O preconceito é uma barreira para a
inclusão da diversidade. Mas, aquilo que fazemos com os nossos preconceitos e
crenças limitantes é uma barreira ainda maior e com mais interferência negativa
no processo.
Conformar-se com o fato de ser
preconceituoso é ainda pior que ter preconceito. Portanto, ao assumirmos que
somos todos preconceituosos em desconstrução, nos motivamos a buscar
informações que vão nos ajudar a tomar decisões mais inclusivas, respeitosas e
que valorizam as diferenças das pessoas. Isso é a sabedoria inclusiva. Também é
assim que vamos parar de usar essa realidade como desculpa para continuar a
oprimir pessoas por suas diferenças.
Apenas buscar informação não torna
ninguém inclusivo de fato. Só é possível atuar a favor da diversidade na sociedade
como um todo quando aliamos nossos conhecimentos com a experiência de conviver
com grupos sociais diferentes daqueles que estamos inseridos e com diferenças
que não estão em nós. Quanto mais sabedoria inclusiva mais conseguimos evitar
comportamentos que impedem a inclusão.
Esse é o maior desafio: sensibilizar a
sociedade para os benefícios da cultura de inclusão e que é potencializada
quando essa mudança ocorre por convicção e não por obrigação. Como mulher
cadeirante, já vi muita rampa ser construída apenas por imposição da lei ou em
decorrência de processos judiciais. Porém, em muitos casos, as rampas são
inclinadas demais, impossibilitando o acesso de quem tem baixa mobilidade ou
usa cadeira de rodas. Isso configura um desinteresse total em atender de fato a
quem precisa desse acesso.
Por outro lado, quando a necessidade
por acessibilidade é compreendida e consciente, temos transformações
estruturais de fato acessíveis e úteis para pessoas com deficiência.
A exclusão é um mau negócio. Um estudo
realizado em 2015 pela McKinsey que envolveu o Brasil, Reino Unido e Estados
Unidos já apontava que empresas com políticas estruturadas de incentivo à
diversidade apresentavam performance financeira 30% maior que as empresas que
não tinham.
Apesar da lei de Cotas, que já
completou 30 anos de vigência, de acordo com informações do Ministério
do Trabalho, 46,98% das empresas no Brasil ainda
não a cumprem. Os motivos são inúmeros e vão desde o preconceito contra a
capacidade laboral do profissional só por ele ter deficiência, o que não leva
em conta seu talento, até a falta de informação sobre acessibilidade
arquitetônica e tecnológica necessária para contratá-lo.
As empresas têm um papel fundamental
para não deixar que o preconceito impacte a cultura organizacional para
inclusão, a partir de três importantes atitudes inclusivas que ajudam a
promover um ambiente de segurança psicológica, acolhedor que reconhece,
incentiva e valoriza as diferenças das pessoas. São elas:
Conscientização:
oferecendo informação sobre todos os grupos sociais e inserir o tema como
indicador estratégico com métricas de desempenho para todos os setores;
Inclusão,
por meio de contratação de pessoas diversas respeitando a equidade e
flexibilizando exigências que excluíam e fazia o mundo corporativo ser tão
homogêneo;
Continuidade de
carreira, oferecendo plano de desenvolvimento
profissional para pessoas dos grupos sociais e medir a qualidade das
contratações por meio de acompanhamento contínuo e formal das pessoas diversas
e seus gestores diretos.
Incluir é sinônimo de respeitar. Para
isso precisamos quebrar as barreiras do preconceito trazendo cada vez mais
aliados às causas de inclusão da diversidade, engajar as pessoas com humanidade
e empatia.
Um estudo do criador do conceito de
Neuroliderança, David Rock, indica que o cérebro humano aciona a mesma área
quando uma pessoa sente dor física ou quando está se sentindo excluída. Isso
significa, da forma mais cruel, que a exclusão causa dor.
O Brasil deveria ser exemplo de inclusão,
dado sua dimensão territorial, por toda a miscigenação do povo e da cultura. No
entanto, mesmo com a diversidade no seu DNA, há 12 anos vem amargando o
primeiro lugar entre os países que mais matam transgêneros no mundo, de acordo
com dados divulgados pela Associação Nacional de transexuais e Travestis
(ANTRA).
A verdade é que a inclusão é não deixar
ninguém de fora. Agir contra atitudes opressoras e preconceituosas é derrubar
as barreiras que impedem o direito de qualquer pessoa aprender, trabalhar e
buscar conhecimento quando, onde e como ela quiser. É colocar de vez um ponto
final à intolerância desumana que se sobrepõe ao direito de uma pessoa,
independente de sua religião, idade, gênero, cor de pele, orientação sexual,
condição de deficiência etc. É melhorar o mundo conscientizando a humanidade
que a inclusão deve ser feita com as pessoas e nunca contra elas.
Carolina Ignarra - CEO do Grupo Talento Incluir, É conselheira executiva
da Integrare e mentora do programa “nós por elas” do IVG (Instituto Edna
Vasselo Goldoni). Também é palestrante em importantes congressos e eventos
sobre o tema, como: Women on Top, Gupy Connect, HR Results, Kennoby Talks, CBTD
(Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento), RH Congresso e autora
dos livros: "INCLUSÃO - Conceitos, histórias e talentos das pessoas com
deficiência" (disponível para download no site da Talento Incluir) e
"Maria de Rodas - delícias e desafios na maternidade de mulheres
cadeirantes”. É coautora do livro “Diversidade e Inclusão e suas dimensões”.
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