Em uma das minhas aulas, um aluno
me perguntou se filosofia de serviços era a mesma coisa que cultura
organizacional. Achei muito interessante a pergunta e vou aproveitá-la aqui
para fazer uma breve reflexão sobre o assunto.
Então vamos falar primeiro sobre
filosofia de serviços. Tenho afirmado que uma das grandes lacunas observadas
nas empresas é a ausência de uma filosofia sobre a sua forma de atuação. Elas,
de um modo geral, se contentam e se limitam em estabelecer processos (e suas
revisões) que se derivam em procedimentos, imaginando que por essa forma
cartesiana de conduzir as tarefas conduzirão a empresa para o patamar da
excelência em serviços. A profusão de insucessos por esse método não tem sido
suficiente para evidenciar que por esse caminho não se alcança o porto seguro
da excelência. Daí a minha ênfase de se buscar uma base filosófica que, ao meu
ver, é imprescindível para aqueles que almejam os seus serviços se aproximando
da perfeição. (Esse é um tema que desejo escrever em breve: a perfeição nos
serviços)
Mas o que queremos dizer com
filosofia? Em princípio, estabelecemos uma filosofia com a esperança de
mudarmos o modo como pensamos as coisas, para alterarmos a mentalidade dominante.
Temos de, primeiramente, mudarmos a forma de pensar para depois mudarmos a
forma de fazer. Filosofia traz ainda em si, ao contrário de uma política
comercial, por exemplo, a ideia de alguma coisa que possa ser praticada, ou
melhor ainda, vivenciada, experimentada. Podemos definir assim: filosofia de
serviços é um conjunto de crenças, princípios e proposições que tem a
finalidade de inspirar, mobilizar, moldar e reger a maneira de uma instituição
ou empresa de conceber e conduzir as suas atividades, caracterizando o seu
desenho e comportamento organizacional rumo a centralidade do cliente e a
excelência em serviços.
Claro que há muito o que dizer
com o detalhamento das características desse conceito. Mas quero aqui destacar
apenas um aspecto.
A definição de sua finalidade
envolve quatro verbos criteriosamente escolhidos: inspirar, mobilizar, moldar e
reger. Esses quatro verbos servem para alicerçar os fundamentos para uma
mudança de mentalidade. Vamos notar que os dois primeiros, inspirar e
mobilizar, têm quase que, por assim dizer, um toque de subjetividade, um tom
quase que espiritual. Apenas uma filosofia pode ser assim. Inspirar tem uma
ideia de infundir, sugerir, incutir. Grupos organizados que trabalham sob uma
filosofia devem ser influenciados para um propósito que faça sentido para eles.
Diz Dave Ulrich no prefácio de seu livro Por que trabalhamos: “Como os bons
líderes podem criar, para si mesmos e para outras pessoas, um sentido de
abundância (significado, esperança, prazer) que não apenas envolva os
empregados, mas transmita valor para clientes, investidores e comunidades. ”
Ele nos conta que nas suas atividades muitas vezes encontra líderes que
formulam grandes estratégias, estruturas e processos, mas que omitem o coração
e o espírito que fazem das organizações lugares significativos para trabalhar.
Essa é a função filosófica da inspiração.
Mas temos também o imperativo de
“mobilizar”. Aí encontramos o ato de entusiasmar, cativar, empolgar. São
atributos filosóficos. Uma instituição rumo à excelência precisa trabalhar com
a ideia de engajamento. As pessoas precisam estar mobilizadas, mais ainda do
que motivadas. Como diz ainda Dave Ulrich, “trabalho sempre será trabalho – às
vezes monótono e rotineiro, outras vezes nos esgotando ao máximo – mas acreditamos
que o trabalho ainda pode contribuir com mais do que apenas dinheiro para
nossas vidas.” A arte de mobilizar pessoas e engajá-las em uma atividade que
faça sentido para elas, ainda que rotineira e monótona, se torna um dos grandes
desafios para líderes predispostos a construir uma empresa de excelência.
Temos ainda os verbos moldar e
reger. Moldar deve ser aqui entendido como a implantação de parâmetros para
aspectos comportamentais de seus gestores e funcionários. Assim, o “moldar” vai
interferir no estilo de vida do capital humano da empresa. Reger traz, por
outro lado, no seu sentido de administrar, dirigir e conduzir, os aspectos
estruturais e da operacionalidade da empresa.
Aí está, em brevíssimas palavras,
a ideia de uma filosofia de serviço. Voltemos então a nossa questão
inicial, ou seja, filosofia de serviço é a mesma coisa que cultura
organizacional?
Se tomarmos o conceito descrito
por Chiavenato, teremos o seguinte: Cultura organizacional reflete a maneira
como cada organização aprendeu a lidar com o seu ambiente. É uma complexa
mistura de pressuposições, crenças, comportamentos, histórias, mitos, metáforas
e outras ideias que, tomadas juntas, representam o modo particular de uma
organização funcionar e trabalhar. Não é o meu objetivo aqui me estender sobre
esse tema, mas uma simples observação permite constatar que existem pontos de
contato entre cultura organizacional e o que definimos como filosofia de
serviços. Porém, para se responder objetivamente à questão colocada, deve-se
dizer que não, não se trata da mesma coisa. E quero aqui destacar apenas um
aspecto que considero importante. Uma filosofia de serviços reflete um esforço
consciente engendrado com um propósito bem definido para levar a empresa a um
patamar de excelência. E este é o ponto interessante. Uma cultura existe
independentemente de a empresa empreender algum esforço para o seu
estabelecimento ou não. Uma cultura existe sem qualquer ação em seu nome.
Ela
está lá, estabelecida, objetivamente ou subjetivamente identificável.
Considero
que uma cultura nunca é neutra. E ela é sempre condizente aos objetivos da
empresa, ou seja, não existe uma cultura que se caracterize por ser contrária
ao que uma empresa almeje. O problema que temos de analisar é se ela, apesar de
estar no sentido correto, apresenta aspectos favoráveis ou aspectos
restritivos, que dificultam e fazem resistência no alcance de seus objetivos.
O que, de fato, deve ser
ressaltado é que a construção e a adoção de uma filosofia de serviços visam
exatamente interferir na cultura organizacional, caracterizando-a com fatores
que ofereçam somente aspectos favoráveis, dando-lhe uma oportunidade para uma
mudança consistente de sua mentalidade dominante.
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