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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Precisamos falar sobre a depressão entre os jovens



O índice de depressão está aumentando gradativamente ao longo dos anos. Segundo dados do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram encontrados sintomas indicativos de depressão em 21% dos jovens entre 14 e 25 anos. Entre as mulheres o número aumenta para 28%. Ainda se considerarmos dados mundiais, a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 350 milhões já sofreram ou sofrem com a doença.

 Com o aumento dos casos, os pais se preocupam e muitas vezes se questionam sobre como identificar, agir, tratar e prevenir a depressão. Como psicóloga, acredito que para achar as repostas, antes de tudo, precisamos aprender a diferença entre tristeza e depressão, tendo consciência que a primeira é um sentimento e a segunda é uma doença.

 A tristeza é algo que pode atingir a todos em qualquer momento da vida. Suas características são: choro; desânimo; angústia, e até mesmo alguns sintomas físicos como aperto no peito e coração acelerado. Na maioria dos casos ela é passageira, principalmente em contato com experiências positivas. Em minhas consultas, sempre alerto os pais de que qualquer tristeza que dure mais de duas semanas precisa de atenção redobrada. 

 Reconhecida e descrita pelo Código Internacional de Doenças (CID- 10), a depressão pode surgir em qualquer idade, sem precisar necessariamente de motivo e causa intenso sofrimento. Ela pode estar relacionada à tristeza. Seus sintomas mais agressivos costumam ser o desânimo, falta de energia e de interesse até mesmo por atividades consideradas prazerosas. A depressão também pode causar rebaixamento da autoestima, humor deprimido, insônia ou perda da qualidade do sono ou apetite, além da diminuição da autoconfiança, entre outros.

 É fundamental que a qualquer sinal da doença ou até mesmo de uma tristeza persistente, os pais busquem auxilio de um especialista, pois a depressão tem sintomas que às vezes são confundidos com comportamento característico de adolescentes, o que dificulta a identificação.  As escolas e os professores também devem estar atentos aos sinais. É comum, em algumas situações, que o adolescente mantenha uma postura superficialmente estável na presença dos familiares e um comportamento mais instável na escola. Caso isso aconteça, a instituição de ensino  deve comunicar os responsáveis, pois essa atitude é fundamental para ajudar o jovem em questão.

 Outro ponto que acho importante esclarecer é que não existem culpados. A depressão é uma doença causada por fatores externos, ou seja, situações e experiências de vida, fatores biológicos, como alterações hormonais, genéticas ou alteração na produção de neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação neural com nosso sistema límbico, responsável por nossa resposta emocional.

 Ou seja: o que para um pode gerar um trauma irreparável, para outro pode ser vivenciado com menos impacto, causando menos danos emocionais. Não existem regras neste sentido.

 Os pais e os demais familiares podem concentrar sua energia no processo de recuperação e não em buscar culpados. Penso que a participação dos pais é fundamental no processo, pois terão que ser pacientes e confiar no trabalho feito. Há casos em que o paciente tenha que tomar alguns medicamentos. Nesta situação a supervisão da família é extremamente necessária no controle do livre acesso do adolescente ao remédio, não apenas para evitar tentativas de suicídio, mas também assegurar que ele tome a dosagem correta.

 Infelizmente temos muitas notícias recentes de suicídio entre os jovens e adolescentes. Geralmente ele está ligado a fortes sentimentos de angústia e grave sofrimento psíquico. Mas se trata de uma decisão individual, tomada por quem o pratica. Portanto, a culpa dessa fatalidade não pode ser terceirizada.

 Às vezes é possível antever que o jovem está pensando em tirar a própria vida, mas os sinais podem ser sutis. Falta de ânimo discrepante ao habitual, distribuição de objetos pessoais e frequência em que falam sobre a morte são algumas das características que podem ser observadas. Ao notar qualquer sinal indicador de depressão, sofrimento, ou até mesmo do próprio suicídio, é de extrema importância que a família evite que o adolescente fique sozinho e busque tratamento psicológico e psiquiátrico.

 Outro agravante que tem despertado preocupação entre os especialistas e gera controvérsias, é que, ao longo dos anos observa-se que, quando o tema suicídio se torna frequente na mídia, os atos e/ou tentativas aumentam de forma considerável. Essa observação é pertinente com a realidade que vivemos, onde a depressão é o mal do século, por meio do mundo virtual, que muitas vezes isola o individuo, além dos mais recentes e mais comentados como o jogo da Baleia Azul, atividade  via redes sociais, que propõe desafios depreciativos aos adolescentes, como bater fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se, ficar doente e, na etapa final, cometer suicídio, e a série 13º Reasons Why, que relata o suicídio de uma adolescente com depressão.  

 Esse conjunto de situações e fatos promove a discussão do tema entre profissionais da área e familiares preocupados. Esse debate  é muito importante para que os responsáveis possam acompanhar os jovens, principalmente no que diz respeito ao conteúdo que eles têm acesso para orientá-los de forma adequada. A privacidade dos jovens é uma via de mão dupla – ela é importante em alguns aspectos, mas perder o controle do que acontece em suas vidas não pode ser justificado com respeito à privacidade. O ‘não’, faz parte de uma educação saudável e evita que o adolescente perca o equilíbrio emocional de forma desastrosa em situações de frustração.

 Por fim, é importante que pais e/ou responsáveis sejam sempre compreensíveis, demonstrem confiança, encorajem a prática de atividades de lazer ou esportivas e a vida social. É importante também evitar cobranças e frases como “é apenas uma fase”, “se esforce e você ficará bem” ou “existem pessoas com problemas maiores que os seus”. Abra espaço para conversas onde ambos possam expressar suas opiniões, isso fortalece o relacionamento, encoraja e mostra ao jovem que ele está amparado e que sua doença tem cura.




Juliana Bento - psicóloga da Clinica Fares




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