Ostectomia em cunha, comumente utilizada em cães
e gatos, corrige desvio ósseo; 18 meses após cirurgia, potra tem vida
normal e capacidade para reproduzir. Procedimento também preservou o valor
genético de Puro Sangue Inglês (PSI) do animal.
Uma técnica de cirurgia veterinária inovadora
pode salvar a vida de equinos que nascem com má formação nos ossos: chamada de
ostectomia em cunha, a técnica é inédita em cavalos – muito usada em cachorros,
ela nunca havia sido adaptada para equinos, que têm uma estrutura óssea
diferente dos cães.
Quando a equipe de pesquisadores da
Pontíficia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) recebeu um potro com
desvio ósseo, viu a oportunidade de testar o procedimento.
“O cavalo apresentava significativa deformidade
do terceiro metatarso, que seria a canela, do membro pélvico esquerdo, mas não
foram notados outros problemas de origem óssea”, conta José Villanova Junior,
doutor em Ciências Veterinárias pela PUCPR e responsável pela pesquisa.
O acompanhamento começou cedo: o exame
radiográfico foi solicitado no primeiro dia de vida, com imagens do membro
afetado. Na semana seguinte foram realizados hemogramas e exames bioquímicos.
Após 20 dias do nascimento, o animal foi separado da mãe e enviado à Fazenda
Experimental Gralha Azul, da PUCPR. Lá, foi examinado pelos pesquisadores, que
observaram comportamento normal – apenas a deformidade teve piora, e aos 40
dias pós-parto foi realizada a intervenção cirúrgica.
A anomalia atinge poucos potros, e na maioria dos
casos é notada logo após o nascimento. Para analisar o grau de desvio do osso
do animal, utiliza-se um transferidor ou softwares específicos. A informação
coletada e analisada é utilizada em intervenções cirúrgicas. A cirurgia é
baseada na correção do desvio ósseo do animal e fixação de pinos para que o
osso possa calcificar na forma correta. Com isso, após o período de recuperação,
o potro pode crescer e se desenvolver corretamente.
“Se houvesse demora em todo o processo, poderia
prejudicar o desenvolvimento de outros membros. Seria algo como um efeito
dominó”, explica Villanova Junior. “Vai piorando, especialmente a articulação
um pouco acima do casco, onde as taxas de crescimento são mais rápidas em
recém-nascidos e diminui consideravelmente durante os 6 meses de idade. Por
isso era preciso operar cedo”, completa.
Contra o tempo
Neste tipo de procedimento, a correção é feita com
apenas um mês de vida, tempo crucial para evitar maiores deformidades no
animal. Além disso, o procedimento torna possível salvar o valor genético do
animal já no começo da vida, para uma vida reprodutiva futura.
“Todos nos disseram que não havia alternativa,
exceto a eutanásia. Mas se tivessemos sucesso, ela não perderia o valor
genético, ela poderia reproduzir normalmente”, diz Villanova, que acrescenta
que o animal vem de uma linhagem de corredores. Ou seja, mesmo que ela não
possa correr devido a um desvio na pata, poderá reproduzir filhotes com
genética adequada para a prática esportiva.
Recuperação
Após a cirurgia, o animal foi submetido a
tratamento intensivo para uma perfeita adaptação ao fixador externo e para que
não houvesse sobrecarga nos pinos e barra de conexão fixados aos ossos. Durante
este período, nenhuma complicação foi observada.
A cirurgia foi bem-sucedida: após 180 dias de
pós-operatório de calcificação óssea total, os implantes foram retirados e o
potro passou a se locomover corretamente, realizar todos os movimentos e até
mesmo correr sem dificuldade. Hoje, 18 meses após todo o processo, nota-se que
a potra, carinhosamente chamada de Bailarina, leva uma vida normal e, claro,
teve seu valor genético preservado.
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