O Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central deve anunciar na noite de quarta-feira (15) uma nova
alta da Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira, determinada pelo
governo), se as expectativas
dos gestores se concretizarem, a Selic atingirá o patamar de 13,25% ao ano, o
mais alto desde janeiro de 2017. Isso representa em uma alta de 0,5 ponto percentual.
Com a alta, o que
mais se fala é no impacto disso nos investimentos, que tende a ser positivo.
Mas, infelizmente a grande maioria da população não é investidora, mas sim
endividada, e os reflexos dessa mudança são em todo o mercado. E, no dia
a dia da população consumidora, esses impactos são na maioria das vezes
negativos.
Isso acontece
porque, quando a taxa Selic aumenta, a tendência é que outras taxas de juros
também aumentem. Ou seja, quem precisa fazer parcelamentos, financiamento ou
tem que fazer dívidas tendem a pagar juros maiores, pagando consequentemente
uma conta maior.
E o resultado dessa
alta pode ser ainda mais alto, podendo impactar também nas dívidas já
existentes. Assim, imaginem os juros de cheque especial ou de cartão de
crédito, por exemplo, que já são exorbitantes? Esses devem aumentar ainda mais.
A alta também
impacta na realização de sonhos como o do carro novo e da casa própria,
aumentando os juros de crédito da população, como empréstimos e financiamentos,
complicando e limitando a capacidade de consumo. A orientação nessa hora é
analisar bem as contas e começar a trabalhar para uma maior estabilidade
financeira, não criando complicações futuras.
E esse processo
passa por uma mudança de comportamento em relação ao uso e à administração do
dinheiro, o que implicará no fim da era do consumo exacerbado e impulsivo. O
momento é de muita cautela e precaução, pois a saúde financeira e a realização
dos sonhos das famílias dependerão dessa conscientização. É preciso
reestruturar o orçamento financeiro e assumir o controle da situação, antes que
se torne insustentável.
Investimentos
Agora, como dito no
começo, aos que não estão endividados e, melhor ainda, possuem o costume de
poupar para realizar seus objetivos de vida, a alta da Selic é uma boa notícia.
Ficando mais rentáveis as aplicações de renda fixa em que o rendimento é
atrelado a essa taxa, como os CDBs pós-fixados, os fundos DI, as Letras
Financeiras do Tesouro (LFT) e títulos negociados via Tesouro Direto.
É hora de repensar
os investimentos, pois até pouco tempo atrás com a queda da taxa Selic a
recomendação era para buscar linhas que não estavam atreladas a essa. Agora
essa orientação muda. O que não significa que, quem tem um dinheiro em mãos
para investir, deve colocar integralmente nessas modalidades.
Sempre lembro que a
aplicação deve ser escolhida de acordo com o prazo do que você quer realizar
com esse dinheiro: curto (até um ano), médio (de um a dez anos) e longo prazo
(acima de dez anos). Em uma primeira análise, posso afirmar que, para
investimentos de curto prazo, é bastante interessante colocar o seu dinheiro
nestas opções. Lembrando que a tendência dos juros ainda será de alta nos
próximos meses, podendo chegar em um médio período a 10%.
Poupança
Uma característica a
parte é a poupança, sendo que já atingiu sua trava. Para entender melhor é
preciso lembrar que no passado o Governo Federal criou uma trava na relação
entre a poupança e a Selic.
Assim, quando a
Selic ultrapassa 8,5% ao ano, a poupança rende um teto de 0,5% ao mês mais a
taxa referencial (uma taxa calculada diariamente, também pelo governo, tendo
como base as taxas cobradas pelas 20 maiores instituições financeiras do país).
Ou seja, independentemente da Selic estar em 8,5%, 12% ou 20% o rendimento
continuará sendo 0,5%, mais a TR.
Contudo, isso
significa que a poupança deixou de ser um investimento interessante? Isso é
relativo, temos que lembrar que a parcela da população que investe no Brasil é
mínima e que grande parte dessas pessoas buscam a caderneta de poupança, assim,
por mais que o rendimento não seja tão interessante, falar que as pessoas não
devem aplicar o dinheiro nessa linha de investimento pode ser um ‘tiro no pé’.
A população não tem
educação financeira ainda, infelizmente em sua grande maioria, e não se sente
segura para investir, a poupança é um caminho seguro para essas pessoas, que
deve ser incentivado em conjunto com ensinamentos sobre o mundo financeiro, que
permitirá que as pessoas optem de forma inteligente por outras linhas.
Além disso, melhor
investir o dinheiro em uma linha de rendimento baixo do que deixar parado no
banco ou em casa, o que faz com que as perdas sejam muito maiores. Ou seja, á
preciso muito cuidado antes de criticar a poupança, isso deve ser feito de
forma inteligente, ensinando rumos e não descontruindo uma linha de tão grande
relevância para o brasileiro.
Reinaldo
Domingos - PhD em Educação Financeira e está à frente do canal Dinheiro à
Vista. Presidente da Associação
Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP
Educação Financeira. Autor de
diversos livros sobre o tema, como o best-seller Terapia Financeira.
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