Estar ciente do procedimento e das mudanças é fundamental para o sucesso do tratamento
A cirurgia bariátrica costuma ser um
procedimento que causa muitas dúvidas nos pacientes. Considerada um dos
tratamentos mais eficazes para o emagrecimento, ela não é a cura da doença
obesidade, que é crônica, portanto, o comprometimento do paciente é fundamental
para o sucesso dos resultados, principalmente a longo prazo. É importante estar
ciente de todo o processo e do quanto a mudança de hábitos de vida é
fundamental para a manutenção do peso ao longo dos anos.
Com quase cinco mil cirurgias bariátricas
realizadas, o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho, presidente do Hospital
Galileo e fundador do Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos, conta que o
grande segredo do sucesso é o comprometimento do paciente e o acompanhamento da
equipe multidisciplinar. “Por isso, é feito um preparo do paciente antes da
cirurgia. Ele precisa ser consciente de todas as mudanças que estão por vir, de
como a cirurgia bariátrica vai impactar a sua vida”, comenta. “Quanto mais
ciente ele estiver das mudanças, melhor será sua adaptação”, explica Concon.
Se você está entre as pessoas que
pretendem fazer a cirurgia bariátrica, confira essas informações:
1 – Quem tem indicação para a
cirurgia bariátrica?
Para fazer a cirurgia bariátrica, é
necessário ter IMC (Índice de Massa Corpórea) acima de 40 kg/m2 ou acima de 35
kg/m2, com doenças causadas pela obesidade. Também é necessário comprovar que
tentou, por pelo menos dois anos, tratamento clínico com médicos especializados
em obesidade para perder peso, sem obter sucesso.
2 – É necessário ser acompanhado por
uma equipe multidisciplinar?
Sim, tanto antes quanto depois da
cirurgia. É importante ter acompanhamento e laudo de nutricionista,
endocrinologista, cardiologista, pneumologista, psicólogo/psiquiatra, entre
outros profissionais que forem necessários.
3 – Quais são os tipos de cirurgia
bariátrica?
Basicamente, no Brasil, utilizamos
duas técnicas: a Bypass (ou Gastroplastia em Y de Roux) e a Gastrectomia
Vertical (ou Sleeve). A indicação leva em conta algumas características do
paciente, e a decisão deve ser tomada em conjunto, entre ele e o cirurgião.
Na Bypass, é feita uma redução
importante do tamanho do estômago e um desvio do intestino delgado, e nós não
retiramos nenhuma parte do estômago. Nós fazemos um grampeamento para diminuir
o tamanho do órgão, mas a parte maior continua no paciente. Com esta técnica, o
paciente perde de 35% a 40% do seu peso inicial. A recidiva de peso, ou seja, o
reganho, atinge cerca de 20% dos pacientes.
Já na Sleeve, nós retiramos uma
grande parte do estômago e transformamos a parte que fica no formato de uma
manga, nós chamamos de estômago tubular. Nessa técnica, não há desvio do
intestino. A perda de peso varia de 30% a 35% do peso inicial e a recidiva
atinge uma parcela um pouco maior dos pacientes: cerca de 25%.
4 – Quem escolhe o método da
cirurgia?
O método (Bypass ou Sleeve) deve ser
definido em conjunto pelo paciente e pelo médico, que vai considerar as
necessidades e características de cada paciente. De forma geral, a Bypass é
mais indicada para quem tem diabetes mellitus tipo 2 porque o desvio do
intestino melhora a função pancreática e, assim, melhora muito o diabetes,
reduzindo – e muito – a necessidade do uso de medicações. É uma técnica também
indicada para pacientes com esofagite de refluxo, problema que também melhora
bastante após a cirurgia. A Sleeve costuma ser feita em pacientes sem diabetes
ou com diabetes leve, que pode melhorar já com a perda de peso de cerca de 30%,
e também em pacientes sem sintomas de refluxo.
5 – Existe risco de morte na
cirurgia?
Todo procedimento médico oferece
riscos, mas a cirurgia bariátrica evoluiu muito ao longo dos anos e hoje os
riscos são semelhantes aos de uma cesárea ou retirada de vesícula. O
procedimento por videolaparoscopia é considerado uma cirurgia minimamente
invasiva.
6 – Com o tempo, é possível comer de
tudo novamente?
Sim, após passar por todas as fases
da dieta pós-operatória, o paciente pode comer de tudo, mas vai ingerir uma
quantidade bem menor. No entanto, é importante que ele entenda que a cirurgia é
uma grande oportunidade para que ele mude seus hábitos alimentares, a fim de
não recuperar o peso novamente.
7 – A cirurgia bariátrica é a cura da
obesidade?
Não. A obesidade é uma doença
incurável. A cirurgia bariátrica é um dos tratamentos para a obesidade. Por
isso o paciente terá de mudar seus hábitos após o procedimento.
8 – A pessoa que faz bariátrica pode
voltar a engordar?
Pode. Com o tempo, o paciente
consegue comer quantidades maiores e também aprende a burlar a cirurgia, comendo
coisas mais calóricas. Eu costumo dizer que opero o estômago e não a cabeça.
Por isso, o paciente precisa ter consciência de que a cirurgia não é uma
solução definitiva. Ele terá de fazer a parte dele, com uma alimentação mais
saudável e exercícios físicos regulares. O que é esperado é um reganho de até
10% do peso eliminado, ou seja, se a pessoa emagreceu 50 quilos, ela pode
recuperar até 5 quilos.
9 – É verdade que algumas pessoas
transferem o “vício” da comida para outra coisa?
Sim, pode acontecer. Algumas pessoas
começam a ingerir mais bebida alcoólica, outras viciam em compras... Por isso,
também é importante o acompanhamento psicológico.
10 – É necessário tomar vitaminas por
toda a vida?
Sim. Como a cirurgia altera a
absorção de alguns alimentos, é necessário fazer a suplementação. O tipo de
vitamina será de acordo com os resultados dos exames periódicos de
acompanhamento e deve sempre ser receitada por um membro da equipe (cirurgia,
nutricionista ou endocrinologista).
Dr. Admar Concon Filho - cirurgião
bariátrico, cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Palestrante
internacional, presidente do Hospital e Maternidade Galileo e fundador do Grupo
de Cirurgia Bariátrica de Valinhos. Ele é membro titular e especialista pelo
Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio Brasileiro de Cirurgiões e
Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além de membro titular da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e membro da
International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders.
CRM – 53.577
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