Uma das minhas características mais antigas que ainda conservo é a curiosidade. Se ouço algo pela primeira vez, quero rapidamente entender o que é aquilo. Se alguém me apresenta um conceito, logo pergunto qual é a sua definição. Se não encontro respostas, faço uma rápida pesquisa (coisa boa essa tal de internet) e não sossego até achar algo que me propicie um entendimento satisfatório. Isso é algo mais forte, quase uma compulsão. Após ouvir algo desconhecido ser citado, se não compreendo, não consigo prestar atenção à conversa.
Pensando nisso,
gostaria de trazer um tema que tem me intrigado: soft skills. Até
pouco tempo atrás, esse termo era algo totalmente desconhecido para mim. Quando
ouvia, pensava ser algo relacionado à liderança, gestão ou coisa do gênero. E,
se realizarmos uma busca da relevância da tal soft skills no Google
Trends, isso fica claro a seguir:
(Figura 1: Buscas pelo termo soft skills via Google Trends) |
Pela figura 1, observa-se o crescimento exponencial da busca após 2018 - ou seja, é algo relativamente novo. Quando fiz minha graduação, 2002 até 2006, esse termo simplesmente não fazia parte do nosso currículo. Agora, vendo essa incessante busca nos últimos tempos, me pergunto: qual é a definição da soft skills? Por que isso é tão procurado na hora de recrutar ou se candidatar a uma vaga de trabalho? Por que há tanta gente falando sobre o tema, mas tão pouca compreensão?
Para responder essa pergunta, dei voz a minha curiosidade e fui pesquisar. Já adianto, não foi fácil achar algo confiável, cujas citações mostrassem uma preocupação séria na definição e estudo do tema. Horas de trabalho foram gastas até chegar a uma dissertação de mestrado do ano de 2021, intitulada “Re(pensar) a empregabilidade: a importância das soft skills”, de Cláudia Cristina Gonçalves Pires Lopes, mestre em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão.
Afinal,
qual a definição de soft skills?
Segundo
a autora, o termo soft skills surgiu a partir do conceito de competência que
emergiu nos anos 70 do século passado, através dos estudos de David McClelland
(1973), e tem sido amplamente estudado por diversos autores ao longo dos anos.
Algo
interessante é que Cláudia menciona que o conceito tem sofrido várias alterações
ao longo do tempo, mas sua pertinência reflete sua importância no contexto da
Gestão de Recursos Humanos. Para mim, entender conceitos que se modificam com o
passar dos anos é algo complicado. Afinal, uma definição sólida é condição
fundamental para o entendimento e a estruturação de uma lógica de pensamento em
cima daquilo.
Na
tentativa de explicitar a evolução, a autora propõe uma tabela com 12
definições, de diferentes autores, sobre o que são soft skills. Para
não enfadar o leitor, citarei apenas algumas que mais me chamaram a atenção:
-
Mertens (2004): Habilidades que não estão relacionadas com a formação técnica,
mas que contribuem para a adaptação do indivíduo ao mercado de trabalho;
-
Schulz (2008): Conjunto de traços de personalidade e aptidões sociais que
incluem a facilidade de comunicação, a simpatia e o otimismo;
-
Robles (2012): Ferramenta essencial para ajudar os profissionais a alcançar os
resultados desejados;
-
Sgobbi e Zanquim (2020): Competências que podem ser observadas através das
habilidades de comunicação, autoconhecimento, gestão de projetos, espírito de
equipe e capacidade de aprender que permitem um desempenho eficaz;
-
Lopes e colaboradores (2021): Habilidades não cognitivas que os indivíduos
necessitam para um bom relacionamento social no local de trabalho.
Olhando
as definições, fico assustado. Se o recrutador me perguntar se tenho as soft skills
necessárias para a vaga, poderei responder: sim, sou simpático e otimista. Ao
ser indagado novamente pelo recrutador, poderei citar Schulz e seu trabalho de
2008.
Agora,
se a definição para quem estiver me entrevistando for a de Sgobbie e Zanquim,
aí já ficará mais complicado. Terei de provar meu autoconhecimento e espírito
de equipe, além de saber gerir projetos e aprender. Viram? Apesar da
disseminação do conceito, não me parece fácil defini-lo.
A
Cláudia adota uma perspectiva diferente, utilizando as várias definições para
mostrar diversas preocupações ao longo do tempo. Contrapõem o saber-saber e o
saber-fazer pretérito com o saber-ser, mostrando que o foco deixou de ser nas
características individuais e passou a ser a inserção no contexto
organizacional.
Como
adquirir soft skills?
Ao
contrário do conhecimento técnico, que está mais democratizado e acessível, as soft skills,
segundo a autora, resultam de uma construção pessoal e social que deriva das
vivências e aprendizagens adquiridas ao longo da vida. Nessa abordagem, são
mais difíceis de serem adquiridas e padronizadas, sendo necessária uma
avaliação cuidadosa para confrontar os requisitos “soft” da vaga e os
do candidato.
Na
minha percepção, soft skills podem ser desenvolvidas de forma acelerada por
meio de treinamentos. Não é uma característica fixa do indivíduo,
principalmente se considerarmos os meios hoje disponíveis. Se optarmos pela
adoção da abrangente definição de Sgobbi e Zanquim, conseguimos desenvolvê-las
nos alunos.
A
comunicação, por meio de treinamentos específicos, é passível de
desenvolvimento. Cursos como Comunicação para Inspirar e Comunicação
Assertiva, por exemplo, podem ser boas escolhas para otimizar a
produtividade das equipes - a comunicação, aliás, corresponde a mais de 64% dos
problemas nas empresas, segundo Estudo de Benchmark do PMI realizado em 2019.
Tais desafios podem ser atenuados se a empresa investir na capacitação.
Para
as demais soft skills citadas, também há maneiras formais e
padronizadas de desenvolvimento. Há plataformas, como as nossas, que atendem o
profissional em sua plenitude, sendo um importante suporte para o seu
desenvolvimento profissional completo.
Há
iniciativas, como o Programa 5S, por exemplo, que traz aspectos importantes
para melhorias na empresa - como clima organizacional, limpeza e padronização
do ambiente e de processos. Assim, além de desenvolver a parte técnica, o
colaborador aprimora seu autoconhecimento, espírito de
equipe e a capacidade de aprender. A todo
momento, o aluno é instigado a entender o seu contexto e adaptar o conteúdo ao
seu ambiente. Isso, no médio prazo (5 anos), desenvolverá as soft skills
de maneira robusta.
Para
encerrar, deve-se tomar um cuidado especial com promessas tentadoras de ganhos
rápidos. Não há pudim instantâneo e nem almoço gratuito. Cursos
que prometem melhorar sua capacidade emocional, cultural e de aprendizado em
horas geralmente não refletem toda a complexidade da definição das soft skills.
Resumindo: apesar da grande busca e interesse pelo termo, soft skills não são algo de fácil definição. A abrangência e a constante mutação do seu significado tornam complicado seu entendimento. Entretanto, ao se estudar as diversas abordagens, pode-se concluir que elas não são tão diferentes das competências técnicas. Afinal, tudo é passível de aprendizado se feito em uma boa escola e de forma estruturada.
Ao ser questionado
sobre o tema, devolva com outra pergunta: o que é soft skills para
você? E só desenvolva explicações e análises após saber o que o conceito
significa para seu interlocutor. Sem isso, a tentativa de entendimento pode
ficar comprometida.
Virgilio
Marques dos Santos - CEO da FM2S Educação e Consultoria
Nenhum comentário:
Postar um comentário