Estudos apontam que exercícios físicos reduzem os riscos de desenvolvimento, mortalidade e reincidência de diferentes tipos de câncer. Mas especialista alerta: pesquise um profissional que saiba prescrever treinos nessa situação. Exercícios incorretos podem provocar efeito contrário
Há evidências crescentes de que exercícios
físicos regulares podem influenciar no desenvolvimento do câncer ou na taxa de
crescimento do tumor, uma vez que a malignidade tenha iniciado. Dados publicado
no artigo ‘Physical Activity in Cancer Prevention and Survival: A Systematic
Review’ (Atividade Física na Prevenção e Sobrevivência do Câncer: uma
revisão sistemática), pela American College of Sports Medicine, que
analisou centenas de estudos epidemiológicos sobre o assunto, apontam que
praticantes de atividades físicas têm até 20% menos risco de desenvolver
variados tipos da doença. Canva
O trabalho ainda traz números da correlação entre
a atividade física e a sobrevida de pacientes. Estando em segundo lugar no
ranking de incidência entre homens no mundo, inclusive no Brasil, o câncer de
próstata pode ser menos fatal para os praticantes de exercícios físicos, que
têm 49% menos risco de mortalidade por diferentes causas e 38% pelo próprio
câncer. Para o câncer de mama, a redução é de 48% e 38%, respectivamente.
Aliado do tratamento - Mas por que é tão importante treinar quando é descoberta a
doença? De acordo com Fabio Ceschini, especialista em fisiologia do exercício e
fundador do Viajando pela
Fisiologia, projeto de capacitação
em prescrições de treinos, sobretudo de exercícios físicos para alunos com
doenças crônicas, uma das razões é que a contração muscular ocasionada pelo
exercício produz proteínas chamadas de Miocinas que têm função
anti-inflamatória e atuam em vários órgãos do corpo, como cérebro, fígado,
tecido adiposo, intestino, pâncreas e ossos, colaborando na prevenção e no
tratamento do câncer.
Ceschini também explica que o tratamento da
doença impacta na perda da capacidade de transporte de oxigênio, fadiga e risco
cardiovascular, o que significa menos autonomia funcional e, portanto, mais
sedentarismo, perda de massa muscular e maior suscetibilidade a outras doenças.
"O exercício físico nesse caso cumpre o papel de fortalecer o organismo
para responder aos impactos da doença e aos efeitos colaterais do medicamento
ou procedimentos no organismo. Há uma melhora significativa na incontinência
urinária, comum após a prostatectomia (cirurgia na próstata), por exemplo",
informa.
O especialista destaca ainda que o paciente que
continua treinando no período pós-tratamento tem menos risco de ter uma
reincidência do Câncer.
De olho no profissional - Ceschini orienta que a escolha do professor de educação
física nesta situação será crucial. Segundo ele, poucos profissionais da
área têm conhecimento específico sobre prescrição para doenças crônicas e,
principalmente, câncer. "No caso do câncer, se feito um treinamento
incorreto, com excesso de volume e intensidade, isso poderá alterar de forma
significativa o tratamento, interferindo na ação do fármaco ou mesmo
colaborando para o aumento de um tumor", frisa.
Em um levantamento realizado com 610
profissionais de educação física, de 74 academias de São Paulo, relacionado ao
conhecimento sobre prescrição de treinos para alunos que estão em tratamento do
câncer, apenas 9% disseram saber fazer sessões de treino aeróbico e 4%, de
resistência (como equipamentos, pesos livres e elásticos).
Treino nas fases de tratamento - contudo, o especialista alerta para a importância de escolher
um treinador que tenha domínio na prescrição de treinos para cada fase do
tratamento, pelo fato de serem períodos com objetivos e sobrecargas diferentes.
A seguir, cita algumas orientações:
Pré-tratamento: período de quando o
aluno recebe o diagnóstico até o começo do tratamento. Nesta fase, deve-se
buscar no exercício o preparo do corpo para o tratamento. Sabendo que a força,
o consumo de oxigênio e a aptidão do sistema cardiorrespiratório irão diminuir
na próxima fase, o profissional de educação física deverá dar um ‘up’
nessas funções para colocar o aluno em um nível superior de condicionamento com
relação a um indivíduo que não se preparou. A orientação é continuar com os
modelos de exercícios e de cargas - se o aluno faz musculação, continuar com
musculação. Natação, continuar com ela - e aguardar do profissional por um
treino de otimização daquelas funções e, especialmente, da imunidade.
Tratamento: aqui, o foco será atenuar os efeitos colaterais, como
inchaços e edemas, e a toxicidade do tratamento. O ideal é que cargas e
frequência de treino sejam diminuídas. Se o treino acontecia cinco vezes por
semana, o ideal é que passe para três ou menos, a depender de cada caso.
Cuidado também para não estressar excessivamente os músculos, pois a ação dos
medicamentos acarreta uma menor capacidade do músculo de autorregeneração. Para
os treinos o ideal é que sejam realizados em até 40 minutos. Segundo ele, após
esse tempo o aluno começa a ter muita resposta de hormônios inflamatórios
liberados no corpo. A orientação é que as sessões aconteçam apenas duas semanas
após o início do tratamento.
Pós-tratamento: o chamado ‘período de sobrevivência’, quando o paciente
recebe alta médica e tem um período de, pelo menos, cinco anos para saber se
houve reincidência. Nesta etapa, o treino é fundamental no processo de
recuperação. Caminhadas e pedaladas são indicadas com frequência de até três
vezes por semana, em dias alternados. As cargas de treino, tanto em volume
quanto em intensidade, podem retornar ao que era no período pré-tratamento,
porém com duração entre 30 minutos e 1 hora.
O especialista frisa que a condução dos treinos deve ser
feita com o conhecimento do médico que conduz o tratamento, conforme o estado
atual de saúde e as reações do aluno. A seguir, aborda cinco premissas para
um treino efetivo e seguro:
Racool studio / freepik
:•Manter seu médico informado sobre o treino prescrito. E
também mostrar seus exames de sangue (mesmo os de controle) para o profissional
de educação física. A exemplo do nível de plaquetas: se estiver muito baixo,
você é suscetível a hemorragia e não pode treinar.
•Observar sinais de intolerância ao
esforço. Havendo tontura, náusea, dor óssea, fadiga e fraqueza muscular: parar
imediatamente. São sinais de que os exercícios podem estar afetando
negativamente o tratamento.
•Evitar treino intenso e
exercícios de alto impacto ou que promovam dores de qualquer natureza.
•Evitar treinos em dias
consecutivos. O indicado é fazer intervalos de, pelo menos, 48 horas. Treinos
realizados segunda, terça e quarta, por exemplo, podem reduzir a eficiência do
sistema imunológico.
•Seguir fielmente as prescrições e interrupções necessárias. No caso do câncer
de mama, as mulheres devem aguardar de 8 a 12 semanas pós-cirurgia para retomar
os exercícios nos membros superiores
Nenhum comentário:
Postar um comentário