Uso indiscriminado de colírio cresce no calor,
pode causar graves doenças oculares e dificultar tratamentos sistêmicos. Saiba
como prevenir complicações.
O Brasil é um dos maiores consumidores de medicamentos do mundo. A
projeção da Associação da Indústria Farmacêutica é de que em 2021 o país saia
da atual oitava posição no ranking mundial para a 5ª posição. Segundo o
oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier parte deste
crescimento está relacionado ao envelhecimento da população que predispõe às
doenças crônicas. Uma delas, destaca, o glaucoma, atinge cerca de 2 milhões de
brasileiros. Em 90% dos casos exige uso
contínuo de colírios que baixam a pressão interna do olho e evitam a perda
definitiva do campo visual. Mas não é
só isso. Levantamento feito pelo médico
em 12 mil prontuários do hospital, mostra que no período do calor quatro em
cada dez pacientes já chegam aos consultórios usando algum colírio por conta
própria. Não é para menos. Uma pesquisa
sobre a saúde no Brasil https://is.gd/2qujZq
revela que 55% dos 4.133 participantes deixam de comprar os medicamentos
receitados por falta de dinheiro. O mesmo levantamento mostra que a
automedicação para problemas nos olhos está bastante próxima dos 37% que
afirmaram já ter comprado medicamento sem receita para as mais variadas
doenças. Neste grupo 66% afirmaram que foram orientados por um farmacêutico,
12% por amigos ou familiares e 2% fizeram pesquisa na internet.
Resistência
a antibióticos
Quando o assunto é a saúde dos olhos, Queiroz Neto afirma ser um erro
acreditar que determinado medicamento sempre vai nos levar à cura só
porque algum dia nos livrou de um
desconforto. “Nosso organismo muda, as bactérias também estão em constante
mutação para preservar a espécie e o tratamento das doenças oculares externas
devem cobrir todas estas variáveis”, comenta. Atualmente, destaca, a
resistência aos antibióticos é uma das principais preocupações globais da saúde
pública. O uso indiscriminado de colírios antibióticos está criando
superbactérias, adverte. “Se hoje as doenças infecciosas são as que menos cegam
no mundo todo, podem ser tornar incuráveis e até impossibilitar o transplante
de córnea no futuro”, afirma. Prova disso, é a previsão de um relatório do
governo britânico de que em 2050 as infecções devem matar uma pessoa a cada 3
segundos por causa da crescente resistência aos antibióticos. Por isso, o
especialista recomenda a cada um de nós adiar este processo só usando
antibióticos conforme a prescrição médica.
Quando
usar antibiótico
Queiroz Neto afirma que o calor, aglomerações, contato do olho com a
água contaminada das praias e piscinas, aumentam nesta época do ano a
conjuntivite bacteriana, a conjuntivite viral e a ceratite. Os sintomas dessas
doenças são semelhantes: olhos
vermelhos, lacrimejamento, coceira, sensação de corpo estranho, queimação, fotofobia
e visão borrada. Mas os tratamentos diferem.
A conjuntivite bacteriana, inflamação da conjuntiva, membrana que
recobre a parte branca do olho e a face interna das pálpebras, tem uma secreção
amarelada e é tratada com colírio antibiótico. É mais comum entre crianças por
causa do maior contato dos olhos com água contaminada, mas por ser altamente
contagiosa pode passar para toda família. O tratamento é feito com colírio
antibiótico e deve ser interrompido conforme a prescrição médica.
Prevenção
Para evitar a contaminação da conjuntiva por bactérias ou vírus as
recomendações do oftalmologista são:
· Manter as
mãos sempre limpas.
· Evitar
levar as mãos aos olhos
· Não
compartilhar toalhas, fronhas, maquiagem e teclados eletrônicos.
Ao primeiro desconforto no olho, o especialista indica aplicar
compressas de gaze embebida em água morna nos casos de secreção purulenta. A
compressa deve ser feita com água gelada para conjuntivite viral que tem
secreção viscosa. Não desaparecendo os sintomas
em dois dias a consulta a um oftalmologista deve ser imediata.
Risco de
contrair glaucoma e catarata
O especialista afirma que a conjuntivite viral é a mais frequente. O tratamento é feito com colírio
anti-inflamatório hormonal, ou seja, com corticóide para as severas e
não-hormonal para as mais brandas. O mesmo tipo de medicamento pode ser
utilizado no tratamento de ceratite, inflamação da córnea. A ceratite
geralmente é decorrente da má oxigenação da córnea em pessoas que abusam do uso
de lente de contato, não retiram a lente em viagens aéreas por mais de três
horas ou permanecem muito tempo em ambientes com ar condicionado usando lente.
Para evitar a inflamação a recomendação é sempre retirar a lente de
contato quando sentir desconforto nos olhos. “O uso frequente ou prolongado de
colírio com corticóide predispõe ao glaucoma e à catarata precoce”,
conclui.