A pandemia do coronavírus e a iminente crise
econômica exigirão capacidade de gestão, planejamento e poder de reação das
empresas. Neste momento de instabilidade e imprevisibilidade, é fundamental a
conscientização de pessoas e empresas para as mudanças que devem
vir. Aceitá-las e promover as adaptações necessárias será o fator de
sobrevivência para as empresas.
O passado mostra que crises humanitárias e
econômicas são grandes divisores de água para a sociedade, a pandemia do
Covid-19 será um marco para representar o fim do século XX como descreveu
recentemente o jornal El País. A
publicação do jornal traz as tendências para o mundo pós-pandemia, e evidencia
que dentre as mudanças elencadas a busca pela eficiência de recursos
guiará a gestão das empresas. Para o setor da saúde suplementar, esse cenário
deverá favorecer e fortalecer ainda mais as operadoras mais eficientes na
gestão de seus custos assistenciais. Com isso, a tendência é que o mercado
de planos de saúde se torne cada vez mais concentrado, acelerando o movimento
de consolidação do setor.
Esta mudança significará o fim de um ciclo para
algumas empresas, mas o início de uma nova era para outras. É importante que
os empreendedores da saúde brasileira vejam as oportunidades que surgirão
após a crise e saiam fortalecidos dela. O crescente aumento do desemprego
levará a uma queda expressiva no número de beneficiários de planos de saúde. O
impacto pode causar uma redução de 7,4% em número de
beneficiários (3,5 milhões de pessoas) no pior cenário em 2020. Além da
saída de beneficiários, as operadoras enfrentarão um aumento da inadimplência do
setor nos próximos meses.
Apesar da redução na receita, os custos
deverão aumentar. As razões são diversas, mas incluem: a concentração de idosos
na carteira, visto que, se aposentados, sua remuneração não será impactada pelo
desemprego; o aumento dos custos com judicialização devido a suspensão por
inadimplência; a sobrecarga dos leitos de UTI no país, a depender da
disseminação de novos casos de Covid-19; o aumento na taxa de internação pelo
atendimento da demanda reprimida de cirurgias eletivas que foram suspensas no
início da crise. Portanto, poderá ocorrer um aumento significativo na
sinistralidade no setor, e apenas operadoras eficientes sobreviverão.
Mas podemos assinalar algumas tendências do
pós-crise no setor e suas oportunidades.
A crise pandêmica alterou costumes das populações
no mundo inteiro, e no Brasil, servirá como conscientização social da
importância de alguns cuidados. A busca por uma vida mais saudável, os cuidados
com higiene básica e a tomada de precauções em ambientes públicos serão
realidade (uso de álcool gel e máscaras). Essa mudança de cultura, levará a uma
maior percepção da necessidade da utilização da medicina preventiva e até
mesmo, de maiores investimentos em saneamento básico nos próximos anos.
As pessoas na zona de risco do vírus terão de
buscar por operadoras com produtos de atenção primária bem definidos.
A atenção primária será importante para uma melhor gestão dos custos, além de
oferecer benefícios para operadoras que participarem do programa de
certificação da ANS.
Portanto, no pós-crise, as operadoras terão a oportunidade de lançar
produtos para atendimento de públicos específicos e idosos, o que poderá
promover a eficiência dos custos dessas operadoras com foco na integralização
do cuidado.
O coronavírus deixou evidente o déficit de
leitos públicos e privados no país, a desigualdade geográfica destes
recursos e diversas fragilidades dos sistemas de saúde.
Essa sobrecarga poderá elevar os custos dos
procedimentos médicos em toda a rede hospitalar, que serão repassados
futuramente para as operadoras. O congelamento nos reajuste nos medicamentos (MP
Nº 933, de 31 de Março de 2020) e nos planos de saúde (que ainda é um projeto
de lei e uma recomendação
da Fena Saúde e Abramge) deve apresentar as devidas correções após a crise.
Com isso, as operadoras verticalizadas, que conseguem administrar seus próprios
custos assistências ao longo de toda a cadeia de suprimentos, deverão ser menos
impactadas.
O momento também escancarou os conflitos de
interesses entre a Rede Hospitalar e Operadoras de Saúde e, principalmente, do
modelo de remuneração por Fee For Service. Estas forças antagônicas reforçam a
estratégia de verticalização, como forma de sustentabilidade para o setor.
Diante deste contexto, alguns dos benefícios divulgados pelo governo no combate
à crise do coronavírus representam oportunidades de financiamento a custos
menores para investimentos no setor. A crise deixará clara a deficiência
de leitos hospitalares e outros recursos em regiões e estados, que se bem
avaliadas, representarão oportunidades de investimento para empreendedores da
saúde e operadoras.
Oportunidades
Com a necessidade vem as soluções. O vírus deixou
evidente que mesmo com a incessante evolução da tecnologia na medicina nos
últimos anos, ainda há muito espaço para evoluir. As pesquisas no setor só
aumentaram com o início a crise, e no Brasil o Governo
destinou R$ 50 milhões para pesquisas sobre o coronavírus. Os
resultados deverão trazer soluções não apenas para a Covid-19, mas também
para outras enfermidades, e representarão ganhos para toda o setor. A pandemia
reforçou a importância dos profissionais de saúde, especialmente médicos e
enfermeiros. Nos últimos anos, houve um enfraquecimento do SUS, que com a
crise, recebeu maior atenção e investimentos não vistos na história recente,
conquistando uma maior importância em relação a períodos passados.
Além disso, com a alta demanda por profissionais de
saúde, a crise deve levar a um maior investimento na formação médica no
país.Durante a pandemia, são várias as demonstrações de homenagem e gratidão
aos profissionais da saúde, resgatando a essência da profissão e valorização da
sociedade. Certamente, estes profissionais saem mais fortalecidos e com grande
reconhecimento da sociedade.
Em meio à crise instalada, muito se falou do
colapso do sistema público de saúde. Antes da crise, mais de 75% da população
dependia do SUS, sendo que a rede privada concentrava cerca de 32% dos leitos
gerais no país (desconsiderando os leitos adicionados durante a crise). O número
de leitos públicos para cada 1.000 habitantes era de 1,44, enquanto o número de
leitos privados para cada 1.000 beneficiários era 3,03. O indicado pelo
Ministério da Saúde era de 2,5 antes da crise.
Com isso, a importância relativa dos planos de
saúde, que era o terceiro maior desejo do brasileiro segundo pesquisa do IESS
em 2017, aumentou em meio à crise. Para os próximos anos, com a
recuperação gradual da economia, o mercado de planos de saúde deverá ganhar
força novamente. Destaca-se que a crise econômica e limitações de gastos
públicos, o Sistema Público de saúde não conseguirá acompanhar a demanda
populacional. Por isso, a saúde suplementar ganhará ainda mais importância
no orçamento das famílias.
O setor passará pela aceleração no movimento de consolidação
do mercado da saúde suplementar. Operadoras verticalizadas e com melhor gestão
de seus custos terão reflexo em seu ticket médio, ganhando estabilidade
perante as de menor eficiência. Com isso, essas operadoras deverão ganhar
mercado, ampliando seus ganhos de escala, mantendo seus diferenciais
competitivos em meio a recuperação da crise.
O resultado será o fortalecimento da saúde
suplementar com operadoras mais preparadas para crises, com processos de
governança corporativa estruturados e com maior eficiência na gestão de seus
custos assistenciais. A busca por recursos no mercado financeiro deverá ser
mais recorrente, e será um movimento chave para recuperação e alavancagem do
setor.
Eduardo Kfouri Forero - Consultor
/ XVI Finance
Prof. Dr. Adriel Branco - Diretor
de Negócios / XVI Finance