1. No livro Dinheiro,
eleições e poder (Companhia das Letras, 2018), Bruno Carazza mergulhou
fundo na análise de uma questão crucial: como os donos corruptos do dinheiro mandam
no Brasil, seja comprando o sistema político (ou seja, o poder), seja interferindo
no sistema jurídico (particularmente nas Cortes onde os juízes são indicados
politicamente).
2. O sistema político brasileiro (ressalvadas algumas
exceções) não é, como muitos ilusoriamente acreditam, um espelho da sociedade. A
crença de que os políticos são o retrato do povo é um mito. Os políticos
comprados são o reflexo fiel dos que mandam neles e no país (leia-se, dos
endinheirados corruptos que financiam suas campanhas eleitorais).
3. Nossos políticos (ressalvadas as almas boas) não representam
os interesses do povo, embora eleitos por ele. Se democracia é o governo eleito
pelo povo e para o povo, definitivamente, o Brasil não é uma democracia
verdadeira. Nossa democracia é puramente formal (Schumpeter). Acima de tudo,
ela é muito venal.
4. Os políticos (corruptos) cuidam (como qualquer capataz de
fazenda) dos interesses daqueles que dão dinheiro para eles alcançarem suas
conquistas eleitorais (ou seja, para se manterem no poder). Como temos muitos
corruptos no Brasil, somos uma das mais prósperas cleptocracias do mundo
(clepto = ladrão; cracia = governo).
5. Não existe crise de representatividade no sistema
político nacional. Os que nos governam, com poucas defecções, representam os
interesses (isto é, são despachantes) dos que efetivamente mandam neles e na
nação em razão do seu dinheiro (umas 30 famílias e menos de 500 empresas, como
explica Carazza no livro citado). São eles os que mais financiam as campanhas
eleitorais (tendo assim, acesso ao poder).
6. Não há como negar que o Brasil é uma plutocracia (governo
de alguns endinheirados), desde 1500. A nata excelsa do seleto clube formado
por esses ladrões do dinheiro público e da felicidade dos brasileiros não chega
a mil pessoas (físicas e jurídicas). É inacreditável como a vontade de mil
pessoas se sobrepõe, sem contestação séria, à felicidade e às necessidades
básicas de mais de 200 milhões.
7. A Lava Jato já começou a mostrar as caras de alguns
deles. Mas ainda tem muito trabalho pela frente. De qualquer modo, é certo que
nenhum clube de ladrões dura cinco séculos sem enraizadas conexões com as
instituições do país. Que tampouco cuidam, em geral, dos interesses da
população. As instituições são criadas de acordo com o figurino dado pelos interesses
prioritários dos criadores.
8. Isso explica porque nossas instituições (políticas,
econômicas, jurídicas e sociais) são muito frágeis, mas ao mesmo tempo extremamente
funcionais para a prosperidade do capitalismo de compadrio (de laços, de
amizades), desenhado e administrado pela referida confraria de larápios.
9. A questão não é que o brasileiro não sabe votar.
Frequentemente ele nem sequer tem em quem votar com confiança, ética e
esperança, porque o sistema se fecha de tal maneira que nem sequer deixa
alternativas para a eleição.
10. A questão grave e muito séria é que, nas cleptocracias,
sempre existe um grupo restrito de endinheirados corruptos que compra os
políticos (e governantes) para se apoderarem do poder (e do Estado). Esse é o
âmago da questão brasileira.
11. Uma grande parte do Estado brasileiro sempre foi
sequestrada por um abjeto clube de ladrões. Aqui reside a raiz corrupta do
poder no Brasil. Enquanto não faxinarmos com valentia e firmeza os ladrões,
corruptos e aproveitadores que mandam na nossa nação nunca sairemos do
subdesenvolvimento. Voto faxina nos políticos corruptos. Império da lei contra
os ladrões (sobretudo endinheirados) da República.
LUIZ FLÁVIO GOMES , jurista e criador do movimento Quero Um
Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial