A geração “nem-nem” precisa de ajuda. No Brasil, um
em cada cinco jovens não estuda nem trabalha, totalizando 9,6 milhões de
pessoas de 15 a 29 anos afastadas dos livros e do mercado de trabalho. Esses
números alarmantes fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios e
colocam o país em uma posição bastante desconfortável. Ainda mais preocupante
quando lembramos que já tivemos a maior economia da América Latina, figuramos
entre as dez maiores do mundo e alcançamos o 11º lugar globalmente, com um
Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1,9 trilhão. Mas de que adianta tamanho
potencial se estamos soltando a mão da geração mais nova? É preciso correr
contra o tempo para encontrar uma solução efetiva, que muito provavelmente
passa por políticas públicas focadas nas dificuldades dos jovens de baixa
renda.
No labirinto complexo das políticas trabalhistas,
há uma série de fatores que merecem nossa atenção. Entre eles, destacam-se os
pilares fundamentais que sustentam a geração de emprego e renda: educação,
experiência, inovação, tecnologia e gestão financeira. Contudo, é o pilar da
formação e qualificação das pessoas que se ergue como o alicerce primordial,
não apenas pela sua importância intrínseca, mas por sua capacidade de catalisar
os demais aspectos. Até porque, uma educação de qualidade é a luz que ilumina o
caminho para um futuro próspero e promissor.
Quando um jovem fica fora do mundo do trabalho por
pelo menos dois anos, não apenas perde a experiência profissional, mas também a
oportunidade de uma reintegração no mercado. É essa falta de engajamento no
estudo que vai tornar ainda mais desafiadora a reinserção. Uma situação que
pode acarretar impactos econômicos negativos a longo prazo, já que uma
população economicamente inativa não contribui para o crescimento econômico do
país. Portanto, é essencial focar em melhorar a qualidade da educação e
torná-la mais acessível. Isso requer reformas no sistema educacional,
investimentos em infraestrutura e programas de apoio direcionados a alunos em
situações vulneráveis.
Nas antigas páginas da história europeia, já ecoava
a relação fascinante do jovem com o aprendizado. Ali, duas diretrizes permeavam
o processo de ensino: o aprender fazendo e o aprender ouvindo. A sutileza
dessas abordagens ainda está presente nos dias atuais, com programas de
aprendizagem que desempenham um papel crucial ao facilitar essa ligação
contratual, assegurando que o jovem aprendiz possa se integrar plenamente ao
mercado de trabalho. Uma dinâmica que cria laços fortes e duradouros entre o
aprendizado prático e teórico, mas também abrange o desenvolvimento das
habilidades necessárias para transformar desafios em oportunidades.
Dentro desse mesmo contexto, os trabalhos sociais
voltados para a família dos jovens aprendizes também fazem toda a diferença.
Porque é quando se estabelece conexões notáveis entre todos os envolvidos -
jovens, famílias, instituições de ensino e empresas -, que é possível
contribuir para a formação e qualificação do jovem, ao mesmo tempo que a
família não fica desamparada. São interações como essas que ajudam a superar as
lacunas existentes, construindo pontes sólidas para o futuro. Cada elemento se
encaixa de forma harmoniosa e impulsiona a jornada da aprendizagem rumo ao
progresso profissional.
O mercado de trabalho passou por uma revolução nas
últimas décadas, com uma mudança radical nos seus planejamentos, agora focados
em prazos mais curtos e médios. Isso criou um ambiente de constante adaptação,
especialmente nas relações de empregabilidade. Entre as políticas que se
destacam nesse contexto está a inclusão estruturada no acesso ao ensino
superior por meio de cotas para estudantes do ensino médio integral em escolas
públicas, buscando reduzir as disparidades sociais e raciais e ampliar o acesso
à formação. Além disso, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) tem ganhado
cada vez mais importância por garantir o direito à educação e ao trabalho, especialmente
aos jovens. Nos trilhos do aprendizado, os programas de inserção são a
locomotiva que conduz os jovens ao mundo profissional, transformando teoria em
prática e sonhos em realizações.
Mas o maior dilema surge no momento em que os
jovens se deparam com uma pergunta tão comum: o que quero ser quando crescer? É
quando não se tem respostas claras para ela, que vemos muitos se perdendo pelo
caminho. Além das incertezas que já fazem parte da juventude, o ponto crítico
está na ausência de suporte de qualquer tipo. A falta do sentimento de
pertencimento ao mundo profissional e a deficiência de uma educação de
qualidade são obstáculos preocupantes. Por isso, é capacitando esses jovens que
se contribui de forma significativa em suas próprias vidas, em suas famílias e
no contexto social como um todo, reafirmando o compromisso com a equidade e o
desenvolvimento socioeconômico.
Não se trata apenas de oferecer direcionamento e
corrigir falhas, mas sim de criar um ambiente vibrante e cativante, onde o
conhecimento se entrelaça de forma dinâmica com a prática. É preciso
desenvolver habilidades que transformem jovens em pensadores críticos,
inovadores e prontos para os desafios do mundo moderno. Mas o Estado não vai
dar conta disso tudo sozinho. A colaboração entre poder público, sociedade
civil e setor privado é fundamental para criar um ambiente propício ao
desenvolvimento integral dos jovens. Precisamos de um olhar diferenciado para
essa parcela da população que é reconhecida como o futuro do Brasil.
Tudo isso pode fazer a diferença para a vida deles que ainda vão integrar e tomar a frente da força de trabalho, donos de um potencial que o país não pode mais desperdiçar.
Francisco de Assis Inocêncio -
economista e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná
(CIEE/PR)
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