Especialista em endometriose ressalta importância de quebrar tabus para mais qualidade de vida
As dores ligadas ao período
menstrual têm uma estreita relação com a perda de produtividade das
mulheres. Estima-se que sintomas menstruais sejam responsáveis por quase
nove dias de produtividade perdida no ano, seja no trabalho ou
nos estudos. Além das cólicas, outros fatores afetam a disposição e o
rendimento, como fluxo de sangue muito intenso e oscilações de humor.
Um estudo publicado na revista médica BMJ Journals em 2019, realizado com mulheres na faixa etária de 15 a 45 anos, na Holanda, detectou que apenas 14% das entrevistadas haviam se ausentado de compromissos durante o período menstrual, mesmo com dores. Entretanto, cerca de 81% disseram ter sido menos produtivas por consequência desses sintomas.
Os pesquisadores concluíram que,
anualmente, as mulheres ficam ausentes de suas atividades 1,3 dia ao ano em
decorrência do período menstrual, mas a perda de produtividade é equivalente a
8,9 dias, já que elas não conseguem desempenhar suas atividades normalmente.
As discussões sobre o tema ainda são um tabu, o que agrava a situação, já que muitas mulheres se sentem constrangidas em revelar seus desconfortos a empregadores e coordenadores nas escolas e universidades. Assim, acabam trabalhando e frequentando aulas com dores ou, quando se ausentam, não explicitam o real motivo - o mesmo estudo apontou que apenas 20% das mulheres que estiveram ausentes do trabalho por causa de sintomas menstruais revelaram a verdadeira causa a seus empregadores.
“É necessário aumentar a discussão e a
conscientização sobre o impacto dos sintomas menstruais no trabalho e as
organizações devem estar abertas a isso. Para as mulheres, ainda é
desconfortável falar sobre o tema. Trata-se de saúde e precisamos tornar essa
discussão mais humanizada”, defende Patrick Belellis, ginecologista
especialista em endometriose.
Busca por tratamento
O fato de as mulheres se sentirem
obrigadas a estarem presentes, mesmo sofrendo com as dores, ao contrário do que
possa parecer, contribui ainda mais com a falta de produtividade do que a
ausência delas ao trabalho poderia ocasionar.
“Ter que estar presente e não abordar
seus desconfortos no trabalho, escola ou universidade, também desencoraja a
busca por ajuda na investigação destas dores, que podem ser consequência de
problemas mais complexos, como a endometriose, por exemplo. O acompanhamento
médico é fundamental para que a mulher tenha acesso ao tratamento necessário, o
que pode devolver sua qualidade de vida”, acrescenta o médico.
Embora dor ou desconforto leves possam ser vistos como parte de um ciclo menstrual normal, se ocorrerem de forma mais aguda, afetando atividades cotidianas, é importante buscar ajuda médica.
“Quanto antes a mulher, em idade adulta
ou adolescente, procurar um diagnóstico, mais rápido poderá ter uma rotina mais
confortável. A dor moderada a grave, por si só, não significa necessariamente
que ela tenha endometriose, mas é provável que algo possa ser feito para
reduzir o impacto dessas dores sobre a sua rotina”, alerta Belellis.
O que é a endometriose
A endometriose acontece quando células do endométrio, a camada interna do útero que é expelida na menstruação, acabam se depositando fora da cavidade uterina, causando reações inflamatórias e lesões. É comum que elas se acumulem nos ovários, na cavidade abdominal, na região da bexiga, intestinos, entre outros locais, podendo até mesmo formar nódulos que afetam o funcionamento de órgãos do corpo.
Sem tratamento, a
doença pode atingir formas graves, como a chamada endometriose profunda, que
tem sintomas mais severos e deixam a mulher incapacitada para uma rotina
normal. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, 10% a 15% de
mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) têm a doença.
PATRICK BELLELIS --GINECOLOGISTA Tem ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade. É graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC. Possui título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia -- FEBRASGO. Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Especialização em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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