Ginecologista
explica que envelhecimento feminino e menopausa sempre foram um tabu, mas não
há porque temê-losEnvato
Aos 48 anos, Maria Augusta Andrade sentia o corpo
mudar. Ondas de calor a consumiam, a insônia a perseguia, e a névoa cerebral
(episódios de esquecimento constantes) a deixava desorientada. O medo se
instalou: era a menopausa, um fantasma que ela nunca havia parado para encarar.
Como muitas mulheres, Maria carregava o peso de
tabus e desinformação. A menopausa era vista como o fim da vida fértil, a porta
para a velhice e invalidez. Sem referências ou apoio, ela se viu mergulhada em
um mar de dúvidas e angústias.
"Eu tinha medo de me tornar invisível, não só
para a sociedade, mas também para o mercado de trabalho", confessa Maria.
"A sociedade nos ensina que a mulher só tem valor enquanto é jovem,
fértil. E a menopausa parecia ser o fim de tudo isso. Eu achava que ficaria
inválida".
Hoje, aos 52 anos, Maria se sente melhor do que
nunca. Após buscar ajuda profissional, ela entendeu que a menopausa não era um
fim, e sim um novo começo. “Iniciei a terapia de reposição hormonal (TH) e me
senti revigorada, ajudou muito no tratamento dos sintomas”, cita.
De acordo com a Dra. Alexandra Ongaratto, médica
ginecologista especializada em ginecologia endócrina e climatério e Diretora
Técnica do primeiro Centro Clínico Ginecológico do Brasil, o Instituto GRIS, a
menopausa é uma fase que deve ser tratada como qualquer outra na vivência da
mulher.
"É fundamental destacar que isso não deve ser
encarado como um obstáculo intransponível na vida das mulheres. Muitas vezes, o
receio de entrar nesse momento da vida está associado ao medo de se sentirem
menos capazes”. No entanto, a médica ressalta que existem diversas opções de
tratamento e terapias hormonais que podem não só amenizar, mas também eliminar
os efeitos da menopausa no corpo da mulher.
O que dizem as pesquisas
Segundo as informações apresentadas pelo Silicon
Valley Bank (SVB) no compilado anual "Innovation in Women's Health"
de 2023, os sintomas não tratados da menopausa, incluindo ondas de calor,
ressecamento vaginal, confusão mental, insônia e ansiedade, têm um impacto
substancial no bem-estar e na produtividade diária das mulheres.
Com 20% da força de trabalho nos Estados Unidos
composta por mulheres na menopausa, os custos associados à perda de
produtividade no trabalho atingem a cifra de US$ 1,8 bilhão anualmente,
conforme relatado pela Mayo Clinic (organização sem fins lucrativos da área de
serviços médicos e de pesquisas médico-hospitalares sediada nos Estados Unidos)
no documento do SVB.
Além disso, o compilado demonstra que 73% das
mulheres na menopausa não buscam ajuda para seus sintomas. Entretanto,
Alexandra estima que esse número possa ser ainda maior no Brasil. “O tratamento
ainda é um tabu por aqui, muitas pessoas ainda consideram ‘frescura’, quando na
verdade os sintomas têm impacto significativo na qualidade de vida das
mulheres. Além disso, nem toda a população tem acesso devido ao custo”, afirma.
Investimentos na saúde
feminina
Ainda de acordo com o relatório "Innovation in
Women's Health" de 2023, o investimento na saúde feminina cresceu nos
últimos anos nos Estados Unidos e Europa. Contudo, dentre as áreas, a menopausa
ocupa apenas a oitava posição. Os setores que envolvem fertilidade, gravidez e
saúde reprodutiva ocupam as primeiras posições, somando um total de US$ 3.233
bilhões desde 2019. Enquanto a menopausa possui um valor de apenas US$ 223
milhões.
A médica ginecologista aponta uma incoerência entre
dados do IBGE, que demonstram que as mulheres passam mais de um terço de suas
vidas na menopausa, e a falta de incentivo financeiro da área, que possui um
dos menores índices. “Isso só demonstra uma insensibilidade. Não voltamos o
nosso olhar a um período significativo na vida de tantas pessoas”,
fala. No Brasil, o tratamento pelo SUS pode ser uma solução para a falta
de investimento na área. A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal
aprovou um projeto de lei que prevê tratamento para mulheres em climatério e
menopausa pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A iniciativa também institui a Semana
Nacional de Conscientização para Mulheres na Menopausa ou em Climatério.
O projeto, agora encaminhado para análise na
Comissão de Assuntos Sociais (CAS), prevê que o SUS deve oferecer serviços de
saúde específicos para mulheres que enfrentam esse período de transição,
utilizando sua rede de unidades públicas ou conveniadas. Entre os serviços
estão medicamentos hormonais e não hormonais, o SUS vai passar a disponibilizar
os principais hormônios aprovados para a terapia de reposição hormonal, além de
alternativas para mulheres com contraindicações.
Instituto GRIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário