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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Ansiedade infantil: distúrbio afeta aproximadamente 10% das crianças e adolescentes brasileiros




Um ponto a ser observado é a influência da tecnologia já na Primeira Infância. Psiquiatra e educador falam sobre causas, sintomas, além de medidas educativas e médicas para tratar o problema


A ansiedade, comum e recorrente na vida adulta, atinge 9% de todos os brasileiros, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Porém, o transtorno vem sendo detectado cada vez mais cedo. No Brasil, segundo uma pesquisa recente da Faculdade de Medicina da USP, aproximadamente 10% de todas as crianças e adolescentes brasileiros têm ou irão ter algum tipo de ansiedade em algum momento da vida. 

Um fator que também deve ser muito observado pelos pais é a influência da tecnologia, já que segundo um estudo americano, crianças a partir de dois anos de idade, apresentaram ansiedade ou depressão após o contato intenso com jogos virtuais, smartphones e televisão.

Segundo Roney Vargas, psiquiatra da Aliança Instituto de Oncologia, a maioria das crianças experimenta vários medos. Isso pode trazer a ansiedade durante a infância, e alguns desses medos são específicos do estágio do desenvolvimento. "Em contraste com medos, a ansiedade é definida como uma resposta antecipatória a uma ameaça percebida, tanto interna como externa. Em outras palavras, pode-se considerar a ansiedade como um medo sem objeto, o que é bastante diferente de um medo ligado a uma situação ameaçadora como a presença de um leão na frente da pessoa", explica o médico.

De acordo com o especialista, transtornos psiquiátricos podem ser algumas causas da ansiedade das crianças, porém não todas. "Do ponto de vista ambiental, há algumas situações com um potencial de gerar ansiedade de forma mais intensa entre os pequenos, como a questão da separação da família para ingressar no ambiente escolar, a questão de falar em público ou, por exemplo, ser submetido a uma avaliação", esclarece Vargas.

É sabido que a ansiedade por si só é uma emoção fundamental para o ser humano, porque ela representa um transtorno em relação ao desconhecido e, esse transtorno tem uma importância fundamental na sobrevivência das espécies. "Ou seja, ter medo do futuro (e a ansiedade é um tipo de medo) é uma característica importante do ser humano. Mas quando ela se torna exagerada e recorrente ela se torna uma doença. E é hoje uma verdadeira pandemia em todo o mundo", afirma Paulo Wolker, cientista político, educador e sócio do Instituto Ideaah.

Na maioria dos casos, a ansiedade prejudica o desenvolvimento, seja na escola ou não. "A ansiedade gera encolhimento das capacidades, habilidades e potencialidades das crianças, as torna temerosas, recolhidas. Afeta a alimentação, o sono, a respiração. A ansiedade é um transtorno. Gera tristeza, gera depressão", pontua Wolker.

Dentro da sala de aula, é comum notar a ansiedade nos pequenos, quando eles não aprendem, não brincam, não relaxam, não se expressam como os jovens deveriam. Segundo o educador, a escola deveria ser, em primeiro lugar, um local de paz. "Onde a criança se sente cuidada e protegida e, por isso mesmo, não tenha medo e nem ansiedade. O mais indicado é que a sala de aula esteja protegida com todas as atividades, ações e dinâmicas típicas desse lugar. Não há uma 'atividade remédio' para o medo ou a ansiedade, há ambientes, espaços e locais protetores, onde a criança se sinta cuidada e amparada", explica o educador.

Quando a ansiedade afeta as relações sociais dos pequenos, há necessidade de sempre realizar uma avaliação clínica com um psiquiatra. Em crianças e adolescentes como regra geral deve-se optar em primeiro lugar por medidas como terapias psicológicas como a TCC ou comportamental, além de estratégias psicoeducacionais. "Somente em casos com impacto considerável no funcionamento da criança deve-se lançar mão de medicações. 

Todavia, essas ações devem sempre caminhar com medidas psicológicas e educacionais", conclui o psiquiatra Roney Vargas da Aliança Instituto de Oncologia.


A influência da tecnologia entre as crianças:

Muito tempo gasto em jogos, smartphones e televisão está associado a níveis elevados e a diagnósticos de ansiedade ou depressão em crianças a partir dos 2 anos de idade, de acordo com um novo estudo. Mesmo depois de apenas uma hora de tela diariamente, crianças e adolescentes podem começar a ter menos curiosidade, menor autocontrole, menos estabilidade emocional e maior incapacidade de terminar tarefas, relata Jean Twenge, psicólogo da Universidade Estadual de San Diego e Keith Campbell, professor de psicologia da Universidade da Geórgia.

Segundo Wolker, a tecnologia pode colocar a criança frente a um mundo que sua maturidade, desenvolvimento e entendimento ainda não podem suportar. Esse impacto pode ser devastador para a segurança da criança e pode causar muito medo. Uma cena de massacre coletivo, com vários corpos mutilados de jovens e crianças, que é possível ser visto no Youtube, já é muito impactante para um adulto, imagine para uma criança.

Esse tipo de ansiedade pode gerar uma série de respostas fisiológicas que afetam o sistema cardíaco, pulmonar, gastrointestinal e neurológico. "Além disso, a ansiedade cursa com sintomas cognitivos, como sensação de perda de controle ou perder a cabeça, pensamentos indesejados e intrusivos, desatenção, insônia e mesmo distúrbios de percepção, como despersonalização ou imagens visuais vagas", esclarece Vargas, psiquiatra.


- 5 dicas que podem ajudar a amenizar a ansiedade dos pequenos, segundo Paulo Wolker:

- Reforçar na criança sempre a visão otimista e positiva da vida e do mundo. Problemas, sejam eles afetivos, financeiros, nunca devem ser expostos à criança.

- Garantir sempre a atenção, o cuidado e a proteção das crianças. Mostrar para os pequenos que eles sempre têm alguém para confiar é muito importante.

- Evidenciar a presença do adulto cuidador como cuidador e protetor. Deixar claro para a criança que os pais ou responsáveis adultos que têm o papel de manter a segurança deles.

- Reforçar o foco da criança no presente, no que ela está fazendo agora, de modo que ela tenha a sua atenção na sua brincadeira, no seu brinquedo, nos seus colegas e não no futuro.

- Cuidar para que a criança tenha atenção consigo mesma, com sua respiração, com o seu entorno, com seu corpo, com que ela está fazendo.


Honestidade começa a ser abordada nas escolas


Em parceria com Dan Ariely, professor de Psicologia e Economia Comportamental da Universidade de Duke, Programa Semente inclui tema em seu material de aprendizagem socioemocional


Um dos assuntos mais discutidos no Brasil atualmente é sobre os grandes esquemas de corrupção constantemente mostrados no noticiário. O que pouco se fala é que esses esquemas começam com pequenos atos isolados de desonestidade. São eles que levam a uma percepção errônea de que trapacear é permitido. Quando esse tipo de comportamento é identificado e corrigido desde a infância, é possível gerar adultos mais honestos no futuro. Pensando nessa necessidade atual, o Programa Semente – metodologia de aprendizagem socioemocional inserido em escolas brasileiras – incluiu em seu material a abordagem do tema honestidade, dentro do domínio da Tomada de Decisões Responsáveis – um dos cinco trabalhados pelo Programa.
De acordo com Celso Lopes de Souza, psiquiatra, professor e um dos criadores do Programa Semente, todos trapaceamos em maior ou menor grau, já que essa é uma característica humana. “Quem nunca mentiu respondendo que a comida estava gostosa? Essas pequenas mentirinhas podem ir se alargando e ao mesmo tempo queremos parecer honestos e criamos desculpas para os pequenos deslizes”, afirma.
É o que acontece, por exemplo, no esporte. Quando um atleta começa a ingerir substâncias proibidas, ele se esconde atrás de desculpas que dá a si próprio para melhorar a performance. “Uma pessoa considerada corrupta não começa agindo com grandes planos de corrupção. Ela vai cedendo aqui e ali até se afundar em esquemas escusos”, explica.
Colar na prova, plagiar textos e mentir sobre o tempo gasto nas redes sociais são exemplos de ações desonestas que acontecem entre crianças e adolescentes. Essas pequenas atitudes podem ficar maiores e mais frequentes com o passar do tempo caso não haja uma intervenção.
Estudos de Dan Ariely, psicólogo e economista
Para ensinar crianças e adolescentes a lidar com situações corruptíveis, o Programa Semente irá atuar a partir dos estudos do Dr. Dan Ariely, psicólogo e economista comportamental que tem a trapaça como um dos objetos de pesquisa. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Ariely compara a corrupção a uma doença infecciosa e diz que, no Brasil, o vírus se espalhou tanto que há uma pandemia. “É preciso identificar o que há de errado, reconhecer que se está em um mau caminho e recomeçar quase que do zero", diz. Nesse cenário, a educação tem papel fundamental para combater a corrupção.
Celso afirma que é importante salientar aos alunos “o quanto é humano o impulso de cometer trapaças e procurar justificá-las para poder sentir-se honesto”. Trabalhar estratégias e propor atividades que exercitem a prevenção dessas trapaças será mais um objetivo do Programa Semente.
A criação de mecanismos que freiem os pequenos atos de desonestidade é urgente para construir uma sociedade saudável. “Se a gente quer um Brasil melhor, precisamos que as escolas ensinem a não levar vantagem desde cedo”, completa.

Programa Semente
www.programasemente.com.br

Seu filho tem dificuldade de atenção em sala de aula? Ele pode ter TDAH


Aquela inquietude e dificuldade de prestar atenção no professor em sala de aula pode ter outra origem, que não seja a má-criação da criança. A constante e quase incontrolável agitação pode significar o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. A psicóloga do Hapvida Saúde, Livia Vieira, explica o que é TDAH.

"A grande maioria das crianças apresenta dificuldades na aprendizagem. A capacidade intelectual pode ser normal, ou até mesmo alta, mas sua dificuldade de atenção, concentração e a incessante inquietude motora não favorece sua aprendizagem. O comportamento é imprevisível e inapropriado para sua idade. É comum, em escola, ser chamado à direção por sua inquietude. Se distrai com facilidade. Muitas vezes, é inoportuno quando está em grupo e gosta de chamar a atenção", elucida.

A especialista diferencia a TDAH da dislexia, pois essa se trata de um distúrbio de aprendizagem na leitura, dificuldade em ler e compreender as palavras. "Os disléxicos têm um quociente intelectual normal, ou acima do normal, e possuem consciência de suas dificuldades. Como ambos os indivíduos apresentam dificuldades, tanto as crianças disléxicas quanto as com TDAH apresentam baixa autoestima e problemas de ajustamento na escola e de relacionamento com os colegas. Ambos têm perturbações no âmbito emocional, além de ansiedade exacerbada", acrescenta.

Livia Vieira reforça que as crianças que apresentam TDAH se distraem com facilidade, têm dificuldade para se manter concentradas e seguir regras. 

"Geralmente passam de uma atividade para outra sem terminar nenhuma delas, não têm noção de perigo, agem antes de pensar, são impulsivas. Quando sentadas, as pernas sempre ficam em movimento, gostam de chamar atenção, são desobedientes e algumas vezes respondonas. São desorganizadas, falam excessivamente, esquecem com frequência o que precisam realizar, são inoportunas quando em grupo, têm facilidade de brigar por qualquer coisa, recebem constantemente reclamação por comportamento e outras", enfatiza.
A psicóloga ressalta que existe tratamento adequado para quem tem TDAH, que envolve um apoio de equipe multidisciplinar que identifica a necessidade de passar para outros especialistas para diagnóstico diferencial. "Indivíduos com TDAH precisam de acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e fonoaudiólogo.

 Alguns também precisam do apoio de psicopedagoga. Os medicamentos mais usados no controle do TDAH são os estimulantes do sistema nervoso central e antidepressivos", esclarece.

Além disso, ela destaca que brincadeiras lúdicas que estimulam os indivíduos a vencerem suas dificuldades e a buscarem estratégias de superação como: quebra-cabeça; jogo da memória; caça-palavras; encontrar os erros; entre outros jogos que estimulem a coordenação, a atenção, a fantasia; brincadeiras em grupo; esportes em várias das suas modalidades como natação, também podem colaborar no tratamento.

O papel dos pais nesse processo é essencial para as crianças. Segundo a especialista, eles precisam agir em solidariedade com a equipe multidisciplinar e professores. "Precisam ouvir e disciplinar seus filhos, precisam sentar e brincar com eles, entender e ajudar seus filhos na superação diária, estimular os avanços, elogiar cada avanço, trabalhar para aumentar a autoestima do filho, encorajá-lo a se superar, demonstrar confiança e fazer com que o filho confie mais em si mesmo; participar da vida do filho, amá-lo incondicionalmente, ter paciência - paciência e mais paciência", orienta Lívia.



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