Especialistas em distúrbios do sono alertam para uso excessivo de medicamentos para dormir, que, embora mais modernos e seguros, ainda podem causar dependência e tolerância
Nas últimas décadas, alguns medicamentos utilizados
para dormir evoluíram significativamente, proporcionando resultados mais
precisos e com menos danos colaterais. Além disso, atualmente, são considerados
mais seguros em termos de intensidade de seus efeitos, apesar de ainda exigirem
cautela.
A principal preocupação dos médicos é o consumo
indiscriminado desse tipo de medicamento, que pode levar à dependência química
e reduzir a eficácia no tratamento da insônia. Ou seja, trata-se de um problema
que já existia no passado e que, apesar dos avanços significativos da indústria
farmacêutica, persiste com essa nova geração de fármacos.
Entre os mais conhecidos atualmente estão o
Zolpidem, a Zopiclona e a Eszopiclona, designados como “Drogas Z” no meio
médico, devido às suas características semelhantes em termos de ação no
organismo e dos efeitos produzidos – conforme explica o Dr. Nilson Maeda,
otorrinolaringologista e médico do sono do Hospital Paulista.
“As Drogas Z têm um período de ação mais curto e
são consideradas mais seguras em comparação aos benzodiazepínicos, como o
Clonazepam, Diazepam e Alprazolam, que eram utilizados nas décadas passadas,
mas hoje não são mais recomendados para o tratamento da insônia. Isso se deve
ao maior potencial dos benzodiazepínicos causarem dependência, síndrome de abstinência,
aumento do risco de queda nos idosos, dentre outros efeitos indesejáveis. Ainda
assim, as Drogas Z também podem causar dependência e tolerância quando
utilizadas por longos períodos e em doses abusivas”, alerta o médico.
Consumo em alta
No caso específico do Zolpidem, atualmente, o mais
popular entre as Drogas Z, dados oficiais indicam um aumento significativo no
consumo do medicamento.
De acordo com informações do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos Controlados, administrado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2018 e 2022, houve um crescimento de 161%
nas vendas do medicamento, que alcançou cerca de 22 milhões de caixas vendidas
em território nacional.
Como agem?
O processo de dependência, segundo o Dr. Nilson,
ocorre porque os efeitos desses fármacos tendem a diminuir com o tempo. “O
cérebro se ajusta à presença do princípio ativo, aumentando ou reduzindo a
sensibilidade dos receptores químicos. Por isso, com o uso contínuo, esses
medicamentos vão perdendo o efeito e começam a exigir doses maiores,
desencadeando a dependência”, explica o especialista, acrescentando que o tempo
recomendado para o consumo desse tipo de medicamento é de até quatro
semanas.
“Não recomendamos o tratamento da insônia somente
com medicação indutora do sono”, enfatiza.
Não é a primeira opção
Na mesma linha, o otorrinolaringologista e
especialista em distúrbios do sono, Dr. Lucas Padial, também do Hospital
Paulista, explica que o uso de remédios não deve ser a primeira opção para o
tratamento da insônia.
“Antes de mais nada, a origem desse distúrbio deve
ser bem investigada para direcionar um tratamento efetivo. O uso de medicações
não é, cientificamente, a primeira opção para o manejo da insônia. Elas podem
ser pontualmente utilizadas, especialmente em casos de insônia aguda, ou seja,
aquela que dura menos de três meses”, ressalta.
Para pacientes que já fazem uso recorrente desse
tipo de medicamento, o médico explica que o desafio é reduzir o consumo
gradualmente.
“Reduzir a medicação de forma gradual passa a ser o foco do tratamento. Como,
neurobiologicamente, o paciente ainda necessita dessas medicações, o tratamento
envolve diminuir a dose progressivamente, enquanto, paralelamente, são
aplicadas medidas de higiene do sono, mudanças comportamentais e até o auxílio
de outras classes de medicamentos (que não provocam vício)”, afirma.
Dessa forma, conforme o Dr. Lucas, o desmame ocorre
de maneira mais saudável. “Se as medidas forem realizadas corretamente,
especialmente com a dedicação ativa do paciente, é possível abandonar o uso
dessas medicações e restabelecer uma relação saudável com o sono.”
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