Interrupção de tratamento pode trazer danos ainda
mais graves, alerta especialista Shutterstock
De todos os temas relacionados à saúde, talvez uma
das questões mais abordadas durante os últimos meses, em decorrência do
isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, tenha sido a mental. Não à
toa, diversos sentimentos vieram à tona durante o período, como medo,
preocupação e ansiedade, por exemplo.
O psiquiatra Rodrigo Lancelotti, que atua no Centro de Atenção Integrada à
Saúde Mental de Franco Rocha, gerenciado pelo CEJAM - Centro de Estudos e
Pesquisas “Dr. João Amorim”, faz um alerta à importância de manter a frequência
e duração total do tratamento, principalmente com o aumento de casos.
Desde o início da década de 1990, o assunto é abordado em campanhas, visando
incentivar a população acerca da importância dos cuidados com a mente. No
entanto, desde o ano passado, as ações ganharam uma força ainda maior por conta
dos impactos da pandemia.
Conforme o psiquiatra, nos últimos meses, a procura por tratamentos em saúde
mental e o conteúdo das queixas dos pacientes estão diretamente conectados ao
tema Covid, pandemia e isolamento social.
“O rompimento abrupto da rotina, a divulgação dos altos índices de contaminados
e mortos, os impactos financeiros e sociais e a falta de contato direto com
parentes e amigos são algumas das questões levantadas durante as sessões”,
destaca o Dr. Rodrigo.
Uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial,
indica que 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um
pouco ou muito no último ano. Esse porcentual só é maior em quatro países:
Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%).
Prejuízos físicos e psíquicos
Segundo o especialista, o tratamento psiquiátrico é dividido em três fases -
aguda, continuidade e manutenção. Por esse motivo, uma interrupção brusca pode
causar sérios danos à saúde mental.
“Interromper o tratamento de forma abrupta ou antecipada, além da retirada de
alguns tipos de medicamentos, pode trazer prejuízos físicos e psíquicos, além
do retorno precoce dos sintomas e, por consequência, uma recaída ou recorrência
da doença.”
O médico afirma que cada caso requer um seguimento de consultas para ajustes e
avaliações clínicas, até que se alcance o objetivo, que é a cura, ou, pelo
menos, alívio do sofrimento e melhora na qualidade de vida.
Sintomas
Nem tudo o que sentimos pode acusar desordem mental. Segundo o especialista, as
múltiplas reações às situações cotidianas fazem parte do ciclo de vida de todas
as pessoas.
“Os momentos bons e ruins se alternam continuamente e a repercussão deles em
cada pessoa é particular, dependendo da singularidade da personalidade de cada
indivíduo”, explica.
Entretanto, o médico ressalta que muitas reações são
adaptativas, como a ansiedade, onde a fisiologia do corpo e das funções mentais
se adequam a uma situação de possível perigo ou de perigo real, assumindo uma
função adaptativa de proteção.
A tristeza, por sua vez, pode aparecer como resposta
a situações desagradáveis, que se manifestam por choro e falta de energia para
as atividades, por exemplo.
De modo geral, o que pode caracterizar um sentimento natural de algo patológico
é o fator desencadeante, a intensidade e a duração dos sintomas e, por
consequência, a repercussão negativa que eles causam nas atividades diárias.
A redução de desempenho, desadaptação e sofrimento são alguns dos sinais. “O papel da família e de pessoas próximas é fundamental,
pois, em muitos casos, o esforço contínuo e desmedido da pessoa em manter sua
rotina é tão grande que não se percebe a privação e os prejuízos em sua
qualidade de vida”, alerta o médico.
Tratamentos
O tratamento dos transtornos psiquiátricos tem como objetivo a melhoria dos
sintomas e a qualidade de vida do paciente. Para isso, a terapia é fundamental
e o uso de medicamentos pode ser indicado em sinergia, para um melhor
resultado.
“A individualização do tratamento faz com que este objetivo possa ser alcançado
de forma mais rápida, adequada e consistente. Portanto, não devemos nos
automedicar jamais ou tomar remédios que conhecidos e familiares digam que foi
bom para o seu caso.”
Segundo o psiquiatra, a terapia sempre deve ser realizada por um profissional
habilitado, pois vai muito além de uma simples conversa ou bate-papo,
respeitando a frequência de retornos e sua duração.
Por fim, o especialista chama atenção para a necessidade da manutenção também
das rotinas diárias, como alimentação saudável, tempo para atividades de lazer
e exercícios físicos, além de evitar excessos de informações, reservar horas de
sono suficientes e não usar drogas.
“Essas recomendações são importantes e de grande valia para todas as pessoas”,
finaliza o médico.
CEJAM - Centro de
Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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