Cogita-se
no Congresso a volta da CPMF com alíquota de 0,15% para financiar a saúde
pública e ajudar no ajuste fiscal. Ela garantiria uma receita de R$ 30 bilhões.
Desde
sua criação, a CPMF foi tema de debates acirrados entre os defensores e os
críticos da tributação sobre a movimentação financeira, cuja origem foi a
proposta do imposto único, que previa a substituição de vários tributos de
elevado custo por apenas um. Porém, ela foi criada como um tributo adicional
aos já existentes.
Contudo,
mesmo tendo sido instituída como mais um tributo, a CPMF foi um importante
experimento para a economia brasileira. Revelou-se um tributo de baixo custo,
simples e que dificulta a sonegação.
A
CPMF deixou de existir desde 2008. Mas, vale lembrar que um importante legado
em defesa daquele tributo foi deixado pelo atual ministro da Fazenda Joaquim
Levy, o que reforça sua possível volta.
Em
17/9/2007 o então secretário de Fazenda do Rio de Janeiro, Joaquim Levy,
publicou no jornal Valor Econômico o
artigo “CPMF gera menos distorções na economia que outros tributos”, afirmando
que “a CPMF é hoje um dos tributos que gera menor distorção na economia”. O
argumento de Levy encontra respaldo em vários trabalhos acadêmicos, inclusive
em simulações que produzi para comparar o impacto de um Imposto sobre
Movimentação Financeira (IMF) com o de um sistema tributário tradicional, sobre
os preços de 110 setores da economia (vide capítulo 2 do livro “Bank Transactions: Pathway to the Single
Tax Ideal”, disponível em http://mpra.ub.uni-muenchen.de/16710/1/MPRA_paper_16710.pdf0). Esse é um ponto
de grande importância porque rebate o discurso frequente dos críticos dessa
forma de tributação.
Outro
aspecto do artigo de Levy trata da eficácia administrativa da CPMF em termos de
transparência, custo, combate à sonegação e distribuição do ônus fiscal.
Segundo o ministro da Fazenda, a CPMF tem qualidades pelo fato de “sua
arrecadação ser transparente, verificável e barata, ela alcança agentes que
escapam de outros impostos, aumentando a equidade do sistema como um todo”.
Não
obstante a pertinência dos argumentos esgrimidos a favor da CPMF por Joaquim
Levy, sua pura e simples recriação na atual conjuntura seria polêmica se
utilizada apenas como instrumento de elevação da carga tributária.
Tributação
sobre movimentação financeira não deve ser vista, mais uma vez, apenas como um
mecanismo para socorrer as finanças públicas em situação crítica. Pelo
contrário, deve ser introduzida como referência para uma reforma tributária
voltada à simplificação da caótica estrutura fiscal do país, ao combate da
sonegação, à redução dos custos administrativos das empresas e à melhor
distribuição do ônus entre os contribuintes. O tributo deve resgatar a ideia
inicial de utilização da movimentação financeira como base para a eliminação
dos tributos declaratórios complexos e ineficientes em uso na economia
brasileira.
Marcos
Cintra - doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular
de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003)
e autor do projeto do Imposto Único.
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