O país é o segundo
do mundo nos casos da doença que, apesar de ser a enfermidade mais antiga da
história, desperta ainda hoje preconceito pela falta de informação e
conscientização
Enfermidade mais antiga na história da humanidade,
a hanseníase representa, ainda hoje, um problema de saúde pública no Brasil.
Com o segundo maior número de casos do mundo, nesta última década o País
ultrapassou 300 mil novos diagnósticos, ou 93% do total detectado nas Américas,
de acordo com o Ministério da Saúde. Como forma de promover a prevenção e
reverter estatísticas tão preocupantes, secretarias municipais de saúde de todo
o Brasil, que disponibilizam o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
mobilizam-se para realizar o Janeiro Roxo.
A campanha Janeiro Roxo tem o propósito de ampliar
o conhecimento da população sobre a hanseníase, cujos primeiros registros na
história da humanidade remontam a 400 a.C. Como doença tropical negligenciada e
infectocontagiosa de evolução crônica, atravessou os séculos envolta em
preconceito e estigmas.
“A hanseníase se manifesta principalmente por meio
de lesões na pele e sintomas neurológicos, como dormências e diminuição de
força nas mãos e nos pés”, afirma o dermatologista Dário Rosa. Segundo o
médico, a transmissão se dá pelo agente Mycobacterium leprae ou bacilo de
Hansen, por meio de contato próximo e prolongado entre as pessoas.
Os sinais mais evidentes da hanseníase, descreve o
médico, são manchas claras, róseas ou avermelhadas no corpo, geralmente com
diminuição ou ausência de sensibilidade ao calor, frio ou ao tato. “Também
observamos caroços na pele, dormências, inchaços nas mãos e nos pés,
formigamentos, entupimento nasal e problemas nos olhos”, completa.
Os especialistas classificam a hanseníase por
graus. O grau zero é caracterizado pela ausência de sequela. No grau 1, o
paciente perde a sensibilidade nas palmas das mãos e solas dos pés. No grau 2,
são notáveis sequelas físicas graves.
Dos mais de 300 mil brasileiros diagnosticados com
hanseníase na última década, pelo menos 7% estão no grau 2 e enfrentam sequelas
físicas incapacitantes, como perda dos dedos, da ponta do nariz e deformidades
nos pés e nas mãos.
Para a dermatologista Anelise Dutra, o Janeiro Roxo
é de extrema importância para a detecção e o tratamento precoces da hanseníase.
“Quanto mais cedo é diagnosticada, maiores as chances de cura e qualidade de
vida para o paciente”, afirma. A médica destaca ainda a contribuição da
campanha para reduzir o preconceito acerca da doença.
De acordo com Anelise, a hanseníase acometeu a
humanidade por centenas de anos sem que houvesse tratamento e condenou os
pacientes ao isolamento. Muitos foram confinados nos chamados “leprosários”.
“Atualmente, com tratamentos eficazes, a doença deixa de ser transmissível e o
paciente não precisa se afastar de sua rotina. Mas é preciso urgência para
diagnosticar e iniciar os procedimentos para se chegar à cura”, avalia.
Sigilo agora é lei
A Lei nº 14.289/2022, sancionada no dia 3 de
janeiro, determina a preservação do sigilo sobre a condição de infectados pelos
vírus da Aids (HIV), hepatites crônicas (HBV e HCV) e pelas pessoas com
hanseníase e tuberculose, pois representam barreiras sociais que impedem as
pessoas de desfrutarem a plena cidadania.
A proposta da lei considera que as discriminações
ocorrem a partir do momento em que a condição de saúde é conhecida. Isso
interfere no desempenho profissional e também em outras atividades da vida
pessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário