Fonoaudiólogos e
equipe multiprofissional trabalham juntos para restaurar autonomia e
funcionalidade em casos graves
Mirian Dutra estava traqueostomizada, não conseguia
falar e dependia de uma sonda para comer alimentos. Internada na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR),
ela se viu novamente isolada e afastada de sua rotina. Seu primeiro
internamento ocorreu em 2017, após uma embolia pulmonar, e a partir desse
momento, as idas ao hospital tornaram-se cada vez mais frequentes. Seis anos
depois, uma parada cardiorrespiratória e um procedimento neurocirúrgico para
corrigir uma malformação rara a fizeram retornar aos corredores da mesma
unidade, obrigando-a a suspender todos os seus planos e lutar pela vida. Uma
batalha que exigiu o apoio de diversos especialistas e teve a fonoaudiologia
como protagonista.
Enquanto adaptava a voz e fortalecia a deglutição,
a operadora de máquina de bordados Mirian, de 38 anos, percebia as dificuldades
de se comunicar e a impossibilidade de se alimentar por conta própria ficando
para trás. Ela faz parte dos mais de 170 mil brasileiros traqueostomizados pelo
SUS, segundo dados do Datasus. "Mesmo com a traqueostomia, os exercícios
diários tornaram possível voltar a falar e comer, e desistir nunca foi uma
opção", conta a paciente. A fonoaudióloga Franciele Savaris Sória, que
acompanhou de perto a recuperação de Mirian, destaca o papel vital de cada
sessão nesses casos para restaurar e devolver a autonomia. "Utilizamos uma
abordagem variada, que inclui exercícios vocais, massagens intra e extraorais,
manobras específicas de deglutição e treinos articulatórios e
repetitivos", explica.
Trabalho que não para
Diariamente, os fonoaudiólogos de UTIs encontram na
comunicação e na reabilitação ferramentas para transformar vidas. Sua rotina é
marcada pela soma de esforços para cuidar de pacientes e promover uma rápida recuperação
por meio de intervenções precisas. Aqueles que são desafiados a reaprender a
comer e falar descobrem nesses profissionais a esperança para seguir adiante.
"O principal objetivo é não apenas restaurar a funcionalidade perdida, mas
também capacitar cada paciente, orientando-os na conquista pela autonomia e
qualidade de vida", destaca Franciele, que é coordenadora de
fonoaudiologia dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat.
Mesmo diante de um quadro grave de saúde, é sempre
possível melhorar a capacidade funcional e restaurar a independência do
paciente, diminuindo o risco de complicações associadas à permanência no leito.
Essa atuação requer uma abordagem cuidadosa e personalizada para alcançar a
recuperação completa. "Com o apoio de um tratamento individualizado e
assertivo, conseguimos reduzir o tempo de internação, as taxas de reinternação
após a alta e as sequelas", enfatiza Franciele. Mas, segundo ela, ainda
existem alguns obstáculos no dia a dia da profissão. "O desafio persiste
em fazer com que as pessoas compreendam e valorizem plenamente o papel
essencial do fonoaudiólogo na recuperação da saúde", acrescenta.
Cuidados intensivos
Fundamentais na recuperação das mais variadas
disfunções, os fonoaudiólogos trabalham lado a lado de uma equipe
multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
nutricionistas, psicólogos e teólogos. Ao perceber o paciente de uma maneira
mais abrangente em relação à patologia, é possível abordar esferas da saúde que
vão além da medicina ou da fonoaudiologia. "Quando unimos profissionais de
diferentes vertentes e realizamos um trabalho em equipe, cumprimos uma
importante missão: cuidar do paciente de forma humanizada, devolvendo-o à vida
normal", afirma o coordenador dos cuidados paliativos dos hospitais
Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, Ronnie Barreto Arrais Ykeda.
"O sentimento é de realização profunda".
A frase de Franciele resume a essência do momento em que os cuidados intensivos
conseguem reintroduzir o prazer de comer a um paciente e devolver a habilidade
de falar e ser compreendido. "Ao trabalharmos em conjunto, testemunhamos
não apenas a melhora imediata, mas também a transformação duradoura na
qualidade de vida dos indivíduos, validando e justificando integralmente cada
esforço dedicado à nossa profissão", completa a fonoaudióloga.
Nos leitos de hospitais, a humanização no
tratamento restitui a esperança para pacientes como Mirian Dutra, permitindo
que eles retomem as atividades cotidianas. Com um acompanhamento mais próximo e
especializado, é possível reduzir o sofrimento e proporcionar um tratamento
mais digno. "Foi bom receber esse cuidado durante a internação no
hospital. Em um momento tão difícil, acabei renascendo do vale da morte e
testemunhando uma dedicação incansável de profissionais que estavam
verdadeiramente preocupados comigo", revela a paciente.
Hospital Universitário Cajuru
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