Especialista em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, comenta os resultados e as implicações para o futuro.
Um estudo recente, realizado pelas universidades
Rowan e Rutgers nos EUA, encontrou uma diferença preocupante
na forma como crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) eliminam o bisfenol A (BPA), um aditivo
plástico comum, em comparação com crianças neurotípicas.
O estudo analisou a capacidade
de 66 crianças com autismo, 46 com TDAH e 37 neurotípicas de eliminar o BPA e o DEHP através da glucuronidação, um processo
essencial de desintoxicação do corpo. As crianças com TEA e TDAH apresentaram
uma desintoxicação comprometida para ambos os compostos, com uma redução na
eficiência de 11% para BPA em crianças
com TEA e 17% em crianças com TDAH.
Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD
em Neurociências e especialista em genômica, membro da Society for Neuroscience
e diretor do Projeto RG-TEA de pesquisas em prol do conhecimento do autismo,
comenta os resultados:
"Estudos como este são cruciais para
mapearmos as diversas possibilidades relacionadas à desintoxicação
comprometida, resultados e riscos de condições como TEA e TDAH. É fundamental
analisarmos fatores adjacentes, como questões genéticas e outros componentes
que podem influenciar essa complexa questão. Em ciência, todas as
probabilidades devem ser ponderadas antes de se chegar a conclusões definitivas. No entanto, este estudo já
nos alerta para a necessidade de um maior
cuidado com a exposição ao BPA, especialmente em crianças."
Possíveis implicações:
A dificuldade em eliminar o BPA pode levar à sua acumulação no corpo, expondo o
cérebro em desenvolvimento a seus efeitos
tóxicos. O BPA pode interferir na
comunicação neuronal, afetando o desenvolvimento e a função
de neurônios, o que pode contribuir para os sintomas de TEA e TDAH.
Mutações genéticas em algumas pessoas podem
dificultar ainda mais a eliminação
do BPA, aumentando a suscetibilidade a seus efeitos nocivos. Essa predisposição genética
pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de TEA e TDAH em indivíduos
expostos ao BPA.
Precauções e pesquisas futuras:
Embora o estudo não conclua que o BPA causa TEA ou TDAH, é crucial minimizar a exposição a essa
substância, especialmente em crianças. É recomendável:
· Evitar produtos que contenham BPA;
· Optar por alternativas como vidro ou aço inoxidável;
· Reduzir o uso de plásticos, especialmente quando
aquecidos.
Mais pesquisas são necessárias para determinar se a exposição ao BPA causa
TEA ou TDAH e para identificar os mecanismos moleculares envolvidos.
Considerações sobre a glucuronidação:
A capacidade de glucuronidação pode ser
influenciada por diversos fatores, incluindo idade, genética, doenças e
medicamentos. Bebês, gestantes, indivíduos com doenças hepáticas ou renais e
pessoas que tomam certos medicamentos podem ter uma capacidade reduzida de
eliminar toxinas como o BPA.
"O estudo levanta preocupações sobre a exposição ao BPA e
sua possível relação com TEA e TDAH. A desintoxicação
comprometida em crianças com essas condições pode aumentar sua suscetibilidade
aos efeitos nocivos do BPA. Mais pesquisas são
necessárias para confirmar essa relação e para desenvolver medidas de prevenção
e tratamento eficazes." Comenta Dr. Agrela
Dr. Fabiano de Abreu Agrela reforça a importância de pesquisas aprofundadas na área de neurodesenvolvimento. "Estudos como este abrem portas para tratamentos mais direcionados e eficazes, além de fomentar um melhor entendimento sobre as complexidades dos transtornos de desenvolvimento."
Referência do estudo:
Stein, T. P., Schluter, M. D., Steer, R. A., & Ming, X. (2023). Bisphenol-A and phthalate metabolism in children with neurodevelopmental disorders. PLoS ONE, 18(9), e0289841. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0289841
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