus direitos. Desde o início do ano, o governo tem silenciado em relação à regulamentação do Bônus de Eficiência gerando um quadro cada vez maior de insegurança e instabilidade na rotina da Receita Federal.

Seguramente, instituições mais sólidas são mais capazes de responder as necessidades do País, especialmente em momentos de crise. A Receita Federal é um órgão do Estado brasileiro que, mesmo apresentando dificuldades e limitações, desempenha um papel fundamental para a economia do País e, também para o enfrentamento da violência, ao ser responsável pelo combate de crimes, como a sonegação fiscal, a evasão de divisas, a corrupção, o contrabando e o descaminho.   


A saída para a crise que vivenciamos hoje passa, justamente, pelo fortalecimento das instituições, pelo aperfeiçoamento e melhoria da gestão de órgãos públicos e, também pela profissionalização e reconhecimento dos servidores públicos. Enfraquecer e desestabilizar a Receita Federal implica em reduzir a capacidade de fiscalização e controle do Estado brasileiro e não podemos permitir mais esse ataque aos interesses dos brasileiros. 






Geraldo Seixas – presidente do Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita)


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