Falta
medicação e conhecimento sobre alergia alimentar no Brasil
#canetadeadrenalinabr
Superando
os Obstáculos em Alergia Alimentar é o tema escolhido pela World
Allergy
Organization (WAO) para a Semana Mundial da Alergia, que acontece de 23 a 29 de
junho. A Coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dr.
Lucila Camargo, explica que o Brasil enfrenta muitos obstáculos nessa área,
como a falta da caneta de adrenalina autoinjetável, a banalização dos testes de
farmácia para alergia alimentar, que oferecem riscos ao paciente, e a falta de
procedimentos essenciais e já reconhecidos mundialmente, que deveriam ser
cobertos pelos planos de saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Abaixo estão os
cinco principais obstáculos em alergia alimentar que precisam ser superados:
Aleitamento Materno - As mães que têm a
indicação de dieta de restrição precisam de todo o apoio para conseguir manter
o aleitamento materno, com o suporte dos médicos, nutricionistas e da família.
A fórmula infantil não é o melhor alimento. “É importante lembrar que nem
sempre é necessário fazer dieta de restrição nas mães, já que algumas crianças
não reagem à proteína do leite que passa pelo leite materno. A orientação é
restringir apenas para quem precisa realmente e incentivar essa mãe a continuar
a amamentar o filho”, comenta Dra. Lucila.
Diagnóstico - É preciso investigar a história clínica adequadamente
para que se possa reconhecer os mecanismos imunológicos envolvidos. Havendo
necessidade, pode-se solicitar os exames auxiliares. Nas alergias mediadas por
lgE, é interessante investigar as lgEs, porém, não é indicado fazer exame de
lgG. Testes cutâneos ou de lgE positivos não fazem diagnóstico isoladamente,
isso porque a lgE positiva indica sensibilização e não alergia; e a lgG
positiva indica contato prévio com alimento, mas não que o paciente está
alérgico.
TPO - O teste de provocação oral (TPO) pode ser necessário para diagnóstico e para checar a aquisição de tolerância nas diversas idades e para diversos alimentos. É o melhor método para se investigar a condição alérgica, reconhecido mundialmente. Dra. Lucila conta que, apesar desse procedimento ter sido incorporado no Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ou seja, ser coberto pelos planos de saúde, hoje ele está disponível apenas para a investigação da alergia ao leite de vaca em crianças até 24 meses de idade.
“No SUS, o TPO foi
aceito para incorporação em março de 2022, porém, até hoje, não foi
disponibilizado o código na tabela SIGTAP, necessário para que os hospitais da
rede pública recebam o pagamento do Estado por esse procedimento", comenta a Coordenadora da ASBAI.
Importante! O TPO
só deve ser realizado em hospitais e clínicas especializados em alergia e
preparadas para eventuais reações mais graves, como a anafilaxia.
Reação Alimentar por Contato Cruzado
- Informar e conscientizar sobre os riscos de uma reação alérgica alimentar por
contato cruzado é um dos obstáculos a serem vencidos no âmbito da alergia
alimentar.
A leitura atenta
de rótulos dos alimentos, para verificar a presença de alérgenos ou
ingredientes relacionados, é de extrema importância. Em restaurantes, perguntar
sobre ingredientes e métodos de preparação para evitar contato cruzado também
deve ser uma prática da pessoa com alergia e/ou seus familiares/cuidadores. A
conscientização da população geral se faz necessária para entender que mínimas
quantidades do alérgenos podem, eventualmente, deflagrar reações graves nos
alérgicos mais sensíveis, assim, todo cuidado no preparo do alimento traz
segurança e inclusão.
Autoinjetor de Adrenalina - O
dispositivo autoinjetável de adrenalina é um item obrigatório do kit emergência
de pacientes com reações mediadas por IgE sob risco de anafilaxia, reação
alérgica potencialmente fatal e que pode ser revertida com a aplicação da
adrenalina, medicação mais eficaz na contenção desse processo.
“Infelizmente, a
caneta de adrenalina autoinjetável ainda não está disponível facilmente no
Brasil, apenas via importação e a preços elevados, impraticável para a maioria
da população, que precisa de ter mais de um dispositivo”, enfatiza Dra. Lucila Camargo.
A Comissão de
Saúde da Câmara dos Deputados realizou, em 04 de junho, audiência pública para
debater sobre o Projeto de Lei N° 85/2024, que visa o fornecimento gratuito
da caneta de adrenalina autoinjetável pelo Sistema Único da Saúde (SUS).
No dia 06 de
junho, o deputado e relator do Projeto de Lei 85/2024, Zé Vitor, deu parecer
favorável à distribuição gratuita pelo SUS da caneta de adrenalina
autoinjetável no Brasil. Uma emenda foi acrescida ao PL 85/2024 que determina
que espaços públicos, como academias, parques, supermercados entre outros
locais com grande circulação de pessoas tenham disponíveis a caneta de
adrenalina autoinjetável. Agora, o PL 85/2024 deverá seguir para votação na
Comissão de Finanças e Tributação e, ao final, na Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania. Enquanto isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) aguarda a solicitação de registro do dispositivo para que possa
avaliar a aprovação.
ASBAI - Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
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