Os movimentos sociais
Brasil Livre, Revoltados On Line e Vem Pra Rua confirmam que o novo protesto
nacional está marcado para domingo, 12, e esperam que mais de 2,5 milhões de
brasileiros participem. Manifestações reivindicatórias são positivas, próprias
da democracia e importantes desde que dentro dos limites da ordem e da
civilidade, como foram as de 15 de março último.
Entendo, todavia, que as
“bandeiras” devem ser não apenas unificadas, mas centradas em temas pontuais,
prioritários para o país e factíveis por parte dos governos – federal,
estaduais e municipais – e que reflitam o real anseio do povo. No último
protesto houve reivindicações descabidas e extemporâneas, como o impeachment de
Dilma e clamor pela volta do regime militar. Isto ocorreu, segundo os
organizadores, por parte de pequenos grupos isolados que protestam
desordenadamente, porém com liberdade de participação nos eventos.
É inegável que o país
passa por situação delicada, política e economicamente, com reflexos sociais. O
governo precisa ouvir a voz das ruas e responder com objetividade. Não adianta
somente reconhecer a legitimidade dos atos, como disse a presidente, nem
atribuí-los a eleitores que não votaram em Dilma, como justificou o ministro da
Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto.
O governo deve deixar
clara a decisão de adotar ações efetivas, como a reforma fiscal, que é
necessária e vai exigir medidas drásticas e sacrifícios dos setores produtivos
e da população em geral. Todavia, não basta somente pedir sacrifícios e
colaboração, é essencial que o poder público dê sua contrapartida reduzindo os
gastos, enxugando o quanto possível a máquina administrativa que é pesada,
onerosa, pouco produtiva e com mínimo retorno efetivo. Deve o governo começar
pela redução do número de Ministérios, muitos dos quais podem ser unificados ou
transformados em Secretarias ou Diretorias sem prejuízo das atividades.
No âmbito federal, não
somente o Executivo deve adotar medidas de austeridade e dar exemplos. O
Legislativo também é perdulário e às vezes até irresponsável. A Câmara Federal
insiste em construir novo anexo orçado em R$ 1 bilhão, com novos gabinetes,
cafeterias, restaurantes, lojas e garagem para 4.400 veículos, além de outros
penduricalhos. Uma obra totalmente desnecessária porque não houve aumento do
número de deputados, e os atuais gabinetes e demais estruturas são suficientes;
os parlamentares (Câmara e Senado) forçam a liberação das verbas de emendas
orçamentárias (cerca de R$ 10 bilhões, no total), a maioria para obras não
urgentes e com o detalhe de que muitas vezes o governo realiza e entrega a obra
que acaba ociosa porque os municípios não conseguem manter e dar a utilização
devida, por falta de recursos e estrutura. E o Judiciário deveria entender a
situação e não se apegar ferrenhamente ao auxílio moradia, uma insignificância
do ponto de vista individual quanto aos altos salários e outras vantagens
percebidas, porém volumoso considerando-se o total, que poderia ir para
projetos de interesse social.
Por tudo isso, o bom
êxito e alcance dos movimentos de rua somente serão possíveis com a unificação
da pauta popular e foco em questões pontuais e urgentes. Do contrário é
desperdiçar o poder de fogo desta importante arma democrática. Talvez por isso,
como efeito das manifestações de março a única resposta com que o governo Dilma
acenou foi um pacote contra a corrupção, que o próprio governo pretende
coordenar.
Luiz Carlos Borges da Silveira - empresário, médico e professor. Foi Ministro da
Saúde e Deputado Federal.
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