Casos de picadas de serpente e aranha são comuns em cães e gatos e devem ser tratados por um médico-veterinário
Com a chegada do verão, o número de acidentes com
animais peçonhentos sobe e os pets estão entre as vítimas dos ataques de
cobras, aranhas e escorpiões. Os fatores que contribuem para aumentar o
aparecimento destes animais nesta estação do ano estão relacionados ao clima
quente e úmido, propício para a reprodução.
Segundo a médica-veterinária, Elma Pereira dos
Santos Polegato, presidente da Comissão Técnica de Saúde Ambiental do Conselho
Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), é importante
monitorar os pets e evitar que se aproximem de locais próximos a rios, matas,
lixões, terrenos abandonados ou sem limpeza adequada, e construções.
“Animais peçonhentos costumam encontrar abrigo e
alimentos mais facilmente nesses locais. Por isso, é importante manter a
higiene e limpeza de residências, quintais e jardins, evitando a presença
destes animais nocivos no entorno das habitações humanas”, diz.
A médica-veterinária e gestora ambiental Hélia
Maria Piedade, integrante da Comissão Técnica de Animais Selvagens do CRMV-SP,
reforça que a prevenção de acidentes está baseada no cuidado com os locais onde
os pets permanecem ou passeiam. “É importante ter em mente que resíduos
orgânicos atraem baratas e ratos, que por sua vez são as presas preferidas de
muitas espécies de animais peçonhentos, e que a presença de entulhos aumenta o
risco do aparecimento de aranhas, escorpiões e lacraias, pois são abrigos para
essa fauna sinantrópica”, explica.
Além da limpeza dos ambientes, Hélia Maria também
sugere a utilização de guias ao frequentar áreas naturais com os cães, como
parques e beiras de lagos.
COMO OS TUTORES DEVEM AGIR EM CASO DE PICADAS
A curiosidade do pet pode levá-lo a se aproximar de
um animal peçonhento, aumentando os riscos de levar uma picada. A
médica-veterinária Hélia Maria Piedade, orienta que, em caso de suspeita ou
constatação de um acidente com animal peçonhento envolvendo animais domésticos,
principalmente quando há sinais clínicos, como inchaço, sinais de muita dor,
sangramentos e alteração de comportamento, deve-se procurar atendimento
médico-veterinário com urgência. “As chances de recuperação do animal dependem
do tratamento adequado e feito o mais rápido possível”, alerta.
De acordo com Elma Polegato, o tutor não deve, em
hipótese alguma, tentar perfurar, cortar, espremer ou fazer torniquete para
remover o veneno, pois são ações contra-indicadas, que podem causar mais
prejuízo do que beneficiar a saúde do animal picado. “Se for possível, deve-se
olhar atentamente o ambiente onde o pet esteve para tentar verificar qual é o
animal peçonhento envolvido no acidente. O ideal é passar o maior número de
informações possíveis sobre as características desse animal para o
médico-veterinário. É ainda melhor se o tutor conseguir tirar uma fotografia do
animal agressor, tomando os devidos cuidados, para mostrar ao profissional que
fará o atendimento”, explica.
ACIDENTES MAIS COMUNS
Os animais peçonhentos com os quais mais ocorrem
acidentes com pets, de acordo com a médica-veterinária Elma Polegato, são:
escorpiões (o preto e o amarelo); serpentes (coral, jararaca, cascavel,
surucucu); abelhas (africana, européia, africanizada); e aranhas (armadeira,
caranguejeira, aranha marrom, tarântula).
Segundo Hélia Maria, o perfil dos acidentes depende
muito das condições das áreas onde os pets frequentam e são mantidos. “Os
acidentes com cobras costumam ocorrer com maior frequência com os cães que
tendem a expressar comportamento de caça ou de proteção no seu território, mas
gatos também são vítimas. Já os acidentes com aranhas e escorpiões podem
ocorrer com qualquer espécie, pois muitas vezes o pet entra em contato com o
animal peçonhento de forma acidental, causando a lesão”, diz.
