Passada a tentativa frustrada do Governo
Federal de lançar um “balão de ensaio” visando alterar a alíquota máxima de
IRPF de 27,5% para 35%, sabe-se que outras ardilosas ideias serão urdidas pela
equipe econômica, visando aumentar a combalida arrecadação tributária. O
aumento da CIDE dos combustíveis foi a pioneira, porém, pode haver frustração
da receita projetada, já que o consumo dos mesmos tende a diminuir
acentuadamente, como inúmeras vezes ocorreu. E, diga-se de passagem, as
estimativas governamentais raramente se confirmam, já que são baseadas em
premissas erradas. A inflação está cedendo, notadamente graças à brutal
recessão em curso, o desemprego continua alto, a SELIC tem forte tendência
declinante (não se sabe até quando), o dólar e o euro com cotações estáveis e o
faturamento dos diversos setores da Economia em permanente trajetória errante.
O panorama político continua desafiador e
desencorajando os investimentos produtivos. Há diversos aspectos a lamentar,
porém alguns a comemorar. O primeiro é o fato da sensível melhora da governança
corporativa da Petrobras, o que culminou com a diminuição do respectivo
endividamento, da melhora do desempenho de outros indicadores de performance,
além de eliminar o grau de ingerência política na administração da mesma,
fatores que devem, num futuro próximo, recuperar os preços das respectivas
ações, atualmente ainda muito depreciadas. O Banco do Brasil e a CEF também
passam por um severo ajuste de suas respectivas estruturas, com dramático
fechamento de agências e demissão de funcionários ociosos, objetivando
adequarem-se aos novos padrões tecnológicos, em que os clientes não querem mais
ir às agências. O segundo fato relevante é o forte surgimento de oportunidades
ao capital estrangeiro, notadamente à China, para compra de empresas estatais e
privadas, já que a recessão depreciou acentuadamente o valor das mesmas,
excessivamente endividadas. O aumento da influência da China na geopolítica
mundial tem sido impressionante. Em 2016, aproximadamente 35% do total de negócios
de fusões e aquisições no Brasil foram feitos com capitais chineses, que aqui
já aportaram algo como U$ 17 bilhões. Alguns exemplos: a venda da CPFL para a
State Grid por U$ 4,8 bilhões, a da Duke Energy SP e PR para a CTG por U$ 1,2
bilhão, a da Triunfo para a CTG por U$ 566 milhões e a outorga das Usinas Jupiá
e Ilha Solteira para a CTG por U$ 4,6 bilhões. Há ainda um número relevante de
negócios a ocorrer proximamente: a venda das usinas hidrelétricas de Santo
Antonio e Belo Monte, da CESP, de algumas distribuidoras da Eletrobrás, da
CEMIG, bem como de inúmeras controladas da Petrobras, como a BR Distribuidora.
Em relação ao aumento da relevância da China
no mundo atual, Martin Jacques, renomado pesquisador inglês e autor do livro
“Quando a China Mandar no Mundo” (Círculo de Leitores, Portugal, 2012, Pág.
22/23), afirma: “Os países veem, invariavelmente, o mundo em termos da sua
própria experiência. À medida que vão tornando-se hegemônicos – como a China se
tornará –, procuram moldar o mundo à luz dos seus próprios valores e
prioridades. É comum, no entanto, acreditar que a influência da China no mundo
será principalmente, e esmagadoramente, econômica. No entanto, os efeitos
políticos e culturais terão no mínimo o mesmo alcance. O argumento subjacente
deste livro é que o impacto da China no mundo será tão grande como o dos EUA
durante o último século, provavelmente muito maior e certamente muito
diferente”. Fica a mensagem para todos os brasileiros: se não pensarmos
seriamente no futuro do nosso país, outros o administrarão por nós.
Fernando Pinho - economista, palestrante e consultor
financeiro da Prospering Consultoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário