Há uma parcela da sociedade brasileira
que, tendo emprego, joga politicamente contra quem está desempregado. Na
verdade, são militantes da recessão, do endividamento, do calote. Imediatistas,
creem que os problemas podem ser permanentemente empurrados com a barriga, como
se o ventre tivesse o dom de deslocar, também, o precipício.
Você jamais os ouviu criticar
privilégios. Articulam-se num círculo de proteções recíprocas. Juntam-se nas
galerias dos parlamentos e rejeitam quaisquer medidas que visem a corrigir as
imensas distorções e injustiças que afetam a vida nacional. Têm fé religiosa no
Estado, que veem como o colo protetor, malgrado todas as demonstrações de que
ele só cuida bem de si e dos seus.
A pressão política desses conglomerados
de interesses públicos e privados que se nutrem no mamoeiro estatal, são, em
uníssono, contra as privatizações, contra a reforma da Previdência, contra
qualquer medida que vise a reduzir o peso do Estado e sua influência no sistema
de ensino do país. Afinal, é ali que opera o torno onde se esculpem os
conceitos e se conquistam corações e mentes.
Muitos aspectos de nossa realidade
seriam diferentes se existisse no Brasil uma Central Única dos Desempregados
(CUD). Uma entidade que reunisse os brasileiros em busca de ocupação – 13
milhões contados pelo IBGE –, dispondo de força de mobilização, certamente
estaria apoiando ideias liberais para a economia. Eles sabem que seus empregos
lhes foram tomados pela corrupção, pelo populismo, pela velha política, pela
irresponsabilidade fiscal, pelos privilégios e pela alta carga tributária, pela
ganância do Estado e de quantos à sua sombra vivem. Sabem os desempregados que,
agora, esses mesmos interesses se mobilizam contra a reforma da Previdência,
sem a qual nenhum investidor haverá de confiar no Brasil para aqui empreender.
Uma Central Única dos Desempregados os
informaria que sete
de cada dez indústrias que se instalam no Paraguai
pertencem a investidores brasileiros, que vão em busca de menores custos
trabalhistas, energia mais barata e tributos menos onerosos. Uma CUD teria
assessoria interessada em aconselhar seus filiados a pressionar os poderes de
Estado por medidas liberalizantes, capazes de atrair investidores. Faria com
que esses infelicitados irmãos nossos fossem às ruas protestar contra as
instabilidades políticas e a insegurança jurídica. Os orientaria a clamar por
infraestrutura adequada à produção e a seu escoamento, por Educação que
qualifique melhor nossos jovens. Os mobilizaria para apoiar medidas capazes de
melhorar a credibilidade do país, revitalizar nossa Economia e ressuscitar,
assim, o mercado de trabalho.
A má notícia para os desempregados é que
há muita gente influente mobilizada contra as medidas que os beneficiariam,
simplesmente porque, assim, mantêm suas posições e vislumbram um possível
retorno ao poder.
Percival Puggina - membro da
Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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