Sentimento de
inferioridade em relação a outras raças tem a ver com contexto histórico, mas
pode ser combatido com empoderamento e acompanhamento de profissional
capacitado para o tema
“O
racismo é, antes de tudo, inconsciente e involuntário. Não temos o controle
sobre ele, senão por um processo constante de conscientização”. Com essa frase
de efeito forte, o psicólogo Ronaldo Coelho, da capital paulista, conta que o
racismo se define pela a ideia de que “algumas pessoas se sentem superiores às
outras simplesmente pela raça ou cor de pele”. Por conta da nossa história de
escravidão africana, a forma mais comum de racismo existente no Brasil é em
relação a brancos e negros. “Os brancos, de forma inconsciente, se sentem
superiores aos negros e os negros, também inconscientemente, se consideram
inferiores aos brancos. É o que chamamos na psicologia de racismo
internalizado”, explica Ronaldo Coelho.
Pouco
discutido, o racismo internalizado é aquele que age silenciosamente dentro da
pessoa, que faz com que o oprimido se sabote sem querer por achar que, numa
disputa com alguém de outra raça, ele é inferior. “O racismo mata primeiro a
alma”. Ele também se faz presente nas melhores intenções, como em frases ou até
mesmo pretensos elogios que terminam por demonstrar essa concepção da
desigualdade, como se fosse necessário um branqueamento da pessoa para poder
elogiá-la: “preto de alma branca”, “você não é negra, é morena!”, “você não é
tão negro assim”, ou na hipersexualização, que reforça a imagem como objeto:
“mulata globeleza”, “negão fortão”, etc. “A pessoa pode não ter consciência de
que está partindo de uma ideia de que o negro é inferior ao tentar negar a
negritude do outro para elogiá-lo, mas isso é uma forma de preconceito. O
racismo vai além da ofensa, da injúria, do crime”, diz Ronaldo.
E
como combater isso?
O
primeiro passo é reconhecer que o problema está também nos gestos “nobres” como
a dó, a compaixão, a ajuda e o elogio por parte daqueles que se sentem
(inconscientemente) superiores. Desse modo, o racismo pode ser “traduzido” como
uma “personalidade fraca”, “incapacidade”, “vitimismo” ou “baixa autoestima” do
outro. Ronaldo alerta que esse fenômeno é comum na clínica, composta
majoritariamente por profissionais brancos, que tendem a compreender dessa
maneira o sofrimento causado pelo racismo. Isso ocorre porque muitos desses
terapeutas não possuem uma formação que tenha sido suficiente para que eles
pudessem lidar com seus próprios sentimentos racistas.
“A busca por um
psicólogo que entenda de racismo faz toda a diferença no atendimento à
população negra”, ensina Ronaldo.
O
empoderamento também é importante, principalmente quando iniciado na infância.
Isso pode ser feito com elogios que não aloquem a raça e a cor negra como inferior,
com o cabelo que cresce cacheado como algo bonito, com o reforço de ações
positivas ligadas à raça para que a criança cresça entendendo que ela não é
inferior a ninguém por conta da sua cor de pele. “O racismo internalizado não é
vitimismo e precisa ser combatido. É um trabalho árduo, mas totalmente
possível”, reforça Ronaldo Coelho.
Ronaldo Coelho - Graduado em Psicologia (USP) e Mestre
em Psicologia Institucional (USP). Foi professor de Psicologia Médica do curso
de graduação de Medicina (UNIFESP) e preceptor da Residência Multiprofissional
em Saúde (UNIFESP). Trabalhou em hospitais como Hospital São Paulo e Hospital
Universitário da USP, onde, além da assistência aos pacientes e familiares,
realizava supervisão clínica de atendimentos psicológicos desenvolvidos por
estudantes e psicólogos, orientação de pesquisas e aulas em Psicologia
Hospitalar.
www.youtube.com/conversapsi
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