Ah, meu caro Saramago, talvez você soubesse o que aconteceria à humanidade quando escreveu seu Ensaio Sobre a Cegueira. Talvez o tenha feito com ares de premonição. Esperamos, respeitosamente, que não! Mas andamos todos míopes. Agora, mais do que nunca, precisamos de guias que nos conduzam com grandeza pela aridez dos dias.
Uma pergunta comum entre profissionais em ascensão
de carreira é: serei um bom líder? Pergunta essa que permanece incandescente ao
longo da vida dos que ousam fazê-la. Nem sempre é fácil encarar a resposta.
A pandemia expôs fragilidades. Fez com que gestores
despreparados, até então pouco notados, despontassem em sua incapacidade. Ao
mesmo tempo, os bons chefes se tornaram absolutamente indispensáveis.
Talvez o que separe os dois seja nada além de algo
simples e fundamental para as organizações: humanidade. Ingrediente que não se
encontra nos livros, nos títulos conquistados, tampouco nos cursos que tenham
sido feitos. A humanidade é rara.
Quando as coisas ficam obscuras e ninguém consegue
enxergar além, há aqueles que fecham os olhos, calçam as sandálias de Pilatos e
preferem não ver o tamanho do caos. Mas não é para isso que os líderes foram
feitos, não!
Os bons gestores, essenciais no mercado, colocam
óculos! E, mesmo que a vista embace pela névoa da incerteza, usam as lentes de
aumento que carregam no bolso da vida, para ver melhor. É possível que, ainda
assim, não consigam resolver o problema, muitas vezes maior do que eles
próprios. Mas, com óculos, enxergam. E enxergando, guiam.
Um artigo
recentemente publicado na Harvard Business Review constatou que as gestoras
mulheres se saíram melhor durante a pandemia do que os homens. Talvez porque as
mulheres estejam mais acostumadas a buscar seus óculos no fundo da alma, talvez
porque tenham menos medo de pedir ajuda quando não enxergam bem. Ser humano nas
relações de trabalho, especialmente em momentos de crise, é abraçar a própria
vulnerabilidade. E remar com ela.
Tem sido cada vez mais difícil olhar nos olhos
quando a presença física falta. Mas aquele que consegue fazê-lo através da tela
do computador, muitas vezes, salva: a si mesmo e aos outros.
Bertolt Brecht escreveu: “Há aqueles que lutam um dia
e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam por
muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam por toda a vida, estes são os
imprescindíveis.”.
Usem seus óculos, líderes!
Juliana Valentim - jornalista e escritora, com vasta experiência também na área de comunicação corporativa. Autora de três livros, transita por diferentes gêneros literários, passando pelas crônicas, poesias e romances. É palestrante, consultora de escrita criativa e gerencia o perfil no Instagram @palavrasquedancam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário