Sem fiscalização e manejo
adequado, Araucária pode estar extinta nas próximas décadas
Presente na região Sul e em áreas elevadas do Sudeste, a Araucária tem
influência cultural por causa de sua semente: o pinhão, que faz parte da
culinária em festividades juninas
Nesta quarta-feira
(24), comemora-se o Dia Nacional da Araucária, uma árvore ancestral do Brasil,
mas que corre grandes riscos de extinção em razão do desmatamento e dos efeitos
das mudanças climáticas. A Araucária é uma árvore encontrada majoritariamente
na região Sul do País, em um ecossistema da Mata Atlântica conhecido como
Floresta Ombrófila Mista. É a árvore-símbolo do Paraná, por isso também chamada
de pinheiro-do-paraná, estado que, originalmente, concentrava a maior parte do
ecossistema que abriga a espécie.
De acordo com o
Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, em 2019, o desmatamento
no bioma cresceu 27,2%, perdendo um total de 14.500 hectares de floresta. Desse
total, cerca de 24% foram nos estados do Paraná e de Santa Catarina, onde a
madeira da Araucária ainda é usada ilegalmente para, por exemplo, abastecer de
tábuas a construção civil. “Estima-se que hoje a Floresta com Araucárias ocupe
menos de 3% de sua área original, o que a coloca em grande risco de ser extinta
nas próximas décadas se não houver uma mudança por parte dos proprietários
rurais, da iniciativa privada e do poder público na forma como exploram e
cuidam desse que é um dos mais emblemáticos e ameaçados ambientes naturais do
Brasil. Lembrando que o que está em jogo não é apenas uma espécie, mas todo um
ecossistema com uma grande diversidade de plantas, como imbuias e canelas, e
animais, como o papagaio-de-peito-roxo”, afirma Guilherme Karam, coordenador de
Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
A preocupação com
a situação das araucárias não é exagero. Em 2019, um artigo publicado na
revista científica Global Change Biology ficou famoso por prever o fim das araucárias até 2070 se nenhuma
estratégia de conservação for posta em prática para reverter o ritmo de
destruição. O estudo, com participação de cientistas britânicos e brasileiros,
explica que depois de sofrer ao longo do século 20 com o desmatamento
descontrolado promovido por interesses econômicos, o ecossistema tem agora um
cenário igualmente grave para o século 21: o aquecimento global. “A floresta
ombrófila mista ocupa os extremos mais altos e frios da Mata Atlântica
(temperatura anual média de 12-20 ºC, com frequentes geadas), condições que
provavelmente serão cada vez mais raras no futuro próximo”, dizem os
pesquisadores.
Por estar
geograficamente localizada no Sul e em alguns pontos mais elevados do Sudeste
brasileiro (além de pequenos trechos da Argentina e do Paraguai), a Araucária
tem influência cultural nessa região por causa de sua semente: o pinhão,
presença garantida em festividades juninas e comum nos cardápios de
restaurantes e celebrações culinárias durante os meses de inverno. Famosa por
sua copa em formato de candelabro, a Araucária pode chegar a 50 metros de
altura e tem sua origem no período Jurássico de formação da Terra.
Floresta em pé
Para preservar a
espécie e seu ecossistema, a Fundação Grupo Boticário e a Fundação CERTI mantêm
o Araucária+, iniciativa que promove a conservação da Floresta com Araucárias
por meio de um modelo de negócio que proporciona a inclusão socioeconômica de
proprietários de áreas naturais em cadeias produtivas inovadoras. O objetivo da
iniciativa é mostrar a importância socioeconômica da floresta em pé.
Por meio do
Araucária+, proprietários de terra na área da floresta são estimulados a adotar
práticas sustentáveis de manejo do solo e da vegetação, em especial quanto à
colheita das sementes de pinhão e das folhas de erva-mate, que é uma planta
nativa e existente dentro da Floresta com Araucárias. Entre as práticas
acordadas com os proprietários estão a não retirada da totalidade do pinhão
(garantindo uma parte para a alimentação da fauna nativa) e a retirada gradual
do gado de áreas sensíveis, já, que pisoteia e compacta o solo, dificultando a
germinação de sementes das espécies vegetais nativas, fundamental para a
perpetuação do ecossistema.
Em relação ao
manejo de erva-mate, a extração das folhas só pode acontecer fora do período de
floração, que vai de setembro a dezembro, e as árvores precisam ficar com pelo
menos 30% das folhas para que tenham condições de sobreviver. Em contrapartida,
a iniciativa mobiliza sua rede para vender o pinhão e as folhas de mate para
novos mercados que valorizam um produto de origem sustentável e que ajuda a
conservar a biodiversidade.
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