Na
opinião de Marcelo Levites, diretor da Sobramfa - Educação Médica & Humanismo,
cabe ao clínico geral organizar a lista de medicamentos que seus pacientes
tomam diariamente para evitar desdobramentos de risco
Antes de o termo “médico de
família” ser banalizado por iniciativas políticas não muito bem-sucedidas,
cabia a esse profissional centralizar todas as informações da saúde de seus
pacientes, avaliando e organizando toda nova prescrição médica proveniente de um
especialista. Atualmente, essa função cabe ao clínico geral e vem ganhando cada
vez mais importância, já que está aumentando muito o número de idosos
polimedicados – ou seja, que tomam mais de cinco medicamentos
concomitantemente. Dados do NCBI (Centro de Informação em Biotecnologia), nos
Estados Unidos, revelam que 30% dos adultos norte-americanos usam cinco ou mais
medicamentos simultaneamente. Mas essa alta prevalência também é notada no
Reino Unido, Suécia, China, Índia e Brasil. O problema é que a exposição dos
pacientes a múltiplas drogas põe em risco quem tem mais de 65 anos por dois
motivos: 1) a chance de o paciente não compreender por que toma determinado
medicamento é grande e o risco de deixar de fazer o tratamento adequado para
aquele problema de saúde é maior ainda; 2) cerca de 20% das reações adversas
responsáveis pela internação de um paciente se devem justamente por essa
interação medicamentosa sem controle centralizado.
De acordo com a AGE UK,
organização britânica sem fins lucrativos que desempenha importante papel no
amparo dos direitos e necessidades dos idosos, cerca de dois milhões de
pessoas com mais de 75 anos tomam pelo menos sete medicamentos diferentes e
correm risco de morte por interações medicamentosas ou efeitos colaterais de
comprimidos que nem são mais adequados para eles. Em documento, afirmam que uma
em cada cinco prescrições para idosos que vivem em suas casas são inadequadas.
Isso sem contar os fitoterápicos e medicamentos que dispensam prescrições
médicas, que podem ser comprados livremente em drogarias. “Os médicos tendem a
adicionar novos comprimidos cada vez que um idoso desenvolve outra condição de
saúde, mas sem interromper os antigos. Quanto mais medicamentos os idosos
tomam, maior o risco de queda, o que pode levá-los ao hospital. Quase
1.000 idosos por dia são internados no hospital por causa de quedas, e sua
chance de cair novamente se tiverem mais de 65 anos aumenta 14% para cada
medicamento extra que tomam”, diz o relatório. “Em um em cada 50 casos, a reação
é fatal”.
Segundo Marcelo Levites,
médico clínico e diretor da Sobramfa – Educação Médica & Humanismo, os efeitos
colaterais mais comuns em idosos polimedicados incluem náusea, tontura, perda
de apetite e de peso, fraqueza muscular, variações no humor e até mesmo
episódios de delírio. “A ‘polifarmácia’ é um problema relevante. A capacidade
de um idoso processar medicamentos é bastante diferente de um adulto jovem.
Eles são muito mais suscetíveis a efeitos colaterais. Daí a importância de
contarem com um médico que faça revisões regulares desses medicamentos para
garantir que sejam necessários. Evidentemente, medicamentos eficazes cumprem
muito bem suas funções de cura e permitem que pessoas mais velhas vivam com
saúde e melhor qualidade de vida. Mas a combinação de vários medicamentos pode
acabar prejudicando o paciente, ao invés de ajudar. Daí a importância da supervisão.
Como geralmente um médico clínico é capaz de resolver 85% dos males que afetam
as pessoas, cabe a ele esse papel regulador”.
Ainda de acordo com o
relatório da AGE UK, apesar de os medicamentos serem prescritos porque estão
nas diretrizes da doença, não foram testados em ensaios combinados com outros
medicamentos. Talvez até tenham sido testados em pessoas de 60 anos, mas nem
sempre em idosos com mais de 70 anos. Por isso, a entidade solicita
insistentemente uma revisão planejada e pede a inclusão de tratamentos não
medicamentosos. “A atividade física pode ajudar a tratar a depressão,
diminuir a pressão arterial, reduzir a quantidade de insulina que alguém com
diabetes tipo 1 precisa para gerenciar sua condição, e até melhorar a sobrevida
do câncer de mama e cólon. Outras abordagens não medicamentosas, como terapia
sensorial, massagem, música e determinados exercícios físicos podem ser mais
eficazes e mais seguras que os remédios para gerenciar comportamentos
desafiadores em pessoas com demência”, diz o documento.
Levites ressalta a importância da aproximação entre médicos e pacientes
como parte da solução do problema. “Nossos pacientes às vezes relatam que
começaram a fazer tratamento com determinado medicamento, às vezes bastante
forte, sem que o especialista tivesse conhecimento das outras doenças crônicas
que o doente vem tratando. Em outras situações, reclamam dos efeitos colaterais
de um medicamento novo – como ir mais vezes ao banheiro durante à noite,
episódios de dor de estômago, disenteria ou vertigens – que os levaram a
suspender por conta própria o tratamento. Nos dois casos o risco é muito
grande. Da mesma forma que a automedicação é uma atitude criticada pelos
desdobramentos que podem ocorrer, interromper um tratamento por conta própria
pode ser ainda pior, dependendo da doença tratada. Por isso é importante não
tomar nenhuma atitude intempestiva e consultar um clínico ou algum médico de
confiança sempre que houver dúvidas. Nossa equipe médica é altamente preparada
nesse sentido, estando acostumada a transferir esse tipo de conhecimento também
aos estudantes de Medicina durante o estágio na Sobramfa”.
Dr. Marcelo Levites -médico clínico, diretor da Sobramfa –
Educação Médica & Humanismo
Fontes:
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