FIQUE ATENTO AOS SINTOMAS
O tutor deve estar atento a qualquer perfuração ou
corte na pele do pet, assim como inchaço, sensibilidade dolorosa local e
sangramento. Os membros, o abdômen e a face são os locais mais afetados, indica
Elma Polegato. “Outros sintomas que podem ocorrer são sangramento no subcutâneo
- gengivas, narinas ou pela urina - e vômito. Além de fraqueza, depressão,
distrição respiratória, aumento na frequência cardíaca, edema pulmonar e
diminuição da pressão arterial do animal afetado”, acrescenta.
Hélia Maria diz que os sinais clínicos podem variar
dependendo da espécie de animal peçonhento envolvido, além da espécie do pet.
“Acidentes com cobras tendem a apresentar lesões na pele originadas pela
inoculação do veneno, com inchaço local, que se expande para áreas adjacentes,
provocando muita dor, podendo também ocasionar diarreia e vômito, sangramentos
na lesão ou via nasal. Algumas aranhas podem provocar lesões severas na área da
picada, que podem surgir imediatamente após a inoculação do veneno ou demorar
dias para aparecerem”, afirma.
CASOS ATENDIDOS
Elma Polegato recorda de alguns casos de animais
que sofreram acidentes com animais peçonhentos e reitera a importância de
procurar atendimento veterinário o mais rápido possível. “Recordo de alguns
casos de cães de propriedades rurais que foram envenenados por serpentes e
infelizmente vieram a óbito devido à demora para chegar ao médico-veterinário.
Também recordo de um equino que foi acometido por veneno de serpente em um dos
membros, mas foi atendido a tempo com tratamento de suporte e se recuperou”,
conta.
Nestes exemplos fica claro que o tempo é fator
decisivo para salvar a vida do animal. Outros fatores também podem ser
determinantes, como o local acometido, tamanho do paciente, idade e quantidade
de peçonha inoculada, enfatiza Elma.
Já a médica-veterinária Hélia Maria conta da
experiência clínica de atendimento de muitos casos de acidentes com animais
peçonhentos, na maioria das vezes, entre cães e cobras peçonhentas. “O
prognóstico depende de quanto tempo decorreu do acidente até o início do
tratamento, a evolução dos sinais clínicos após este instituído, além da
utilização de soros disponíveis e indicados para cada tipo de animal
peçonhento, o que torna fundamental a documentação, por meio de foto, por
exemplo, do animal suspeito ou causador do acidente”, explica.
“O objetivo é neutralizar o máximo da peçonha no
menor tempo possível, evitando assim os efeitos sistêmicos produzidos no
animal, os quais podem levá-lo à morte se não for tratado em tempo hábil”,
completa Elma.
As médicas-veterinárias também ressaltam a
importância do acompanhamento do animal por um tempo após o tratamento e
remissão dos sinais clínicos apresentados na fase aguda. “A realização de
exames para averiguar as funções dos órgãos vitais pode ser indicada, de acordo
com a avaliação do profissional que atendeu o animal acidentado”, complementa
Hélia.
Principais cuidados que se deve ter para evitar
acidentes com animais peçonhentos.
- Manter a higiene da casa, incluindo quintais e
jardins;
- Não acumular entulhos e materiais de
construção;
- Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros,
cantos de parede;
- Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos,
forros e rodapés;
- Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em
portas, janelas e ralos;
- Manter limpos os locais próximos das casas,
jardins, quintais, paióis e celeiros;
- Evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras
junto às casas e manter a grama sempre cortada;
- Limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa
de um a dois metros junto ao muro ou cercas;
- Utilizar guias durante os passeios;
- Evitar o acesso dos animais domésticos a áreas
de risco.
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina
Veterinária e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização
do exercício profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando
pela ética. É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos
médicos-veterinários e zootecnistas do estado de São Paulo, com mais de 42 mil
profissionais ativos. Além disso, assessora os governos da União, estados e
municípios nos assuntos relacionados com as profissões por ele representadas.
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