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sábado, 27 de maio de 2023

Unbossing: já imaginou trabalhar sem chefe na empresa?

O psicólogo Wagner Rodrigues explica esse conceito paradoxal


O termo Unbossing que quer dizer literalmente "sem chefe" ganhou notoriedade com o sucesso do livro dos autores dinamarqueses Lars Kolind e Jacob Botter lançado em 2012. Kolind implantou um modelo de gestão sem estrutura hierárquica tradicional numa fábrica de aparelhos auditivos em Copenhague. A empresa vinha mal, mas a partir das mudanças feitas por Kolind, começou a apresentar bons resultados.

Apesar de Kolind e Botter mencionarem no livro que Unbossing é um movimento e não apenas um conceito, o psicólogo Wagner R., especialista em psicodinâmica do trabalho, acredita que a humanidade ainda precisa de mais engajamento da comunidade corporativa mundial e de mais exemplos práticos de sucesso.

Para enfrentarem a rapidez das mudanças no mercado e a concorrência por clientes e pelos melhores talentos, as empresas precisam de líderes que promovam um ambiente colaborativo e participativo, inclusivos e saibam desenvolver sua equipe.

Uma pesquisa da empresa Mindsghit com 1260 pessoas que procuravam emprego mostrou que 60% das pessoas já haviam tido problemas de relacionamento com algum chefe. Os entrevistados responderam o que consideram importante para um bom chefe ou líder responsável e comprometido (84%), saber comunicar (83%), possuir empatia (81%), ter capacidade de inspirar (72%) e bom em reconhecer méritos (70%).

Entretanto, o psicólogo pontua que há uma lição que ainda precisa se aprendida pelas organizações: de nada adianta mudar o organograma e fazer com que seus os líderes passem por um processo de conscientização para mudarem de comportamento, sem mudar a cultura e os sistemas de gestão : “eu observo que a ideia do unbossing ganhou mais vulto após a pandemia porque, mesmo com todos os percalços com o home office, as pessoas conseguiram manter e até melhorar seu desempenho sem uma supervisão mais direta. Além disto, boa parte dos colaboradores, em especial os millennials e a geração Z, querem manter a autonomia experimentada neste período.”

É preciso reforçar que uma estrutura sem chefes não quer dizer sem liderança. “O objetivo do unbossing é eliminar aquelas estruturas antiquadas e engessadas, acabando com a figura do chefe centralizador, que é incapaz de desenvolver, inspirar ou facilitar a vida da sua equipe", explica.

A figura do líder que ajuda na criação de um ambiente colaborativo, de laços de confiança e desenvolve as pessoas para que sejam mais autônomas, continua sendo muito desejada, garante Wagner : “hoje já se espera que o líder colabore de forma ativa para um ambiente psicologicamente seguro e estimule uma relação mentalmente saudável do ser humano com seu o trabalho. Por isto uma parte importante do programa de saúde mental da People F1rst DPO, o 4HUMAN, é devotada aos líderes. ”

Para Wagner R., a maturidade dos colaboradores também é relevante para o bom funcionamento de uma organização unbossed. “A nossa cultura corporativa ainda revela traços de paternalismo e assistencialismo, logo, muito colaboradores ainda relutam em assumir liberdade e a autonomia que lhes cabem, porque a contrapartida diretamente proporcional é a responsabilidade. É fundamental saber que o fato de não precisar prestar contas para um chefe não significa que o colaborador não precisará prestar contas para alguém”, reforça e lista os benefícios:

·        Estruturas mais enxutas e processo decisório mais ágil

·        aumento da capacidade criativa

·        melhor nível de engajamento

·         competências de liderança de um grupo maior de pessoas.

O psicólogo conclui: “com uma equipe empoderada, autônoma e engajada alguns setores podem funcionar até melhor sem a figura de um chef. Este personagem corporativo deixou de fazer sentido há muito tempo, mas é claro todas as equipes funcionam bem com a presença de um líder engajado, empático, que dá o exemplo e comprometido .”

 

Wagner Rodrigues - psicólogo, pós-graduado em marketing e comunicação empresarial pela ESPM e MBA com ênfase em gestão de pessoas pela FIA/USP. Por mais de vinte anos ocupou cargos de alta gestão em grandes empresas de diversos segmentos. Realiza trabalhos de consultoria para a implantação do programa 4HUMAN de saúde mental em corporações.



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