Os impactos do diagnóstico tardio e destaca avanço
recente aprovado pelo FDA para identificar sinais do transtorno já a partir dos
16 meses de idade
O
autismo pode estar presente, mas não ser percebido — e é justamente esse o
maior desafio para milhares de famílias. No mês de abril de Conscientização do
Autismo, a referência em psicologia e neuropsicologia e saúde mental em todas
as fases da vida, a especialista Tatiana Serra, da capital paulista, reforça a
importância de olhar com atenção para o chamado “autismo invisível”: casos em
que os sinais são sutis, muitas vezes atribuídos a traços de personalidade ou
fases do desenvolvimento.
“Quanto
mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de intervenções eficazes que
melhorem a qualidade de vida da criança e da família. O cérebro infantil é
altamente plástico nos primeiros anos de vida, e intervenções precoces podem
fazer toda a diferença”, explica a psicóloga.
Embora
o diagnóstico precoce ainda enfrente barreiras — tanto pela dificuldade de
acesso a profissionais especializados quanto pela escassez de instrumentos
objetivos — um novo avanço traz esperança, no ano passado, uma técnica de
rastreamento ocular recebeu aprovação do FDA (a agência reguladora dos EUA)
como ferramenta diagnóstica oficial para o Transtorno do Espectro Autista
(TEA).
“O
exame, indicado para crianças de 16 a 30 meses, consiste na apresentação de uma
sequência de vídeos infantis enquanto um computador rastreia 120 vezes por
segundo os movimentos oculares da criança. A tecnologia analisa para onde o
olhar é direcionado em cada cena e compara com os padrões de crianças típicas
da mesma idade. A partir dessa análise, é possível identificar em minutos se há
padrões de atenção característicos do espectro autista”, explica Tatiana.
“É
um avanço promissor porque permite um diagnóstico menos subjetivo, baseado em
evidências visuais e comportamentais, que muitas vezes escapam mesmo aos olhos
mais atentos dos pais ou professores”, comenta. A psicóloga ainda lembra que,
muitas vezes, crianças com autismo leve ou com boas habilidades verbais passam
despercebidas nos primeiros anos escolares. “Essas crianças podem sofrer
silenciosamente com dificuldades de socialização, crises sensoriais ou
hiperfoco, sem receber apoio adequado”, afirma.
Tatiana
ainda ressalta que o diagnóstico não deve ser temido, mas compreendido como um
passo fundamental para o desenvolvimento da criança. “Saber é o primeiro passo
para acolher. Quando a família entende o que está acontecendo, pode buscar
estratégias que respeitem e fortaleçam a individualidade da criança.”
O mês de abril reforça que conscientizar é também democratizar o acesso à informação, ao diagnóstico e ao cuidado. E, como diz Tatiana, “quando enxergamos além do comportamento, começamos a ver o ser humano por inteiro”.
Tatiana Serra, psicóloga e neuropsicóloga - Neuropsicóloga pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (2014), analista do Comportamento pela Universidade de São Paulo (USP). Experiência de mais de 10 anos em Análise do Comportamento e Transtorno do Espectro do Autismo e desenvolvimento de famílias e equipe.
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