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Exames
laboratoriais mais detalhados podem diminuir a incidência da chamada TRALI
Embora as transfusões de sangue salvem vidas e
devam sempre ser incentivadas, elas não estão livres de complicações. Quadros
alérgicos, de leve a grave, contaminações bacteriana, viral ou por parasitas, e
até mesmo a incompatibilidade transfusional (quando por algum equívoco a pessoa
recebe doação de sangue diferente do seu) são alguns dos riscos associados às
transfusões sanguíneas. Contudo, é a chamada Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à
Transfusão – TRALI, na sigla em inglês - que vêm preocupando médicos hematologistas
ao redor do globo.
Com evolução rápida, podendo ocorrer durante ou até
seis horas após o recebimento de sangue, a TRALI será discutida no próximo
Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, que
ocorrerá em São Paulo, entre os dias 31 de outubro e 3 de novembro. Ainda pouco
conhecida e, por vezes, confundida com outras complicações das transfusões, é
hoje a principal causa de morte associada à transfusão, respondendo por 10 a
15% das ocorrências.
“A TRALI ainda é pouco conhecida da classe médica
mundial, principalmente no Brasil, o que faz com que seja pouco relatada nos
órgãos de controle, contribuindo para uma subnotificação. Além disso, ela
costuma ser confundida com a TACO, que é uma sobrecarga pulmonar do volume transfundido,
com quadro clínico muito parecido”, explica o hematologista Antônio Fabbron,
diretor geral do Diagnósticos Brasil e professor da Faculdade de Medicina de
Marília.
O que é a TRALI, afinal?
Reconhecida como entidade clínica em 1985, a TRALI
é uma complicação grave relacionada às transfusões sanguíneas, sobretudo
aquelas que contêm mais plasma. Isso porque no plasma do doador pode haver a
presença dos anticorpos anti-HLA (Antígeno Leucocitário Humano) e anti-HNA
(Antígeno Neutrofílico Humano), e seus subtipos, que quando encontram antígenos
correspondentes na pessoa que está recebendo a doação, podem levar a uma
ruptura dos capilares pulmonares, gerando um quadro agudo de edema de pulmão.
No geral, a TRALI ocorre entre uma e duas horas
após o recebimento do sangue. Porém, há casos em que os pacientes demoram até
seis horas para apresentar os sintomas. Clinicamente, a pessoa acometida pela
doença costuma ter um quadro agudo de falta de ar, queda de pressão e febre.
Vale lembrar que nem todas as pessoas desenvolvem a
Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão. A incidência é maior em
pacientes com algum tipo de infecção, que passaram por cirurgia cardíaca, de
tórax, ou com câncer. “O indivíduo já está em uma condição de base ao receber o
anticorpo”, ressalta Fabbron. O diagnóstico da TRALI é feito por meio de Raio-X
do tórax, pela constatação de queda na saturação de oxigênio do sangue e pela
ausência de problemas cardíacos concomitante. O tratamento consiste na
interrupção da transfusão e oferta de oxigênio por cateter nasal ou por
respiradores após intubação traqueal.
Uma luz no fim do túnel
Atualmente, sabe-se que pessoas que já receberam
transfusão e, principalmente, mulheres com um ou mais filhos, têm maior
probabilidade de apresentarem os anticorpos desencadeadores da TRALI. No caso
das mulheres, a frequência aumenta conforme o número de gravidezes, visto que o
contato do sangue fetal com o materno faz com que a mãe possa formar
anticorpos.
Dessa forma, hoje, a principal maneira de prevenção
da TRALI se dá por meio dos questionários que os doadores de sangue preenchem
antes da doação. Por ele, é possível identificar os grupos com maior
prevalência dos anticorpos anti-HLA e anti-HNA e assim evita-se a transfusão do
sangue doado por este grupo. Quando o sangue doado apresenta um risco maior de
levar a TRALI, pode-se direcionar a doação para outra finalidade, como a
produção de hemoderivados, a exemplo do Fator VIII de Coagulação para
hemofilia.
Porém, o rastreamento pode ser mais preciso com a
adoção de um teste rápido desenvolvido pela One Lambda e comercializado
exclusivamente pela Biometrix Diagnóstica. Trata-se do kit LABScreen® Multi,
que é capaz de realizar a triagem de anticorpos contra antígenos HLA de Classe
I e II e antígenos HNA.
“O produto já tem registro nos Estados Unidos, onde
a utilização está se tornando rotineira. Aqui, já temos o registro na ANVISA,
mas o teste ainda não é contemplado pelo SUS, nem em laboratórios particulares.
Apesar disso, acredito que com base na provável frequência dos anticorpos na
população de doadores, a tendência é que seja adotado rapidamente”, explica
Marcelo Mion, gerente do laboratório da Biometrix.
Segundo Mion, o teste utiliza uma forma de
diagnóstico pela metodologia molecular, que avalia o soro e verifica a presença
dos anticorpos em uma triagem para doação. Na avaliação dele, a adoção do
teste em larga escala facilitará o desenvolvimento de estratégias de prevenção
da TRALI, além de aumentar o número de doadores.
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