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quarta-feira, 1 de junho de 2022

O que é essa tal de soft skill? É importante?

Uma das minhas características mais antigas que ainda conservo é a curiosidade. Se ouço algo pela primeira vez, quero rapidamente entender o que é aquilo. Se alguém me apresenta um conceito, logo pergunto qual é a sua definição. Se não encontro respostas, faço uma rápida pesquisa (coisa boa essa tal de internet) e não sossego até achar algo que me propicie um entendimento satisfatório. Isso é algo mais forte, quase uma compulsão. Após ouvir algo desconhecido ser citado, se não compreendo, não consigo prestar atenção à conversa. 

Pensando nisso, gostaria de trazer um tema que tem me intrigado: soft skills. Até pouco tempo atrás, esse termo era algo totalmente desconhecido para mim. Quando ouvia, pensava ser algo relacionado à liderança, gestão ou coisa do gênero. E, se realizarmos uma busca da relevância da tal soft skills no Google Trends, isso fica claro a seguir:

(Figura 1: Buscas pelo termo soft skills via Google Trends)

Pela figura 1, observa-se o crescimento exponencial da busca após 2018 - ou seja, é algo relativamente novo. Quando fiz minha graduação, 2002 até 2006, esse termo simplesmente não fazia parte do nosso currículo. Agora, vendo essa incessante busca nos últimos tempos, me pergunto: qual é a definição da soft skills? Por que isso é tão procurado na hora de recrutar ou se candidatar a uma vaga de trabalho? Por que há tanta gente falando sobre o tema, mas tão pouca compreensão? 

Para responder essa pergunta, dei voz a minha curiosidade e fui pesquisar. Já adianto, não foi fácil achar algo confiável, cujas citações mostrassem uma preocupação séria na definição e estudo do tema. Horas de trabalho foram gastas até chegar a uma dissertação de mestrado do ano de 2021, intitulada “Re(pensar) a empregabilidade: a importância das soft skills”, de Cláudia Cristina Gonçalves Pires Lopes, mestre em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão.


 

Afinal, qual a definição de soft skills?


Segundo a autora, o termo soft skills surgiu a partir do conceito de competência que emergiu nos anos 70 do século passado, através dos estudos de David McClelland (1973), e tem sido amplamente estudado por diversos autores ao longo dos anos.

 

Algo interessante é que Cláudia menciona que o conceito tem sofrido várias alterações ao longo do tempo, mas sua pertinência reflete sua importância no contexto da Gestão de Recursos Humanos. Para mim, entender conceitos que se modificam com o passar dos anos é algo complicado. Afinal, uma definição sólida é condição fundamental para o entendimento e a estruturação de uma lógica de pensamento em cima daquilo.

 

Na tentativa de explicitar a evolução, a autora propõe uma tabela com 12 definições, de diferentes autores, sobre o que são soft skills. Para não enfadar o leitor, citarei apenas algumas que mais me chamaram a atenção:

 

- Mertens (2004): Habilidades que não estão relacionadas com a formação técnica, mas que contribuem para a adaptação do indivíduo ao mercado de trabalho;


- Schulz (2008): Conjunto de traços de personalidade e aptidões sociais que incluem a facilidade de comunicação, a simpatia e o otimismo;


- Robles (2012): Ferramenta essencial para ajudar os profissionais a alcançar os resultados desejados;


- Sgobbi e Zanquim (2020): Competências que podem ser observadas através das habilidades de comunicação, autoconhecimento, gestão de projetos, espírito de equipe e capacidade de aprender que permitem um desempenho eficaz;


- Lopes e colaboradores (2021): Habilidades não cognitivas que os indivíduos necessitam para um bom relacionamento social no local de trabalho.

 

Olhando as definições, fico assustado. Se o recrutador me perguntar se tenho as soft skills necessárias para a vaga, poderei responder: sim, sou simpático e otimista. Ao ser indagado novamente pelo recrutador, poderei citar Schulz e seu trabalho de 2008.

 

Agora, se a definição para quem estiver me entrevistando for a de Sgobbie e Zanquim, aí já ficará mais complicado. Terei de provar meu autoconhecimento e espírito de equipe, além de saber gerir projetos e aprender. Viram? Apesar da disseminação do conceito, não me parece fácil defini-lo.

 

A Cláudia adota uma perspectiva diferente, utilizando as várias definições para mostrar diversas preocupações ao longo do tempo. Contrapõem o saber-saber e o saber-fazer pretérito com o saber-ser, mostrando que o foco deixou de ser nas características individuais e passou a ser a inserção no contexto organizacional.


 

Como adquirir soft skills?


Ao contrário do conhecimento técnico, que está mais democratizado e acessível, as soft skills, segundo a autora, resultam de uma construção pessoal e social que deriva das vivências e aprendizagens adquiridas ao longo da vida. Nessa abordagem, são mais difíceis de serem adquiridas e padronizadas, sendo necessária uma avaliação cuidadosa para confrontar os requisitos “soft” da vaga e os do candidato.

 

Na minha percepção, soft skills podem ser desenvolvidas de forma acelerada por meio de treinamentos. Não é uma característica fixa do indivíduo, principalmente se considerarmos os meios hoje disponíveis. Se optarmos pela adoção da abrangente definição de Sgobbi e Zanquim, conseguimos desenvolvê-las nos alunos.

 

A comunicação, por meio de treinamentos específicos, é passível de desenvolvimento. Cursos como Comunicação para Inspirar e Comunicação Assertiva, por exemplo, podem ser boas escolhas para otimizar a produtividade das equipes - a comunicação, aliás, corresponde a mais de 64% dos problemas nas empresas, segundo Estudo de Benchmark do PMI realizado em 2019. Tais desafios podem ser atenuados se a empresa investir na capacitação.

 

Para as demais soft skills citadas, também há maneiras formais e padronizadas de desenvolvimento. Há plataformas, como as nossas, que atendem o profissional em sua plenitude, sendo um importante suporte para o seu desenvolvimento profissional completo.

 

Há iniciativas, como o Programa 5S, por exemplo, que traz aspectos importantes para melhorias na empresa - como clima organizacional, limpeza e padronização do ambiente e de processos. Assim, além de desenvolver a parte técnica, o colaborador aprimora seu autoconhecimento, espírito de equipe e a capacidade de aprender. A todo momento, o aluno é instigado a entender o seu contexto e adaptar o conteúdo ao seu ambiente. Isso, no médio prazo (5 anos), desenvolverá as soft skills de maneira robusta.

 

Para encerrar, deve-se tomar um cuidado especial com promessas tentadoras de ganhos rápidos. Não há pudim instantâneo e nem almoço gratuito. Cursos que prometem melhorar sua capacidade emocional, cultural e de aprendizado em horas geralmente não refletem toda a complexidade da definição das soft skills.

 

Resumindo: apesar da grande busca e interesse pelo termo, soft skills não são algo de fácil definição. A abrangência e a constante mutação do seu significado tornam complicado seu entendimento. Entretanto, ao se estudar as diversas abordagens, pode-se concluir que elas não são tão diferentes das competências técnicas. Afinal, tudo é passível de aprendizado se feito em uma boa escola e de forma estruturada. 

Ao ser questionado sobre o tema, devolva com outra pergunta: o que é soft skills para você? E só desenvolva explicações e análises após saber o que o conceito significa para seu interlocutor. Sem isso, a tentativa de entendimento pode ficar comprometida.

 

Virgilio Marques dos Santos - CEO da FM2S Educação e Consultoria


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