Além da
oportunidade de doação, compatibilidade entre doador e receptor e
acompanhamento pós-operatório são essenciais para o sucesso do procedimento
Eliminar impurezas do sangue, manter o equilíbrio
hídrico do corpo e produzir hormônios são algumas das importantes funções
desempenhadas pelos rins. Quando apresentam problemas no funcionamento, deixam
de desenvolver essas atividades corretamente, sendo necessário tratamento medicamentoso
e dietético, para casos menos graves, e tratamento dialítico e transplante,
para casos mais severos.
Em até 80% dos casos os rins podem perder sua
função sem que os pacientes apresentem muitos sintomas. No entanto, uma parcela
de pessoas pode desenvolver pressão alta, fraqueza, anemia, inchaço nos pés e
rosto. Estes são sinais de alerta para que se procure ajuda médica o mais
rapidamente possível. Algumas doenças como hipertensão arterial, diabetes,
nefrites, anomalias anatômicas do aparelho urinário e infecções urinárias
frequentes podem levar a uma futura necessidade de diálise e, possivelmente, um
transplante renal.
Segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais
(SIG) do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e SIG/SP, a lista de espera de
potenciais receptores ativos de rins no Brasil chegou a 23.262 em fevereiro de
2019. Aproximadamente 51% destes estão no estado de São Paulo, 12% em Minas
Gerais, 4,5% na Bahia e 4,3% no Rio de Janeiro. Além disso, pouco mais de
430 pacientes também esperam pelo transplante de rins e pâncreas.
Exames diagnósticos têm papel fundamental no
sucesso de um transplante
Pacientes que precisam de um transplante têm duas
opções: contar com um órgão de um doador vivo ou falecido. A busca pela doação
de um órgão pode chegar a anos ou nunca se efetivar, mas quando a possibilidade
surge, novas etapas se iniciam. É preciso checar a compatibilidade entre doador
e receptor e o estado de saúde do beneficiado.
No pré-transplante, primeiramente é preciso avaliar
a tipagem sanguínea, que seguem as mesmas regras da doação de sangue,
independente de fator positivo ou negativo. Segue-se a análise dos Antígenos
Leucocitários Humanos (HLA), que avalia os leucócitos ou células brancas do
sangue e identifica a compatibilidade entre os indivíduos. Por fim, a
prova-cruzada de linfócitos (cross-match), mostra se o receptor tem anticorpos
dirigidos contra os antígenos do doador e se rejeitará o órgão. Receber um
órgão de alguém com antígenos semelhantes, aumenta o êxito do transplante.
Além disso, exames para avaliar o estado geral de
saúde do receptor são necessários, como a uretrocistografia miccional e
retrógrada (avalia função da bexiga e ureteres), raio X de tórax, eletrocardiograma,
avaliação dentária e consulta ginecológica, para mulheres, ou exame de
próstata, para homens, entre outros.
As chances de sucesso de um transplante dependem do
êxito de uma cirurgia de grande porte e das possibilidades de infecção pós
cirurgia e rejeição do órgão. “Além dos exames de histocompatibilidade
realizados no pré-cirúrgico, outros fatores, como a vigilância sobre alguns
vírus deve ser realizada pela equipe médica que acompanha o paciente”, alerta o
coordenador de infectologia clínica do Hospital do Rim e do Hospital São
Luiz-Jabaquara, Dr. Daniel Wagner Santos. O Citomegalovírus (CMV), maior vírus
da família dos herpesvírus humano e comum na população em geral, pode
manifestar doenças em pessoas com sistema imunológico comprometido e em receptores
de transplante de órgãos sólidos (TOS), causando doenças gastrointestinais,
pneumonite, hepatite, encefalite, além de efeitos indiretos como a redução da
sobrevida do paciente, aumento dos riscos de infecções por outros agentes
infecciosos e disfunção do enxerto.
Já o BK Poliomavírus (BKV), vírus também presente
em aproximadamente 90% da população e praticamente inofensivo para indivíduos
imunocompetentes, é uma grande causa de complicações pós-transplante. Este
vírus está associado à nefropatia pós-transplante renal, causando danos e perda
do enxerto, ainda nos primeiros dois ou três anos pós-transplante. “Os exames
moleculares têm sido importantes ferramentas para acompanhamento do paciente
transplantado. No caso do BKV, é possível detectar o vírus precocemente na
urina. Com um resultado positivo é possível prever uma futura nefropatia e
tomar medidas preventivas”, explica o infectologista. Também o Epstein-Barr
Vírus (EBV) está presente entre 3 e 5% dos transplantados de rim. Quando
detectado no paciente, é necessário alterar o regime de imunossupressão,
evitando o adoecimento.
A técnica de PCR (Reação em cadeia da Polimerase)
consiste em amplificar milhares de vezes uma região específica de DNA, gerando
ao longo de seus ciclos uma grande quantidade de ácido nucleico, a qual é
utilizada para uma análise rápida e de alta sensibilidade. Na detecção do CMV,
a técnica é mais informativa que a tradicional sorologia, permitindo a
quantificação da carga viral do DNA do vírus. “Com a quantificação da carga viral
é possível definir a progressão da doença e estabelecer estratégias antivirais
profiláticas e terapêuticas precoces”, conclui Dr. Daniel.
Além do monitoramento de alguns vírus e manutenção
de hábitos saudáveis, o paciente transplantado deve fazer uso de medicação
contínua que ajuda a evitar a rejeição do órgão. Cuidados essenciais para
melhoria da qualidade e expectativa de vida.
Mobius Life Science
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